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Ser ou não ser responsável, eis a questão

Ser ou não ser responsável, eis a questão

Mafalda Ganhão

Jornalista

SIC

Enquanto não chegam as conclusões oficiais e as respostas que a dimensão da tragédia exige, o acidente mortal no elevador da Glória continua na ordem do dia. Com o autarca de Lisboa na berlinda. O Presidente da República falou este domingo sobre responsabilidade política, para sublinhar que Carlos Moedas a tem: "Quem quer que exerça um cargo político é politicamente responsável", vincou. Ainda assim, Marcelo Rebelo de Sousa considera que "dizer que isso implica demissão quando se está a um mês de eleição é não perceber que o juízo sobre a responsabilidade política em cargos eletivos é dos eleitores".

A mesma posição assumiu o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, ao defender que o escrutínio político será feito nas autárquicas de outubro, distanciando-se do seu antecessor no cargo. Pedro Nuno Santos criticou o silêncio da esquerda e pediu a demissão de Moedas

À noite, falou o próprio presidente da câmara de Lisboa. “A responsabilidade política é minha. Mas qual é essa responsabilidade? É a de ser acionista de uma empresa à qual dou uma estratégia. Não posso interferir na gestão. Posso apenas dar ou não condições. Foi isso que fizemos”, afirmou no “Jornal da Noite”, na SIC. Na primeira entrevista concedida após o acidente, Moedas recordou também que não aceitou o pedido de demissão apresentado pelo presidente da Carris, tal como rejeita a saída do vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta Correia, por considerar que “ninguém se pode demitir disto”. “Isto é grave demais”, insistiu, “seria uma cobardia alguém demitir-se”.

Poderia ter antecipado riscos? Moedas lembrou que a zona onde o cabo se soltou “não é visível sem desmontagem”, segundo o relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes Ferroviários, e sublinhou que “a manutenção estava em dia” e que “não houve erro humano”.

Mas, se o autarca se defendeu, também atacou, apontando o dedo aos adversários políticos. Ao PS de Lisboa em particular, que acusou de “radicalização” e de “aproveitamento político” da tragédia, algo que diz ter assistido “com repugnância e mágoa”. Sobre Alexandra Leitão, a candidata socialista à liderança de Lisboa, foi particularmente duro: "É dissimulada porque não vem pedir a minha demissão, mas encarrega os seus sicários, como Pedro Nuno Santos e Brilhante Dias, para virem por trás fazê-lo".

Não ficou sem resposta. Alexandra Leitão reagiu, para acusar o autarca de se colocar no centro da tragédia.Voltou ao ataque pessoal. Não sabe fazer política de outra forma. Quem o ouça acha que a primeira vítima do trágico acidente no Elevador da Glória foi ele próprio. Não foi. Foram os mortos, os feridos e as suas famílias”, escreveu a candidata numa publicação no X (antigo Twitter).

Era inevitável. Com as eleições autárquicas à porta, o acidente influenciará a campanha e esperam-se novos episódios.


OUTRAS NOTÍCIAS


Avante na despedida


No encerramento da Festa do Avante, o secretário-geral do PCP prometeu “firme combate” às políticas da direita onde se inclui o Orçamento do Estado, entregue no próximo mês. Paulo Raimundo distribuiu críticas aos diferentes adversários políticos, sendo que, à direita, atacou a “lebre ideológica” da IL e a “fábrica de mentiras do Chega”.


Trump pronto para impor novas sanções contra Moscovo


O Presidente dos Estados Unidos admitiu estar a considerar novas sanções contra a Rússia, após o mais recente ataque aéreo à Ucrânia, sem precedentes em magnitude.


Tetracampeões


Mais um feito para a canoagem nacional. José Ramalho e Fernando Pimenta sagraram-se, este domingo, tetracampeões do Mundode maratonas, em K2, em prova que decorreu em Gyor, na Hungria. Os portugueses foram os mais rápidos a completar os 29,2 quilómetros e conquistaram o ouro nos Mundiais de maratonas, juntando este título ao ouro europeu que já tinham conseguido, também este ano.


As mais-valias de Marques Mendes


Marques Mendes voltou a alertar este domingo que a eleição de Gouveia e Melo como Presidente da República seria um “perigo para a democracia”, para defender que “na Presidência da República é importante ter alguém com experiência política”. A ponta, em causa própria a sua “experiência” e “independência” como mais-valias. Na iniciativa “Campus da Liberdade”, em Peniche, insistiu: “É recomendável escolher alguém que não seja um tiro no escuro", sublinhou, para reafirmar que "experiência é segurança, experiência é confiança, experiência é menos incerteza".


Imigrantes com diploma lutam para ter trabalho qualificado


O Tribunal Constitucional considerou inconstitucionais algumas normas da proposta de alteração à Lei de Estrangeiros. Uma das medidas, alvo de críticas pela ausência de critérios claros, considera restringir o visto de procura de trabalho às chamadas “atividades altamente qualificadas”, numa tentativa de alinhar a imigração “com a necessidade de captação de talento e capital humano”. As incertezas são muitas, apontam vários especialistas, nomeadamente como serão reconhecidas as qualificações destes imigrantes? Já para os portugueses qualificados que vivem no estrangeiro, voltar pode implicar uma quebra de rendimentos que poucos estão dispostos a aceitar.


Cometa ou nave alienígena?


Está desfeita a dúvida: até há pouco tempo, não se sabia se o mais recente objeto interestelar identificado seria uma nave ou sonda alienígena, um cometa ou um asteroide vindo de fora do Sistema Solar. Novas observações obtidas a partir do telescópio Gemini South, em Cerro Pachón, no Chile, confirmam que o 3I/ATLAS é um cometa.



FRASES


“A política de direita não se combate dando-lhe a mão, mas sim travando-lhe o passo”

Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, no discurso de encerramento da Festa do Avante, levantando o véu sobre a posição do partido sobre o Orçamento do Estado (OE) apresentado pelo Governo


"Nesta tragédia não há nenhum erro que [me] possa ser imputado”

Carlos Moedas, sobre o acidente do elevador da Glória, em entrevista à SIC



PODCASTS A OUVIR


Expresso da manhã No episódio desta segunda-feira, Paulo Baldaia conversa com o jornalista João Pedro Henriquessobre as mudanças eleitorais - “Abstenção funciona como central de reciclagem e voto jovem é o que mais muda. Nas presidenciais quem ficará a ganhar?”


Leste Oeste A resistência ucraniana enfrenta ataques diários de drones e mísseis que desafiam qualquer defesa moderna. Entre fragilidades militares e força civil, o país continua a provar a ”resiliência do seu povo”. É o mais recente episódio deste podcast de Nuno Rogeiro.



O QUE ANDO A LER


“Como perder uma eleição” (Zigurate, 2023), Luís Paixão Martins


O autor esteve com José Sócrates, Aníbal Cavaco Silva e António Costa quando estes três protagonistas políticos alcançaram vitórias eleitorais históricas, por isso sabe do que escreve. É capaz de ser livro em muitas cabeceiras dado o ‘timing’ político que vivemos. É apresentado como uma viagem inédita aos bastidores da política portuguesa, e desvenda (vou a meio da leitura, não aprendi ainda todas) oito receitas para o desastre.



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