A Beleza das Pequenas Coisas

João Reis: “Consigo fazer da dor matéria combustível de trabalho. Apesar do palco poder ser um lugar de enorme solidão. Há muita carne viva"

É um dos atores mais prestigiados do país. Com um longo percurso no teatro, no cinema e na televisão, João Reis apresenta agora a série documental “Planeta A”, na RTP1, que o levou a viajar durante dois anos por vários lugares do mundo para falar de pobreza extrema e desigualdade, poluição ou aquecimento global. Entre as gravações da telenovela “Por ti”, na SIC, e a encenação da peça “A Praia”, de Peter Asmussen, em cena de 6 a 17 de julho, no Teatro São Luiz, em Lisboa, o ator afirma não dar importância aos novos palcos das redes sociais: “Claro que me incomoda que os atores e atrizes sejam medidos por ‘likes’. Há pessoas com um trabalho extraordinário que não têm visibilidade e outras que a têm, mas o seu trabalho fica reduzido a pó.” Ouçam-no no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, com Bernardo Mendonça

Quatro cafés e quatro horas de sono. Assim chegou a estúdio o ator e encenador João Reis, que se anda a desdobrar entre vários desafios profissionais. Na série documental “Planeta A”, que passa atualmente na RTP1, leva-nos semanalmente a vários locais do mundo para nos confrontar com o lado B do cartão-postal, aquele que é perturbador e incomoda, falando de pobreza extrema e desigualdade, poluição, crescimento exponencial da população, aquecimento global, dando a conhecer algumas propostas e ações que pretendem amenizar as tensões culturais, políticas, sociais e raciais que emergem em todo o lado. Serviço público ao mais alto nível, numa série maravilhosamente realizada por Jorge Pelicano, bem pensada, com um olhar crítico e informado, que está atualmente a ter lugar na televisão nacional.

Também na televisão, é possível ver João Reis na nova telenovela da SIC, “Por Ti”, onde dá pelo nome de Paulo, um antigo “Chef” de cozinha, que, com a sua mulher, interpretada pela Dalila Carmo, decide mudar de vida para uma aldeia em busca de melhor qualidade para os seus dias. Um papel que lhe assenta bem, já que na sua vida pessoal, é também ele quem cozinha lá em casa quando tem tempo. "Cozinhar relaxa-me."

Mas o que João Reis está agora a “cozinhar” é a encenação da peça teatral “A Praia”, do dinamarquês Peter Asmussen, que estará em cena…(tomem nota!) de 6 a 17 de julho, no Teatro São Luiz, em Lisboa. Um espetáculo que tem o seguinte mote: dois casais, Jan e Sanne e Benedikte e Verner, conhecem-se acidentalmente durante umas férias de verão, num hotel isolado no litoral da costa nórdica. “Os poucos hóspedes que aqui aparecem são sempre esquisitos e preferem manter-se isolados”, chega a dizer-se.

E sob a direção de João Reis este espetáculo levará o público por desassossegos, estranhas melancolias e ironias, sempre com necessidades de consolo impossíveis de satisfazer. Como nos conta neste episódio, o texto foi-lhe sugerido por Pedro Mexia e pela qualidade do enredo, João não hesitou em querer levar esta história para o palco. Neste podcast levanta mais o pano sobre ela.

É impossível sintetizar os tantos e tão interessantes papéis que João Reis tem feito na televisão, no teatro ou no cinema desde que se formou em 89, no IFICT. Só no cinema já trabalhou com João Canijo, Fernando Lopes, Rita Azevedo Gomes, Ruy Guerra, Manoel de Oliveira, Vicente Alves do Ó, Luis Filipe Rocha, Edgar Pêra, Tiago Guedes ou Pedro Sena Nunes.

E, no ano passado, foi uma das personagens a lutar pela vida em alto mar no premiado filme “Terra Nova”, de Artur Ribeiro, um épico de sobrevivência passado a bordo de um barco de pescadores, e filmado no temperamental mar do Norte, desde a Noruega até à Holanda, com base na obra literária ‘O Lugre’, de Bernardo Santareno.

Ser-se ator em Portugal é também sobreviver a mares revoltos e difíceis? E as suas inquietações têm aumentado ou diminuído ao longo dos anos? É de viver mais no passado, no presente ou no futuro? É-lhe perguntado. E, entre várias respostas, chega a dizer: “Viver muito no passado pode escangalhar o presente. Tento focar-me no presente. E na angústia de na minha profissão estar sempre no fio da navalha, não me poder projetar no futuro.”

Mas há muito, muito mais para ouvir e descobrir sobre João Reis, que chega a revelar algumas das músicas que o acompanham, a ler um poema com tradução de Alberto Pimenta e a trautear à capela uma canção que chegou a cantar em palco.

Como sabem, o genérico desta nova temporada é uma criação original da Joana Espadinha, com mistura de João Firmino (vocalista dos Cassete Pirata). Os retratos são da autoria de João Carlos Santos. E a edição áudio deste podcast é desta vez do João Luís Amorim.

Voltamos para a semana, com mais uma pessoa convidada. Até lá escrevam-nos, comentem, classifiquem o podcast e, já sabem, pratiquem a empatia e boas conversas!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: oemaildobernardomendonca@gmail.com

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