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Siga a Marinha

Siga a Marinha

João Cândido da Silva

Coordenador do Expresso Online

Bom dia,

Marcelo Rebelo de Sousa parece sentir-se só e abandonado no Palácio de Belém, inútil e ignorado na condução dos destinos do país. Nos dias mais recentes deixou escapar alguns desabafos num tom melancólico que não lhe é habitual. Com António Costa em São Bento, Marcelo integrou uma parceria feliz. Mas os tempos mudaram. Para pior, do ponto de vista do Chefe de Estado.

A chegada de Luís Montenegro à liderança do Governo significou novos balanços na relação entre os dois palácios, como seria fácil antever. Mas o que se alterou em concreto e quais os motivos? Paula Caeiro Varela e João Pedro Henriques analisaram o tema e identificaram as diferenças de personalidade e de percurso, origem dos pontos de fricção que sustentam o descontentamento e os suspiros de saudade do Presidente.

António Costa era um ‘velho conhecido' de Marcelo, antigo aluno na Faculdade de Direito de Lisboa. Montenegro chegou muito depois, quando iniciou a ascensão no interior do PSD durante a liderança de Pedro Passos Coelho. O actual presidente do Conselho Europeu, um ‘animal político’ inquestionável, para o bem e para o mal, apreciava longas discussões destinadas a construir e avaliar cenários políticos, ouro sobre azul para quem deve uma boa parte da sua fama ao comentário e à especulação. Com o actual primeiro-ministro, não há margem para deambulações nos terrenos favoritos de Marcelo.

Para o Presidente, um dos ‘irritantes’ de Luis Montenegro parece estar no facto de ser um pragmático que gosta de preservar e proteger o perímetro de poder que lhe pertence enquanto líder do Executivo, com tempos de decisão que aprecia manter sob controlo. O episódio da escolha de Amadeu Guerra para procurador-geral da República é apontado como um exemplo: o processo foi prático e rápido.

Marcelo dá sinais de estar inconformado e apreciaria menos distanciamento e mais participação nas decisões. Não abdica de denunciar os erros e fracassos que identifica no desempenho do Governo, mas pede mais “cooperação estratégica”, algo que pode ser traduzido como proximidade e envolvimento. Montenegro usa outras palavras. Na cerimónia de apresentação de cumprimentos de boas festas falou em “cooperação produtiva” e “solidariedade estratégica”, ou mais harmonia e menos críticas.

Presidente e primeiro-ministro não serão um casal desavindo. Mas, tendo em conta que o assunto da moda entre a indústria do comentário é um almirante que pretende lançar-se na política, pode dizer-se que navegam em ondas diferentes. Posto isto, siga a Marinha.

OUTRAS NOTÍCIAS

Salários sobem na Função Pública. O Governo aprovou os aumentos salariais para a função pública para 2025, previstos no acordo com os sindicatos, uma subida de 56 euros por mês ou 2,15%.

Leitão Amaro e a imigração. O ministro da Presidência afirmou que o Governo concorda com a apreciação dos portugueses manifestada num barómetro sobre as políticas de imigração que estavam a ser implementadas em Portugal.

Banco central dos EUA baixa juros. A Reserva Federal cumpriu as expectativas do mercado e anunciou um novo corte de 25 pontos-base nas taxas de juro. Estão agora fixadas num intervalo situado entre os 4,25% e os 4,5%.

Ahmed al-Sharaa pede fim das sanções. Numa entrevista à BBC, em Damasco, o líder actual da Síria afirmou que o país está exausto da guerra e que não é uma ameaça aos seus vizinhos ou ao Ocidente.

Governo cria a Agência para o Clima. O Governo aprovou a criação desta entidade na reunião de Conselho de Ministros desta quarta-feira. A nova agência vai gerir mais de dois mil milhões de euros por ano com origem em sete fundos.

Pedro Cabrita Reis doa arquivo a Serralves. A doação abrange milhares de documentos e reforça o papel da Fundação de Serralves como referência na preservação e valorização de arquivos artísticos relevantes.

Juiz trava processo EDP/CMEC. Prazo para os arguidos requererem a instrução está congelado porque o Ministério Público não enviou às defesas a totalidade do processo, argumentando que ainda há e-mails por apagar.

Mais investimento em Defesa. O secretário-geral da NATO defende a mudança para “mentalidade de guerra”, mas não avança novas metas. Ainda há oito Estados-membros que não cumprem a metal atual de despesas em defesa, Portugal incluído.

Morreu Carlos de Almeida Contreiras. O antigo oficial da Marinha, que participou no 25 de Abril e que indicou a canção "Grândola Vila Morena" como senha da operação militar, faleceu aos 83 anos.

Salgueiro Maia homenageado. A Câmara de Lisboa aprovou uma proposta do Livre para uma homenagem, a título póstumo, a Salgueiro Maia, tendo decidido atribuir-lhe a Chave de Honra da Cidade.

FRASES

“A secundarização política e mediática da morte de Odair diz-nos o que as revoltadas populações destes bairros sempre souberam: que as vidas dos seus valem menos numa sociedade que os vê como subcidadãos”, Daniel Oliveira

“Pela primeira vez em 18 anos, a liderança da Juventude Socialista foi disputada. A julgar pela contenda da qual Sofia Pereira saiu vencedora, mais vale voltarem ao modelo da lista única”, Manuel Cardoso

PODCASTS

Expresso da Manhã’. A queda do governo regional da Madeira levou Luís Montenegro a acusar os socialistas de estarem alinhados com o Chega. Paulo Baldaia conversa com o comentador da SIC Pedro Marques Lopes.

Ontem já era Tarde. Pedro Azevedo é um dos narradores em atividade mais antigos do país e tem marcado presença nos principais palcos do desporto português e internacional: “Tenho cinco campeonatos do Mundo, outros tantos da Europa e três finais europeias”, revela a Luís Aguilar.

O QUE EU ANDO A LER

O Mundo, Uma História da Humanidade’, Simon Sebag Montefiore. O carimbo mais utilizado para classificar este livro terá sido ‘monumental’. Faz sentido, não pelo facto de se tratar de um calhamaço com perto de 1.300 páginas na edição portuguesa, incluindo as referências bibliográficas e o índice remissivo, mas porque a quantidade de informação é torrencial e exige uma leitura pausada e concentrada, escassamente adequada ao passo apressado, curto e superficial, que caracteriza os tempos actuais.

Simon Sebag Montefiore aprecia desafios difíceis. Projectos como a pormenorizada biografia sangrenta de Estaline ou a truculenta e periclitante história de Jerusalém são dois exemplos. A ambição, desta vez, voou mais alto. O historiador britânico combina uma impressionante erudição com uma escrita clara e fluída para traçar a evolução da humanidade desde os primórdios até à actualidade, a partir de um ponto de vista estimulante.

A evolução do mundo é desfiada do particular para o geral, a partir de grandes figuras da História e de famílias e dinastias decisivas, numa narrativa que ajuda a ilustrar os movimentos históricos e a compreender a actualidade. Alexandre, Genghis Khan e Napoleão são presenças relevantes nas páginas de ‘O Mundo’, assim como a família Krupp ou Shaka Zulu. A quantidade de informação é avassaladora, mas a leitura compensa o esforço.

O QUE EU ANDO A OUVIR

Jamie Saft Trio Plays Monk”, Jamie Saft Trio. Thelonious Monk, um dos maiores compositores e pianistas da história do jazz, é alvo de uma nova homenagem. Jamie Saft, acompanhado por Steve Swallow, no contrabaixo, e Bobby Previte, na bateria, recria as composições de Monk com um empolgante equilíbrio entre reverência ao mestre e inovação que não teria desagradado ao homenageado.

Motion I”, Out of/Into. O quinteto que gravou este álbum é integrado por Gerald Clayton, no piano, Immanuel Wilkins, no saxofone alto, Joel Ross, no vibrafone e marimba, Kendrick Scott, na bateria, e Matt Brewer, no contrabaixo. Foi formado para celebrar o 85º aniversário da Blue Note Records e, após uma extensa digressão pelos Estados Unidos, lançou este álbum de estreia, um diálogo dinâmico entre tradição e modernidade.

Solid Jackson”, MTB. Trinta anos depois de ter gravado o álbum de estreia, o trio de Brad Mehldau (piano), Mark Turner (saxofone tenor) e Peter Bernstein (guitarra) reencontra-se e acrescenta dois ilustres, e expectáveis, convidados: Larry Grenadier, no contrabaixo, e Bill Stewart, na bateria. É uma equipa de estrelas, com uma notável sensibilidade melódica, que percorre temas originais e composições de Wayne Shorter ou Hank Mobley.

‘Weird of Mouth’, Weird of Mouth. Mais um álbum assinado por grandes estrelas: a saxofonista Mette Rasmussen, o pianista Craig Taborn e o baterista Ches Smith. Esta é a estreia do trio e, sem surpresa, aquilo que se pode escutar é música aventurosa, que funde jazz, rock e electrónica. Uma energia destravada atravessa os temas, por vezes próxima do caos, com tanto de desconcertante como de cativante.

E é tudo. Pelas 23h00, os textos da edição impressa desta semana estarão disponíveis online. Amanhã, pode encontrar o jornal nas bancas. Entretanto, acompanhe a actualidade no Expresso, Tribuna e Blitz, consulte as sugestões do Boa Cama Boa Mesa e tenha um excelente dia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jcsilva@expresso.impresa.pt

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