O fim de semana são dois dias

Quem conta um conto acrescenta um ponto aos nossos dias

Quem conta um conto acrescenta um ponto aos nossos dias

Lia Pereira

Jornalista

A capa do quarto álbum de Rubel, músico brasileiro nascido em 1991

Boa tarde.

Nas quinze histórias que Sérgio Godinho conta em “Como Se Não Houvesse Amanhã”, por vezes o dia seguinte não chega mesmo. A explicação surge no subtítulo do livro, “Histórias Suicidas”, e é fiel ao teor destas páginas. Da pena de um dos maiores autores de canções de Portugal acaba de sair um compêndio de personagens intrigantes, cujos trajetos as levam a contemplar o abismo, umas vezes saltando, outras não. Conhecer motivações e mergulhar no mundo interior destes protagonistas é o prazer que tenho retirado desta leitura - depois da poesia e de vários romances, o mais recente dos quais, “Vida e Morte nas Cidades Geminadas”, saiu no ano passado, Sérgio Godinho volta a dar provas de notável vitalidade e imaginação a condizer, agora no formato a que os anglo-saxónicos chamariam “história curta” ("short story"), e a que, neste canto do mundo, talvez possamos chamar conto.

Pensar na morte para melhor valorizar a vida: a ideia é comum, mas poucas vezes terá sido explicada de forma tão eloquente como na entrevista que esta semana me deu Rubel, jovem certeza da nova música brasileira. Com concertos em Portugal marcados para novembro, o cantor-compositor, que acaba de lançar o álbum “Beleza. Mas agora a gente faz o quê com isso?”, explicou que foi aos “26 ou 27 anos” que estes pensamentos começaram a apoquentá-lo, graças a uma história do argentino Jorge Luis Borges.

“A ideia da morte como o sal da vida veio de um conto sobre uma terra em que as pessoas não morrem. Param de morrer e viram imortais. Ao contrário do que se espera, que seriam muito felizes por isso, perdem a motivação de estarem vivas. A vida vai perdendo sentido justamente porque nunca acaba", diz o carioca, explicando que ficou tão fascinado com a ideia de a imortalidade poder ser “um fardo e não o presente” que desde então acredita que “a morte é necessária para que tenhamos vontade e urgência de viver”.

A entrevista com Rubel poderá ser lida na BLITZ, em breve, mas o disco - de título palavroso inspirado no livro “Triste não é ao certo a palavra” - já está nas plataformas do costume, e merece escutas atentas. Na canção ‘Noite de Revéillon’, por exemplo, o outrora estudante de cinema faz uma menção a outro escritor bem nosso conhecido: “Vou transar melhor, vou ler Valter Hugo Mãe”, canta ele.

Sempre com as palavras por perto estão também A Garota Não, a pérola do Sado que esta sexta-feira toca no Festival Entretanto, em Alcanena, e Benjamin Clementine, o cavalheiro britânico que também amanhã aterra no Ageas Cool Jazz, em Cascais, com a portuguesa Rita Vian na primeira parte.

Veja abaixo mais sugestões para o seu fim de semana e até já!

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: LIPereira@blitz.impresa.pt

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