O presidente da Câmara de Lisboa rejeitou este domingo qualquer ligação entre decisões suas e a tragédia do Elevador da Glória, que provocou 16 mortos. Em entrevista à SIC, Carlos Moedas disse aceitar “a responsabilidade política”, mas redefiniu-a de forma restrita: trata-se, explicou, apenas da obrigação de fornecer meios e orçamento à Carris, não de assumir consequências diretas pela falha que levou ao descarrilamento.
“A responsabilidade política é minha. Mas qual é essa responsabilidade? É a de ser acionista de uma empresa à qual dou uma estratégia. Não posso interferir na gestão. Posso apenas dar ou não condições. Foi isso que fizemos”, afirmou no “Jornal da Noite”.
Moedas insistiu que, no seu mandato, “o investimento em novos equipamentos aumentou 60% e 30% na manutenção”, afastando qualquer hipótese de falha de decisão da autarquia. E deixou um compromisso: “Se alguém provar que alguma ação que tive levou a que a empresa não gastasse o suficiente em manutenção, eu demito-me no dia.”
Questionado sobre se poderia ter antecipado riscos, o autarca recordou que a zona onde o cabo se soltou “não é visível sem desmontagem”, segundo o relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes Ferroviários (GPIAAF). Sublinhou também que “a manutenção estava em dia” e que “não houve erro humano”, destacando o gesto do guarda-freio André Marques, que morreu no acidente: “Foi um herói. Acionou os travões, fez tudo o que podia.”
Na noite da tragédia, acrescentou, a primeira decisão que tomou foi “parar todos os elevadores”, para garantir confiança aos lisboetas. “Não queria que alguém entrasse neles sem sentir segurança. Era a única forma de dar tranquilidade.”
Moedas recusou uma caça às bruxas, tanto na Câmara como na Carris. Recordou que não aceitou o pedido de demissão apresentado pelo presidente da empresa e rejeita a saída do vice-presidente da autarquia, Filipe Anacoreta Correia: “Daqui ninguém sai! Ninguém se pode demitir disto. Isto é grave demais. Seria uma cobardia alguém demitir-se.”
O autarca aproveitou ainda para criticar adversários políticos, acusando o PS de Lisboa de “radicalização” e de “aproveitamento político” da tragédia. “Esta ferida aberta precisa de dias de luto. E não podemos assistir, como eu vi, com repugnância e mágoa, a aproveitamento político de algo como isto.”
A um mês das eleições autárquicas, Moedas procurou afastar leituras eleitorais da sua resposta ao acidente: “Foram dias em que a vida de muita gente mudou. A minha prioridade é descobrir a verdade e dar respostas às famílias.” E garantiu que “não precisa de eleições para se ver onde está a responsabilidade política”.
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