Opinião

Organizações e profissionais dão voz contra o impacto na saúde das políticas ambientais

Luís Campos (presidente do CPSA), João Queiroz e Melo (vice-presidente do CPSA) e José Victor Malheiros (secretário-geral do CPSA)

Recém criado Conselho Português para Saúde e Ambiente vai atuar contra o “impacto significativo na saúde das populações que as alterações climáticas e degradação dos ecossistemas estão a provocar”. Peritos avisam: “Alterações estão a suceder-se a um ritmo que ameaça o próprio futuro da humanidade”

O Conselho Português para Saúde e Ambiente (CPSA) é uma associação de organizações e profissionais ligados à saúde, que pretende criar sinergias e dar uma voz comum em relação ao profundo impacto na saúde das populações das alterações climáticas e da degradação ambiental, bem como do contributo dos cuidados de saúde para essas alterações.

O CPSA foi criado em outubro de 2022 e já teve a adesão de 54 organizações das mais importantes ligadas à saúde, incluindo ordens profissionais, associações, laboratórios da indústria farmacêutica, sociedades científicas, grupos privados de saúde, instituições académicas e outras, afirmando-se como uma das associações mais abrangentes desta área.

Qual a motivação para a criação do CPSA? Existe evidência avassaladora de que as alterações climáticas e a degradação dos ecossistemas já estão a ter um impacto significativo na saúde das populações. Essas alterações estão a suceder a um ritmo que ameaça o próprio futuro da humanidade. No entanto as políticas atuais estão longe de conseguir limitar o aquecimento global a 1,5º C até 2100 ─ objetivo estabelecido em 2015 no Acordo de Paris. Por outro lado, sabe-se que o sector da saúde tem uma significativa pegada ecológica ─ sendo responsável, em Portugal, por cercada de 4,8% da emissão dos gases com efeito de estufa ─, e está ainda pouco preparado para fazer face à transição epidemiológica induzida pelas alterações climáticas e a eventos que serão cada vez mais frequentes, tais como novas pandemias, inundações, ondas de calor, secas e incêndios.

Segundo o último relatório do IPCC, de março de 2023, a reversão desta ameaça ainda parece possível, mas depende das decisões de cada país, de cada organização e de cada pessoa nos próximos anos. Os profissionais de saúde ─ como defensores dos doentes – , têm a obrigação ética de se envolver neste alerta global. A Organização Mundial da Saúde e várias associações e sociedades científicas em diferentes países já apelaram a este envolvimento. A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna foi a primeira sociedade desta especialidade, a nível mundial, a fazer este apelo (2017), tendo também sido a catalisadora de um apelo semelhante da European Federation of Internal Medicine publicado no European Journal of Internal Medicine (outubro de 2022).

O CPSA perfilha o conceito de One Health, entendendo que a saúde humana está interligada com a saúde animal, a saúde das plantas, e o ambiente. Por essa razão agrega organizações destas diferentes áreas, na convicção de que um problema tão complexo não requere soluções multi e transdisciplinares.

O CPSA irá tomar posições públicas sobre áreas problemáticas e leis obsoletas na área da saúde e ambiente, pretendendo ser parceiro nas decisões políticas que respeitam a estas áreas, nomeadamente na redução da pegada ecológica do sector da saúde; Identificar e publicar boas práticas de sustentabilidade ambiental a nível dos vários sectores de atividade; promover a sensibilização dos cidadãos e dos profissionais de saúde e a sua formação; apoiar a capacitação dos serviços de saúde para responder à transição epidemiológica induzida pelas alterações climáticas e a degradação ambiental e a eventos inesperados de saúde pública; e incentivar a investigação nestas áreas.

Move-nos a consciência de que iremos entregar este planeta às próximas gerações em pior estado do que o que recebemos dos nossos pais. Não podemos almejar um medicina do futuro sem garantir o futuro dos nossos doentes e não temos o direito de assegurar o nosso bem-estar à custa de comprometer o futuro das novas gerações, que são as dos nossos filhos e dos nossos netos.

António Guterres disse na abertura da COP27 que” Estamos na autoestrada para o inferno climático e temos o pé no acelerador”. Robert Swan, o primeiro homem a chegar aos dois polos, afirmou que “A maior ameaça ao nosso planeta é a crença de que outra pessoa o vai salvar”. O Conselho Português para a Saúde e Ambiente está empenhado em contribuir para que as próximas gerações tenham direito uma vida feliz e saudável. Estamos abertos à adesão de mais organizações ou pessoas que se queiram juntar a nós neste propósito.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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