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Opinião

A empresa-mundo e o economista na sua ilha

A empresa-mundo e o economista na sua ilha

Francisco Louçã

Economista, Professor Catedrático

O pesadelo de saber tudo sobre toda a gente é um grande objetivo comercial e é de lembrar que esta é uma realidade que a história do capitalismo moderno nunca conhecera até hoje

Comemorou-se há poucos dias o 25º aniversário da Google, lembrando o conto de fadas de dois estudantes que lançaram o empreendimento e o seu sucesso universal. Algo ensombrada pela ultrapassagem por outras empresas em aplicações de inteligência artificial, o seu principal produto, a Google pode, no entanto, vangloriar-se de fazer parte de um quarteto de empresas que têm como clientes grande parte da população mundial. Criou para isso uma ideologia: Eric Schmidt, o CEO que lançou a Google no seu período heroico, apresentava o universo online como “o maior espaço não-governado do mundo”.

Claro que é uma forma de dizer. De facto, estas empresas exploram os dados comportamentais dos utilizadores e oferecem-lhes um simulacro de vida (o entretenimento, a comunicação, o trabalho, a opinião, em suma, o tempo total da atenção). Desse modo, elas são governo do mundo, jamais alguma empresa teve tanto poder sobre os seus clientes. Exercem-no de forma pouco subtil: em 2015, foi descoberto que quem visitasse os 100 sítios mais populares importaria seis mil cookies para o seu computador, quase todos sem relação com a pesquisa e 92% dos quais enviando dados para a Google, e esse processo tornou-se cada vez mais intrusivo e sofisticado. Esta passagem do discurso sobre a liberdade individual para a submissão a um controlo total foi o tema de um notável livro de 2020 de Shoshana Zuboff, professora na Harvard Business School, “A Era do Capitalismo de Vigilância”, como já tinha sido do de Byung-Chul Han, “No Enxame: Reflexões sobre o Digital”, ambos na Relógio D’Água, escritos ainda antes do anúncio do Metaverso, por Zuckerberg, e de Musk ter engolido o Twitter.

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