A vitória de Lula dá um alívio de poucos dias. Primeiro, porque exibe um país dividido a meio. Depois, porque Lula terá péssimas condições para governar. Muitos votaram em Lula porque odeiam Bolsonaro e vice-versa. Mas o ódio bolsonarista é um programa político. A passagem pela cúpula do Estado serve como disseminador rápido do ódio, da insegurança e do cansaço com a democracia. Depois de por lá passarem, é difícil derrotá-los
Deixem começar este texto, talvez demasiado longo para uma análise eleitoral, com uma viagem ao passado.
O ódio a Lula da Silva, que saiu do Palácio do Planalto com as mais altas taxas de popularidade de qualquer presidente brasileiro, começou muito depois de Lula. Ou pelo menos saiu do espaço confinado dos privilegiados muito depois dele sair de Brasília. Na realidade, nasceu como ódio ao PT. Teve como rastilho o início de uma crise económica, depois de uma década de crescimento e prosperidade, a que Dilma Rousseff não soube responder e em manifestações apartidárias em que a esquerda também participou. Mas esse não era o seu momento e a direita, sobretudo a extrema, tomou conta delas.
Depois de Sérgio Moro ter ido para ministro da Justiça de Bolsonaro, de se terem conhecido as provas de uma operação concertada entre a acusação e o juiz, do juiz e do procurador terem concorrido a estas eleições e de se mobilizarem pela reeleição do Presidente (depois de Moro o ter acusado de interferir nas investigações da Polícia Federal que envolviam aliados ou familiares), só por má-fé ou ignorância se podem levar a sério os processos contra Lula. Processos sobre os quais houve menos provas ou indícios do que as que já existem sobre a família Bolsonaro. Veremos o que o futuro lhe reserva.
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