O populismo é um conceito de significados múltiplos e contraditórios e a sua única consistência é a forma de atribuição: esclarece mais sobre quem designa do que sobre o seu objeto
Num raro arroubo doutrinário, o primeiro-ministro acusou há uns dias um seu aliado de ser “populista”. O crime era ter-se queixado do “pântano”. Foi admoestado, a palavra convocaria espíritos malignos. A partir dessa deixa, o Governo repetiu o refrão, tudo na oposição é “populista”. Não gostam do favor à banca nos Certificados de Aforro? Populismo. Queriam saber com que base legal é que o SIS interveio? Populismo. E da transferência dos partos para o privado? Populisíssimo. Assim sendo, entrando de rompante no arsenal adjetivante do Governo, a palavra merece consideração. A minha é esta: como foi usada, não significa nada; onde aparece reclamando algum conteúdo, é frequentemente tão ambígua que confunde em vez de esclarecer; e o único populismo que a Europa realmente viveu foram os fascismos.
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