Bom dia,
Joe Biden prometeu retomar a campanha para as eleições presidenciais a partir desta segunda-feira, quando a covid-19 lhe permitisse regressar ao combate contra Donald Trump. Acabou por recuar e ceder perante as pressões provenientes do interior do Partido Democrático, algumas protagonizadas por figuras de topo, como Barack Obama ou Nancy Pelosi.
Ontem, o actual Presidente dos Estados Unidos reconheceu não ter condições para tentar a reeleição e anunciou a desistência, “no melhor interesse” do partido e do país. O péssimo desempenho durante o debate com o seu rival na corrida à Casa Branca, a 27 de Junho passado, provocou estragos irrecuperáveis. As primeiras reacções de apoio que se seguiram ao desastre estouraram como bolas de sabão perante a desconfiança crescente de financiadores, congressistas e comunicação social habitualmente próxima dos democratas. As dúvidas foram agravadas por novos sinais públicos de debilidade que aumentaram o cepticismo sobre se Biden estaria em condições de liderar os Estados Unidos por mais quatro anos.
As dificuldades dos democratas são evidentes. Têm de encontrar rapidamente um candidato com possibilidade de fazer frente a uma campanha adversária que, nos estudos de opinião, tem evidenciado uma vantagem apertada, é certo, mas também persistente. E não há sondagem que sugira haver alguém entre os democratas capaz de ter hipóteses de impor uma derrota a Trump, excepto na fantasiosa possibilidade de Michele Obama ser a adversária do multimilionário.
Kamala Harris é o nome mais óbvio e em melhores condições. Tem, à partida, a notoriedade que falta a outros potenciais interessados em entrar na corrida. Joe Biden, que assegurou uma larga maioria de delegados à convenção que iria confirmar a sua nomeação para se recandidatar à Presidência dos Estados Unidos, declarou-lhe o seu apoio. A vice-Presidente aceitou o desafio e disse querer “merecer e ganhar” a nomeação. A solução não é pacífica. Harris não inspira um consenso comparável àquele que Biden reunia e há quem preferisse outros nomes. O segredo para superar hesitações poderá estar no perfil do candidato que Kamala Harris decidir escolher para a acompanhar na campanha.
Do lado republicano, a máquina de propaganda não perde tempo. A ofensiva sobre Kamala Harris já arrancou. Trump deu conta da convicção de que será mais fácil derrotar Harris do que Biden e JD Vance acusou-a de “encobrir o óbvio declínio mental” do actual Presidente. Sobre Biden, os republicanos vão mais longe: questionam se estará em condições de cumprir o tempo que lhe resta de mandato e exigem a sua saída imediata da Casa Branca.
“Esqueçam sentenças de vitória antecipada trumpista ou sondagens comprometedoras feitas até aqui. A eleição começa agora”, escreve Germano Almeida.
OUTRAS NOTÍCIAS
Ensino. O futuro de milhares de jovens começa a desenhar-se esta semana, com as candidaturas ao ensino superior, que se prolongam até 29 de julho. Fique a saber curiosidades que marcam o concurso de acesso às universidades e institutos politécnicos públicos.
Ambiente. O Plano Nacional de Energia e Clima abandona a ideia de promover o hidrogénio verde no transporte ferroviário, promete uma revisão do Plano Nacional da Água e anuncia mais formação profissional na área das renováveis.
Doação de Órgãos. Doar um rim ao companheiro? Perante a doença de João, Marisa não pensou duas vezes e o casal entrou numa doação cruzada, com outro par dador e recetor, a única fuga a uma longa lista de espera com mais de dois mil doentes.
PSD-Madeira. Miguel Albuquerque conseguiu dançar o bailinho da Madeira no Chão da Lagoa e vai para férias com um orçamento aprovado e reconciliado com Lisboa, mas este ano a festa do PSD fez-se com menos militantes e com oposição interna.
Mais calor. Onze distritos de Portugal continental vão estar sob aviso laranja entre esta segunda e quarta-feira devido à previsão de tempo quente, indicou nesta madrugada o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
FRASES
“Se Thomas Matthew Crooks tivesse tido sucesso no seu tiro, seria impossível convencer uma grande percentagem dos americanos de que não houvera conivência das autoridades no assassínio”, Luís Aguiar-Conraria
“Não vale a pena ter ilusões. Kamala tinha melhores sondagens do que Biden, mas ainda sem ter enfrentado a máquina de propaganda tóxica republicana, em que a misoginia terá lugar central", Daniel Oliveira
“Trump não é um mártir, não é uma vítima. Este homem está há oito anos a destruir o sistema político, a relação entre poder e jornalismo, a relação entre política e verdade, entre política e decência”, Henrique Raposo
“Esses que querem os tachos e lugares nunca os vi numa campanha e quando é para dar o corpo ao manifesto não aparecem”, Miguel Albuquerque
OS NOSSOS PODCASTS
Expresso da manhã. Com Biden fora da corrida, será mais fácil derrotar Trump? Paulo Baldaia e Pedro Cordeiro analisam a situação nos Estados Unidos.
O CEO é o limite. Pedro das Neves, fundador e líder executivo da IPS - Innovative Prison Systems, é o convidado deste episódio, em que se fala da importância de humanizar os contextos mais hostis.
Luís Marques Mendes. No habitual comentário que faz aos domingos na SIC, o ex-líder do PSD afirma que "a saída de Biden é humilhante, não tem nada de digno”.
O QUE ANDO A OUVIR
“Regularmente Irregular”, André Murraças. Este é o primeiro álbum liderado pelo saxofonista, que surge em quarteto na companhia de João Carreiro, na guitarra, Francisco Brito, no contrabaixo, e Luís Candeias, na bateria. As oito composições são originais assinados por André Murraças e representam o ponto de partida para o saxofone e a guitarra desenharem solos que percorrem o seu caminho entre atmosferas melancólicas e terrenos geralmente suaves.
“September Night”, Tomasz Stanko Quartet. A música que surge neste álbum foi registada ao vivo em 2004, mas só agora foi resgatada dos arquivos e revelada. O trompetista polaco Tomasz Stanko, que faleceu em 2018, atravessava um dos períodos mais empolgantes da carreira e a parceria com o trio do pianista Marcin Wasilewski revelou-se uma aposta certeira. Do baú da editora ECM saltou uma pérola que merece lugar de honra na discografia de Stanko.
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