Precisamos de uma sabedoria capaz de integrar a experiência da morte no horizonte da vida
ernando Pessoa escreveu que “morrer é só não ser visto” e que “a morte é a curva da estrada”. São imagens que nos adentram no mistério da morte e que o poeta descreve não como uma crise inominável, mas como um elemento morfológico da estrada — “a curva” — ou uma condição do seu percurso — a maior ou menor visibilidade. Sobre a morte pode-se falar portanto, nem que seja por metáforas, mas colocando-a justamente num discurso acerca do grande caminho, do único caminho que é a vida. A tradição bíblica exorta ao pensamento sobre a morte como lugar referencial de construção da nossa humanidade: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para podermos chegar ao coração da sabedoria” (Salmo 90, 12). E tem razão. Porque precisamos de uma sabedoria capaz de integrar a experiência da morte no horizonte da vida. Precisamos de uma educação interior que nos permita evocá-la como, por exemplo, o fazia Francisco de Assis, chamando-a “irmã morte”, significando com isso uma reconciliação profunda do vivente com todas as etapas do seu destino. Enchemos a existência de oposições inúteis e inventamos fronteiras que afinal não existem, quando a vida, a nossa vida, desde a conceção até a morte natural, é um fluxo indivisível e único.
Este é um artigo exclusivo. Se é assinante clique AQUI para continuar a ler (também pode usar o código que está na capa da revista E do Expresso).
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt