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Opinião

A Igreja Católica ressuscita das suas trevas? Não

A Igreja Católica ressuscita das suas trevas? Não

Francisco Louçã

Economista, Professor Catedrático

Serão só casos individuais multiplicados pela perversidade avulsa? Poderá a Igreja Católica ressuscitar do seu pecado? Não. Enquanto considerarem as mulheres como seres inferiores e a castidade a elevação espiritual, os detentores desse poder de suspeição serão sempre o lugar onde os abusadores florescerão

Pouco depois de Lutero ter afixado as suas teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, em 1517, Erasmo, um dos grandes daquela época, enviou uma cópia do texto ao seu grande amigo Thomas More. Ambos partilhavam a mesma curiosidade em relação áquele protesto, que nascera do repúdio da venda de indulgências, a mesquinha comercialização da crença para financiar a Igreja Católica. More tinha acabado de publicar, com a colaboração ativa de Erasmo, a sua “Utopia”, que anunciava uma ilha desconhecida e feliz em que a população partilhava uma crença deísta, mas recusava a intolerância religiosa. Erasmo tinha também terminado “A Educação de um Príncipe Cristão”, destinado a ensinar a tolerância ao futuro imperador Carlos V.

Estes espíritos renascentistas foram, no entanto, atraiçoados pela vertigem da História: com o conflito religioso, que depois tomou a forma da Guerra dos Trinta Anos, Erasmo manteve-se distante do cisma protestante e não abdicou do papismo de que desconfiava, ao passo que More, alto funcionário da corte de Henrique VIII e mais tarde seu chanceler, teve de escrever o texto do seu rei contra Lutero, embora mais tarde se tivesse oposto a Henrique quanto à rutura que formou a Igreja Anglicana, e aí deixou a sua vida.

O que começou como um conflito dilacerante sobre a forma como o Vaticano organizou a corrupção da fé para proveitos financeiros alargou-se desde logo a divergências sobre a interpretação dos textos bíblicos e sobre a natureza da Igreja. Lutero casou-se e isso foi usado, incluindo pelo tolerante Thomas More, como a prova de que era o “anti-Cristo”. Longa vai a história de dissidências que discutem como se deve organizar uma comunidade religiosa e a sua autoridade.

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