Foi António Costa que decidiu amarrar a sua credibilidade a um ministro fragilizado. Que escolheu para seu braço direito Vítor Escária, que vinha do centro de negócios do gabinete de Sócrates. Que permitiu que “melhor amigo” fosse cargo político, deixando que Lacerda Machado se tornasse pivot informal de tantos negócios do Estado. Depois do primeiro ser arguido e dos outros dois serem detidos, a margem de manobra para Costa ficar no lugar era baixíssima. Até porque tinha todos os dados disponíveis, quando os escolheu. Para ser benevolente, foi, no mínimo, negligência consciente. Ainda assim, a saída dependia da sua avaliação política. O parágrafo que termina o comunicado da PGR fechou qualquer decisão. Ao escrevê-lo com uma assassina vacuidade, a PGR disse ao País que as suspeitas diretas sobre o primeiro-ministro eram suficientemente graves e sólidas para serem públicas. Nem é comparável a Sócrates. É uma suspeita expressa pela PGR sobre um primeiro-ministro em funções.
A confiança nas instituições depende de uma dose saudável de desconfiança. Basta recordar Miguel Macedo e Azeredo Lopes, ter acompanhado o circo mediático das buscas às sedes do PSD e perceber que a PJ foi afastada desta investigação por guerras políticas no sistema judicial para não esquecer que os magistrados vivem no mesmo mundo impuro e mesquinho que nós. Por isso, no dia em que a frase de um procurador torna inevitável a queda de um governo sem que corresponda uma enorme solidez nos indícios entregamos o poder político a quem não o pode ter.
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