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VM7 e o Messias moçambicano

VM7 e o Messias moçambicano

Rui Gustavo

Jornalista

Campanha de Venâncio Mondlane, que saiu da Renamo e fundou o partido Povo Democrático de Moçambique

Bom dia,

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Eu sei que já estamos fartos de eleições, mas há países em que a ida às urnas ainda é uma excitação e uma alegria para o povo. 17 milhões de moçambicanos escolhem hoje o próximo Presidente da República, o Governo e os governadores provinciais. E há mudanças à vista com o fim do bipartidarismo que tem dominado o pais e um novo ocupante do palácio da Ponta Vermelha .

A Frelimo, partido no poder há 49 anos - desde que Moçambique declarou a independência de Portugal - apresenta um candidato surpresa para substituir o atual Presidente, Filipe Nyusi, que cumpriu dois mandatos e está constitucionalmente impedido de se recandidatar: Daniel Chapo, um gigante sorridente de quase dois metros e discurso messiânico que se compara a Moisés e está tão à vontade entre o povo como um pregador cristão. Pormenor: tem 47 anos e é o único dos quatro candidatos que já nasceu em independência.

A sua escolha pelo Comité Central do partido fundado por Samora Machel e Eduardo Mondlane apanhou os observadores internacionais de surpresa já que não tem experiência governativa – é governador da província de Inhambane - e só precisou de quatro meses nos órgãos dirigentes da Frelimo para ser eleito secretário-geral.

O grande rival de Chapo na corrida à Ponta Vermelha, a residência oficial do Presidente da República de Moçambique não parece estar na Renamo, o rival histórico da Frelimo com quem travou uma sangrenta guerra civil que durou quase vinte anos, até 1992.

Venâncio Mondlane é uma espécie de político 2.0. Começou na Renamo, mas desfiliou-se do partido depois de ter perdido as eleições internas para Ossufo Momade, candidato presidencial do partido fundado por André Matsangaíssa e, depois da morte deste em combate, liderado pelo já falecido Afonso Dhlakama.

VM7, como é tratado pela imprensa e pelos apoiantes numa referência óbvia a Cristiano Ronaldo, fundou um novo partido, o Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, como o espanhol) e faz campanha, essencialmente, na rua e nas redes sociais onde tem milhões de seguidores.

Nos comícios, discursa sempre de pé e faz-se rodear por jovens que tiram selfies. Tem grande penetração nos centros urbanos e na capital, Maputo. “Apesar da nossa limitação material e financeira, as pessoas conheciam muito bem a minha candidatura e pontos essenciais do nosso manifesto no interior do país”, observou numa das últimas intervenções. Um manifesto “audacioso e utópico”, dizem os opositores; uma proposta para a “reforma do Estado” elogiam os apoiantes.

A lutar para se aguentar na corrida, o candidato da Renamo, o sexagenário Ossufo Momade, tentou passar uma imagem de irreverência num dos últimos comícios em que surgiu de vassoura na mão: “Temos de varrer o sofrimento, temos de varrer a falta de medicamentos nos hospitais, temos de varrer a falta de cadeiras nas escolas. Por isso tenho esta vassoura. Esta vassoura vai varrer todo o país".

Nestas eleições não há sondagens e os resultados só serão conhecidos daqui a duas semanas. Se não houver maioria absoluta, passam dois candidatos ao segundo round.

O país onde ainda vivem 23 mil portugueses continua a ser um dos mais pobres do mundo apesar do potencial turístico e de recursos como o gás natural e tem sido assolado por ataques terroristas em Cabo Delgado onde se vive outra vez o terror das minas terrestres.

VM7 diz que já “chega” de “pobreza e corrupção” e Chapo garante “a terra prometida”.

OUTRAS NOTÍCIAS

Novela. André quer Luís que prefere Pedro que ainda não decidiu. O Chega esta disponível para deixar passar o Orçamento que é aprovado hoje em Conselho de Ministros e será apresentado no Parlamento amanhã, quinta-feira. O PS ainda não decidiu se deixa passar o documento essencial para a governação do país ou se dá ao partido de Ventura a chance de se tornar decisivo e dar mais um passo no caminho da normalização.

Dispensas. O Governo quer avançar com uma reestruturação na RTP que provocará a saída negociada de 250 trabalhadores. A estação pública vai ficar sem receitas de publicidade até 2027 o que significará uma quebra de 22 milhões de euros anuais. Esta medida era há muito reclamada pelos meios de comunicação privados e faz parte de um plano de ação para os media apresentado na conferência “O Futuro dos Media” que prevê ainda descontos de 50 por cento na assinatura de jornais.

Eco tinta. Numa época que parece agora distante, Luís Montenegro era o líder da oposição e um grupo de ativistas climáticos expressava a sua revolta contra o sistema com o lançamento de baldes de tinta contra alvos selecionados. O agora primeiro-ministro levou um banho de tinta verde numa ação de campanhas nas eleições que viria a vencer. Apesar de ter tentado gracejar com o ataque a que “não faltou pontaria”, apresentou queixa-crime contra o ativista da Greve Climática Estudantil que começa hoje a ser julgado no Campus da Justiça. O arguido, Vicente Magalhães, estudante de 19 anos de Ciência Política, justificou o ato com a falta de propostas do PSD para resolver a crise climática. Montenegro queixou-se de ter gastado imensa água e gás para tirar a tinta do cabelo e de ter ficado sem um fato de bom corte.

Gerechtigkeit. O Tribunal de Braunschweig, na Alemanha, absolveu Christian Brückner dos cinco crimes sexuais de que era acusado e que teriam sido cometidos em Portugal contra três mulheres e duas crianças. Os juízes consideraram que acusação não apresentou provas suficientes e que só assim podiam fazer justiça (gerechtigkeit). O alemão, de 47 anos, é considerado pelo MP germânico o principal suspeito do rapto e homicídio de Madeleine McCann, desaparecida desde 2007 de um apartamento na Praia da Luz, no Algarve. O caso foi reaberto em 2020 depois de o telemóvel de Bruckner ter sido detetado no local do crime.

Nu. A obra “Ria, Naked Portrait”, um óleo sobre tela pintado em 2005 por Lucien Freud, vai hoje a leilão em Londres. O quadro, pintado no fim da vida pelo artista britânico, será licitado por um mínimo de dez milhões de libras, cerca de 12 milhões de euros. Se tiver folga no orçamento, é de aproveitar.

FRASES

“Uma das coisas que mais me impressiona hoje é estar com seis ou sete câmaras à minha frente e ter jornalistas a fazerem-me perguntas sobre determinado tema, e ver que a maior parte deles tem um auricular no qual lhe estão soprar a pergunta que devem fazer. E outros, à minha frente, pegam no telefone e fazem a pergunta que já estava previamente feita. Eu, como agente político e cidadão, olho para este quadro e digo que os senhores jornalistas não estão a valorizar a sua própria profissão”

O primeiro-ministro Luís Montenegro incomodado com o facto de os jornalistas comunicarem com a régie e com as redações em que trabalham durante as conferências de imprensa ou entrevistas espontâneas

“Quem escolheu esta profissão tem disponibilidade e dedicação aos deveres do jornalismo, e o termo 'ofegante' - usado pelo senhor primeiro-ministro - não retrata o importante contributo desta classe profissional para a construção do Portugal democrático, nos últimos 50 anos”

Conselho Deontológico dos jornalistas numa resposta a Montenegro que também se incomoda com o jornalismo “ofegante” e preferia outro, mais “tranquilo”

“O rei está em dívida para comigo, porque nunca fui puta, mas, se tiver de ser, serei a mais cara do mundo”

Bárbara Rey, atriz espanhola que terá mantido um caso extraconjugal com o rei Juan Carlos, pai do atual chefe de Estado espanhol, Filipe VI. Esta escuta foi divulgada pela imprensa espanhola e está a escandalizar os meios políticos espanhóis que querem saber se foram usados fundos públicos para pagar chantagem

“Os pais não devem dar um 'smartphone' aos filhos antes dos 16 anos”

Marc Massip, psicólogo espanhol que compara estes dispositivos eletrónicos à heroína

O que eu ando a ler

O Selvagem da Ópera

Rubem Fonseca

Sextante Editora

O pretexto é contar a história de António Carlos Gomes, compositor brasileiro contemporâneo do imperador D. Pedro II e autor da ópera “O Guarani” e outras obras que Rubem Fonseca tenta resgatar de um esquecimento porventura injusto. Mas o escritor brasileiro – Prémio Camões que morreu em 2020, autor do genial “Agosto” e do desconcertante “Caso Morel”, entre outros títulos que ainda aspiro a ler – aproveita o ensejo para cerzir um texto que é ao mesmo tempo uma biografia, um romance e um guião para um filme que nunca chegou a ser feito. Sempre erudito, Fonseca recria aquela época única da história do Brasil dominada pela figura do último imperador que viria a morrer no exílio, já depois do golpe republicano que o depôs. Rigoroso, retrata fielmente os bastidores do mundo do espetáculo de então com artistas sempre de mão estendida e dependentes das graças das elites. Há coisas que não mudam assim tanto.

Por hoje é tudo. Se fosse vivo, John Lennon faria 84 anos. É um dos meus heróis. O tempo vai estar instável com previsão de chuva “sendo forte e persistente no Norte e Centro passando a aguaceiros a partir da manhã, com possibilidade de trovoada”, prevê o IPMA. No sul, o céu vai amanhecer nublado com “períodos de chuva, passando a aguaceiros a partir da manhã”. Tudo obra da tempestade Kirk, como o capitão de “O Caminho das Estrelas”.

Faça chuva ou faça sol, informe-se sempre e bem no Expresso, Blitz e Tribuna.

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