A Beleza das Pequenas Coisas

Vhils: “Quero humanizar o betão das cidades”

A sua arte é de rua. Mas é também dos melhores museus e galerias do mundo inteiro. Um mês antes da pandemia, Vhils inaugurou “Haze”, a primeira grande exposição individual num museu nos Estados Unidos, onde abordou “a neblina” e o “invisível nas cidades”. E lança agora a exposição “Momentum”, em Paris, onde reflete sobre o momento suspenso que vivemos. “O meu trabalho é uma arma que expõe coisas menos positivas que acontecem pelo mundo fora.” O Expresso esteve com o artista no Centro de Arte Contemporânea de Cincinnati, numa conversa que viajou pelos 20 anos da sua obra e que continuou meses depois para Vhils contar como o confinamento mexeu com a sua vida e a sua arte. O artista deixa um alerta: “Nestes tempos de disrupção e incerteza é importante que se olhe para a saúde mental como prioridade.” Bem vindos à 6ª temporada do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”

Estamos de volta às conversas, com a 6ª temporada do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, e arrancamos com um primeiro episódio especial. Especial porque é com Alexandre Farto, que assina as suas obras como Vhils e que é um dos artistas portugueses mais interventivos, inovadores, vibrantes e com maior reconhecimento internacional. Mas este episódio é especial também porque é feito de duas partes. Começa com uma conversa feita mais recentemente, no período de pós-confinamento, onde Alexandre conta como viveu estes últimos meses, o que o levou a homenagear aqueles que ele chama de ‘heróis desta pandemia’ - os profissionais de saúde - e onde chega a recordar o momento icónico que surpreendeu o país quando surgiu no direto da conta de Instagram de Bruno Nogueira, “Como é que o Bicho Mexe”, a celebrar a revolução de Abril esculpindo o rosto de Zeca Afonso na parede de sua casa. “A minha intervenção na madrugada do dia 25 de Abril foi um grito de celebração de uma liberdade que estava suspensa.”

E depois recuamos no tempo, até fevereiro deste ano, um mês antes da pandemia, data da inauguração da sua monumental exposição individual que ocupa dois pisos do Centro de Arte Contemporânea de Cincinnati, nos EUA, e pode ser visitada até julho de 2021. Vhils chamou-lhe Haze – que se pode traduzir por neblina ou bruma - e é nesse museu americano que falamos da neblina que ele encontra em tantas cidades do mundo inteiro. “Procuro o que é invisível nas cidades. O que sofre de uma certa neblina. Como uma parede de uma zona deprimida que depois de esculpida passa a ser olhada de forma diferente.” Vhils é seguramente o artista português que tem mais obras espalhadas no mundo à vista de todos. De Lisboa a Bogotá, de Paris a Xangai, de Moscovo a Londres, do Rio de Janeiro a Nova Iorque, Kiev, México, Cabo Verde ou Sidney.

São muitas, muitas as centenas de cidades nos cinco continentes onde tem revelado a sua arte nas fachadas dos edifícios, esculpindo rostos nas suas paredes, devolvendo-lhes humanidade, colocando o seu nome na linha da frente da arte urbana e contemporaneidade artística mundial. A sua assinatura feita de cinco letras há muito que significa inquietação, paixão, ativismo, transformação e humanização.

A cidade é sempre o seu ponto de partida e o motor de cada obra. E através de explosivos, escopro e martelo, tem criado em grande escala a fisionomia dos anónimos esquecidos ou ignorados nos subúrbios e selvas urbanas. Porque todos sabemos o quão desumana e solitária pode ser uma metrópole. “O meu trabalho é uma arma para atrair a atenção sobre causas e tensões que existem nas cidades. É nesse sentido que me vejo como uma arma que expõe coisas menos positivas que acontecem pelo mundo fora.” Nos últimos anos, Alexandre passou a alternar os seus rostos anónimos com outros bem conhecidos de todos, que também passou a esculpir nas paredes e edifícios das cidades. Como foi o caso do poeta, político e pensador Amílcar Cabral, na cidade da Praia, em Cabo Verde; da cantora Cesária Évora, no Mindelo; ou da vereadora e ativista assassinada no Rio de Janeiro, Marielle Franco, que foi imortalizada por si num mural do Panorâmico de Monsanto, em Lisboa.

E este mês Vhils acaba de inaugurar uma nova exposição, intitulada “Momentum”, que pode ser visitada até 23 de dezembro na galeria Danyzs, em Paris, onde junta instalações luminosas e outras experiências que reflectem o seu trabalho artístico durante o confinamento e este momento suspenso que vivemos.

Neste episódio, Vhils faz um flash back até aos tempos em que era um miúdo de 10 anos a viver na margem sul de Lisboa interessado pela cultura do grafitti, época em que começa a pintar com latas de spray em comboios e murais. E assim entra na carruagem da arte urbana que o leva a viajar pela Europa.

No rumo desta conversa partilha as três cidades, além de Lisboa, onde gostaria de viver e fala-nos de um dos seus maiores desejos por cumprir: o cinema. No final também nos dá a ouvir algumas das músicas que andam a mexer com ele.

Isto e muito mais para ouvir neste episódio do podcast "A Beleza das Pequenas Coisas". Desta vez, a edição áudio é do Rúben Tiago Pereira. A fotografia é do Fernando Guerra e o genérico é uma criação original do músico Luís Severo. Mantemos o desafio a todos os ouvintes para que enviem as suas opiniões, sugestões, histórias e comentários para o seguinte email: abelezadaspequenascoisas@impresa.pt

Assinar no Apple Podcasts: http://apple.co/2mCAbq2

Assinar no Soundcloud: http://bit.ly/2nMRpRL

Estamos também no Spotify. Se usar Android, basta pesquisar A Beleza das Pequenas Coisas na sua aplicação

Fernando Guerra

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: oemaildobernardomendonca@gmail.com

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