Opinião

Não perguntes o que podemos fazer, pergunta o que devemos fazer...

Se já sabemos todas as medidas que permitem controlar a pandemia, o número crescente de casos pela variante Ómicron vem, mais uma vez, testar o modo como lidamos com a incerteza. Neste contexto, oito especialistas de áreas diferentes propõem, em nome da Ordem dos Médicos e do Instituto Superior Técnico, cinco medidas que consideram da maior necessidade

Filipe Froes, Henrique Oliveira, Miguel Guimarães, Rogério Colaço, Carlos Robalo Cordeiro, Ana Serro, António Diniz, José Rui Figueira (pela Ordem dos Médicos e Instituto Superior Técnico)

Mais de 21 meses após a declaração da pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a 11 de março de 2020, e em plena 5.ª onda pandémica, continuamos a ser surpreendidos pela capacidade de evolução e de mutação do vírus SARS-CoV-2. Se já sabemos todas as medidas que permitem controlar a pandemia, o número crescente de casos pela variante Ómicron vem, mais uma vez, testar o modo como lidamos com a incerteza. Neste contexto, vimos contribuir com cinco medidas da maior necessidade:

1. Indicador de Avaliação da Pandemia Em julho passado, a Ordem dos Médicos e o Instituto Superior Técnico apresentaram um novo indicador de avaliação da pandemia, que restabeleceu a ligação, perdida com a vacinação, entre atividade e gravidade. Uma ligação que não existe na atual matriz de risco e que dificulta a monitorização, a comunicação e a coerência necessárias à compreensão e envolvimento da população.

2. Vacinação de reforço Já quase ninguém tem dúvidas do impacto da vacinação, bem evidente no estudo envolvendo a OMS e o ECDC, que confirmou que a vacinação no nosso país, entre dezembro de 2020 e novembro de 2021, salvou a vida de 14.222 pessoas com 60 ou mais anos. A prova de que as vacinas funcionam e são a solução. Sem serem perfeitas ou de efeito permanente, as vacinas previnem a infeção, diminuem a transmissão e, sobretudo, evitam as formas graves de doença, apesar de terem sido desenvolvidas para a estirpe ancestral de Wuhan, que já foi substituída por diversas variantes. É imperioso acelerar e alargar a vacinação de reforço e criar as condições que permitam vacinar os mais vulneráveis com a maior brevidade e idealmente até duas semanas antes do Natal. Se já começámos a ver os efeitos do reforço na proteção da população mais idosa, de que estamos à espera para alargar aos outros grupos? Veja-se o exemplo do Reino Unido, que vai vacinar 25 milhões de pessoas nos próximos 2 meses, incluindo o reforço de toda a população adulta 3 meses após a 2ª toma e uma 4ª toma nos imunocomprometidos.

3. Premiar os vacinados Numa altura em que há um aumento exponencial na procura de testes, não se justifica a necessidade de testagem para complementar o certificado covid em vacinados com dose de reforço e assintomáticos. Uma medida simples para incentivar a vacinação e racionalizar a utilização de um bem precioso. De igual modo, não faz sentido manter baixas subsidiadas a 100% por doença ou quarentena em pessoas não vacinadas, que transitariam para o regime geral, mantendo-se a situação de exceção apenas para quem tiver esquema vacinal completo.

4. Novos fármacos antivirais e anticorpos neutralizantes monoclonais Perante a ameaça da Ómicron e de outras variantes, é fundamental o acesso em tempo útil aos novos fármacos antivirais e aos anticorpos neutralizantes monoclonais, que já demonstraram manter a eficácia na prevenção da infeção, da necessidade de hospitalização e na mortalidade.

5. Condição pós-covid-19 (ou Long Covid) As repercussões das queixas múltiplas e persistentes mais de 12 semanas após o diagnóstico e que se estima que afetem pelos menos 10% dos doentes, ou seja mais de 100.000 pessoas em Portugal, obrigam a uma necessidade de antecipação, planeamento e organização, de modo a salvaguardar a melhor abordagem e recuperação destes doentes, bem como a integridade e sustentabilidade das estruturas de saúde. É imperioso começar a preparar em Portugal centros de referência para a Condição Pós-covid-19, à semelhança do que já se faz noutros países.

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