Mais de 21 meses após a declaração da pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a 11 de março de 2020, e em plena 5.ª onda pandémica, continuamos a ser surpreendidos pela capacidade de evolução e de mutação do vírus SARS-CoV-2. Se já sabemos todas as medidas que permitem controlar a pandemia, o número crescente de casos pela variante Ómicron vem, mais uma vez, testar o modo como lidamos com a incerteza. Neste contexto, vimos contribuir com cinco medidas da maior necessidade:
1. Indicador de Avaliação da Pandemia Em julho passado, a Ordem dos Médicos e o Instituto Superior Técnico apresentaram um novo indicador de avaliação da pandemia, que restabeleceu a ligação, perdida com a vacinação, entre atividade e gravidade. Uma ligação que não existe na atual matriz de risco e que dificulta a monitorização, a comunicação e a coerência necessárias à compreensão e envolvimento da população.
2. Vacinação de reforço Já quase ninguém tem dúvidas do impacto da vacinação, bem evidente no estudo envolvendo a OMS e o ECDC, que confirmou que a vacinação no nosso país, entre dezembro de 2020 e novembro de 2021, salvou a vida de 14.222 pessoas com 60 ou mais anos. A prova de que as vacinas funcionam e são a solução. Sem serem perfeitas ou de efeito permanente, as vacinas previnem a infeção, diminuem a transmissão e, sobretudo, evitam as formas graves de doença, apesar de terem sido desenvolvidas para a estirpe ancestral de Wuhan, que já foi substituída por diversas variantes. É imperioso acelerar e alargar a vacinação de reforço e criar as condições que permitam vacinar os mais vulneráveis com a maior brevidade e idealmente até duas semanas antes do Natal. Se já começámos a ver os efeitos do reforço na proteção da população mais idosa, de que estamos à espera para alargar aos outros grupos? Veja-se o exemplo do Reino Unido, que vai vacinar 25 milhões de pessoas nos próximos 2 meses, incluindo o reforço de toda a população adulta 3 meses após a 2ª toma e uma 4ª toma nos imunocomprometidos.
3. Premiar os vacinados Numa altura em que há um aumento exponencial na procura de testes, não se justifica a necessidade de testagem para complementar o certificado covid em vacinados com dose de reforço e assintomáticos. Uma medida simples para incentivar a vacinação e racionalizar a utilização de um bem precioso. De igual modo, não faz sentido manter baixas subsidiadas a 100% por doença ou quarentena em pessoas não vacinadas, que transitariam para o regime geral, mantendo-se a situação de exceção apenas para quem tiver esquema vacinal completo.
4. Novos fármacos antivirais e anticorpos neutralizantes monoclonais Perante a ameaça da Ómicron e de outras variantes, é fundamental o acesso em tempo útil aos novos fármacos antivirais e aos anticorpos neutralizantes monoclonais, que já demonstraram manter a eficácia na prevenção da infeção, da necessidade de hospitalização e na mortalidade.
5. Condição pós-covid-19 (ou Long Covid) As repercussões das queixas múltiplas e persistentes mais de 12 semanas após o diagnóstico e que se estima que afetem pelos menos 10% dos doentes, ou seja mais de 100.000 pessoas em Portugal, obrigam a uma necessidade de antecipação, planeamento e organização, de modo a salvaguardar a melhor abordagem e recuperação destes doentes, bem como a integridade e sustentabilidade das estruturas de saúde. É imperioso começar a preparar em Portugal centros de referência para a Condição Pós-covid-19, à semelhança do que já se faz noutros países.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt