Exclusivo

Opinião

A etiqueta virou ‘woke’

Ter modos não é saber usar o garfo. É não ofender alguém muito suscetível com o meu privilégio

Então, vamos lá a ver… Aqui temos: regras de etiqueta para 2023. Nº 35: “Não se dirija a duas ou mais mulheres como ‘senhoras’.” Nº 42: “Evite eufemismos cliché e vagos que advêm do seu privilégio.” Nº 48: “Ainda pode salvar-se numa conversa se tiver errado no género com que uma pessoa se identifica.” Nº 49: “Se constatar que alguém está a errar na identificação de género de uma pessoa, não fique calado.” Nº 61: “Pessoas brancas não devem cantar obscenidades raciais (nem ‘variações’) quando estão no karaoke.” Nº 125: “Pergunte antes de enviar uma foto explícita.” Não, isto é não humor, nem aqui há qualquer pontada de sátira. São as regras ditadas pela “New York Magazine” para 2023. É um clássico, pois ditam o zeitgeist, o ar do tempo. E todos os anos são aguardadas. Em 2018, a questão maior foi dividir a conta em encontros românticos. Em 2019 regulou-se a omnipresença de smartphones. Nos anos seguintes, a pandemia e a covid concentraram as atenções das regras comportamentais. Neste ano constatamos que o que mais ordena é a claustrofobia das redes sociais e regras emanadas por uma suposta existência de entes hipersensíveis que se ofendem dramaticamente, mas são capazes de emanar cancelamentos e medos que foram levados ao extremo nos campus universitários, tendo sido repassados para os departamentos de Recursos Humanos das empresas. Sim, o woke no sentido pejorativo do termo é hoje o jardim de onde se colhem os cânones que supostamente determinam o modo como devemos viver harmoniosamente em sociedade. Exato, é lá nos EUA. Mas alguma coisa há de aqui chegar. Vão por mim.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate