Ir ao futuro e voltar
Uma reflexão, em jeito de metáfora, sobre o papel da banca no presente e no futuro
Professor e Presidente da Associação Portuguesa de Bancos
Uma reflexão, em jeito de metáfora, sobre o papel da banca no presente e no futuro
Já passaram mais de 30 anos desde que Marty McFly e Doc Emmet Brown fascinavam espectadores com as idas e vindas ao futuro e ao passado, a bordo do seu DMC DeLorean, adicionado de um “capacitador de fluxo”.
Mas viajar no tempo não é um exclusivo da ficção científica. É uma realidade acessível a todos. E os concorrentes do mítico DeLorean modificado são os bancos, virtuais máquinas ou portais do tempo, que permitem ir do presente ao futuro e voltar.
Veja-se, por exemplo, o problema de um jovem que precisa de comprar casa e não tem dinheiro para o efeito – que é a situação mais comum. Sabe que os rendimentos da vida ativa que tem pela frente lhe fornecerão o capital necessário. Mas também sabe que essa sua capacidade financeira se situa no futuro distante, enquanto a sua necessidade de habitação está no presente.
Como resolver o problema? Como colmatar o hiato temporal que separa a necessidade presente da capacidade futura? como conseguir aceder ao dinheiro de que irá dispor no futuro para comprar a casa de que precisa hoje? Vai ao banco!
Ao adiantar-lhe hoje esse dinheiro, através do crédito, o banco funciona como se fosse um portal do tempo, que permite ao jovem em causa ir ao futuro buscar as disponibilidades financeiras que um dia serão suas e voltar com elas ao presente para as usar agora, quando lhe fazem falta.
Portugal é um dos países europeus onde estas viagens no tempo, com o “capacitador de fluxo” que é o crédito bancário, mais contribuem para o acesso à habitação. Não andará muito longe da verdade considerar que uns 2/3 das famílias portuguesas atuais acederam à habitação por esta via. O que não pode deixar de reconhecer aos bancos um importante papel como agentes de capacitação social. Sobretudo dos menos capacitados à partida. E que são, em geral, os jovens, em começo de vida própria.
E não é só para a compra de habitação que os bancos permitem às pessoas viajar no tempo. A mesma viagem pode ser disponibilizada à satisfação de outras necessidades onde as famílias precisam de “aceder” aos rendimentos futuros para satisfazer apelos mais imediatos: desde a compra de carro, a viagens, a estudos, a problemas de saúde, ou seja o que for. Também para estas necessidades, os bancos são capacitadores sociais.
E este é um portal disponível às demais atividades económicas que se confrontam com os mesmos desfasamentos temporais entre necessidades e capacidades.
O crescimento da economia depende da capacidade de investimento (e da sua eficiência, é claro). A capacidade de investimento, geradora da riqueza futura, por sua vez, depende de se conseguir mobilizar o rendimento que a máquina produtiva irá criar no futuro para que, hoje, se possa pôr a máquina em movimento. Mais uma vez, são os bancos, através do crédito, quem proporciona às empresas a viagem no tempo que permite ir ao futuro buscar esse rendimento para cobrir a necessidade de investir hoje.
Outro tema recorrente da ficção científica é o da existência de futuros alternativos. Estas viagens no tempo também proporcionam a escolha do melhor dos futuros alternativos. Os empreendedores, por exemplo, têm, pelo menos, dois futuros alternativos, consoante consigam, ou não, concretizar os seus projetos de investimento: sem eles, a sociedade empobrece; com eles, a sociedade prospera. E são os bancos que oferecem a chave para aceder ao caminho que conduz ao futuro mais promissor.
Expandindo a metáfora, um empresário, um gestor, ou um político podem imaginar um futuro promissor originado num projeto que tenham em mente, com a correspondente criação de riqueza e de empregos. Esse é um futuro possível. Mas se não dispuser da ponte inter-temporal do crédito bancário, que lhe permita ir a esse futuro imaginado buscar os recursos necessários para o investimento que tem de ser feito agora, esse futuro imaginado não se materializará. Em seu lugar, tornar-se-á realidade um futuro alternativo, onde não se criam os empregos, não se pagam os salários, não se fazem as encomendas a fornecedores, não se oferecem novos produtos ou serviços a clientes, nem se pagam os correspondentes impostos que o futuro imaginado prometia oferecer.
Ou seja, sem os bancos, o futuro realizável acaba mais pobre do que o futuro desejado.
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