16 setembro 2022 0:04
Em junho, já em surto inflacionista, Costa queria aumentos de 20% até ao final da legislatura. Agora, propõe uma perda de 8% para os funcionários públicos, em dois anos. Em julho, ia cumprir a fórmula para o aumento das pensões. Agora, quer poupar mais do que Passos
16 setembro 2022 0:04
Depois de uma semana a driblar a clareza, António Costa usou, na entrevista à CNN, outro truque retórico, dizendo que não se pode permitir que uma inflação atípica tenha um efeito permanente no aumento das pensões. A não ser que venha deflação, este pico de inflação terá, se pensões e salários não o acompanharem, um efeito permanente — os preços não recuam porque a inflação diminui. Nas reformas, será uma queda nos custos previsíveis bem superior (quase o dobro) à redução de €600 milhões que Passos Coelho propunha em 2015. E já nem falo da incógnita sobre a atualização do IAS, base para os apoios sociais. O Estado social depende de um contrato de confiança. Quando esse contrato é violado, foge quem pode e o resto fica com serviços públicos degradados. Estamos a ver isso no SNS. Sem qualquer estudo consistente e depois de anos sucessivos de saldos positivos e de crescimento das reservas financeiras do sistema, agita-se o fantasma da insustentabilidade. Um debate que, em vez de descredibilizar um sistema sólido para justificar o inaceitável, devia ser sério e rigoroso. Devia concentrar-se nas fontes de financiamento e não no corte das prestações ou na entrega de parte do sistema aos mercados de capitais. Não há confiança sem mínimos de previsibilidade. Ao contrário dos trabalhadores, os pensionistas não têm forma de procurar rendimentos extra. Por isso, um corte imprevisto tem efeitos dramáticos. Passos não o percebeu e o PSD perdeu por muito tempo o voto dos reformados. Costa segue-lhe o exemplo.