Geração E

As saudades que eu jotinha da minha alegre casinha

As juventudes partidárias procuram provar que os seus membros são, ao mesmo tempo, modernos e maduros. O último debate entre os candidatos, realizado aqui no Expresso, foi simultaneamente antiquado e infantil

Pela primeira vez em 18 anos, a liderança da Juventude Socialista foi disputada. A julgar pela contenda da qual Sofia Pereira saiu vencedora, mais vale voltarem ao modelo da lista única. Fiz questão de ver os debates entre os dois candidatos. O confronto realizado na TSF foi muito parecido a um aborrecido debate sobre o Orçamento de Estado. Como as visões sobre o problema da habitação não são propriamente divergentes, optaram por divergir agressivamente sobre a forma de arranjar dinheiro para financiar as medidas. No fundo, passaram o debate a medir pilins.

As juventudes partidárias procuram provar que os seus membros são, ao mesmo tempo, modernos e maduros. O último debate entre os candidatos, realizado aqui no Expresso, foi simultaneamente antiquado e infantil.

Antiquado porque ambos os candidatos adotam os vícios discursivos dos políticos aparelhistas com os quais os jovens não se identificam. Tanto Sofia Pereira como Bruno Gonçalves falam de si próprios na terceira pessoa, repetidamente: “a candidata sou eu, a Sofia Pereira”; “há um ataque ao Bruno Gonçalves”. É mais do que “falar à político”, são duas pessoas com menos de trinta anos a expressar-se como um jogador de futebol dos anos 90.

Infantil porque metade do debate foi passado em modo birra. Sofia Pereira fez uma birra porque, alegadamente, Bruno Gonçalves foi constantemente condescendente. Bruno Gonçalves fez uma birra porque, na sua opinião, Sofia Pereira montou uma campanha para denegri-lo com acusações de condescendência. A única coisa que se extrai deste debate é que temos de ter mais paciência com os jovens: pessoas que falam tantas vezes em condescendência merecem a nossa condescendência.

Sofia Pereira quis passar a ideia de que Bruno Gonçalves menorizava a sua candidatura e que lhe fazia mansplaining. Confesso que não vi qualquer manifestação gritante de machismo por parte de Bruno Gonçalves, a não ser que o feminismo implique nunca discordar da argumentação de uma mulher. Uma das disputas eleitorais na JS que mais criou atrito foi entre duas mulheres: Ana Catarina Mendes e Jamila Madeira. Como, na altura, ambas fizeram duras acusações a uma mulher, calcula-se que eram as duas machistas.

Bruno Gonçalves ripostou, afirmando por três vezes que é “orgulhosamente feminista” e pondo em causa a sororidade de Sofia Pereira. Como? Contando o número de vezes em que a moção global de estratégia de Sofia Pereira cita mulheres. Ou seja, para Bruno Gonçalves, o feminismo mede-se na página das referências bibliográficas. É uma nova forma de ativismo: não é ação direta, é citação direta. Enfim. Exige-se uma sitcom que acompanhe a vida política dos quadros da JS, chamada “Sim, senhor feministro”.

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