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Bem vindo a mais um Expresso Curto, 72 anos depois de Winston Churchill anunciar a produção da primeira bomba atómica britânica
O local parece improvável para uma festa de aniversário: Uma mina de carvão abandonada dentro de uma montanha gelada no arquipélago norueguês de Svalbard, no Ártico. É aqui, a 150 metros de profundidade, que o mundo celebra esta segunda-feira o 16º aniversário do Banco Mundial de Sementes, também conhecido como a Arca de Noé dos Vegetais ou “o Bunker do Juízo Final, a evocar a imagem de um reservatório para uso em caso de evento apocalíptico ou catástrofe global”, comenta Cláudia Pascoal, professora da Universidade do Minho e diretora do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA), sobre este projeto, pensado como “um reforço de segurança face às ameaças que enfrentam os bancos genéticos em todo o mundo”, “guardião de uma história agrícola de 13 mil anos”.
Lá dentro, há 1.097.742 amostras de 5.841 espécies. São sementes e plantas de todos os continentes protegidas a -18º em nome da preservação da diversidade vegetal, para garantir o abastecimento das gerações futuras independentemente de catástrofes, guerras ou alterações climáticas.
“É uma garantia da segurança alimentar do mundo”, diz Ana Maria Barata, coordenadora do Banco Português de Germoplasma Vegetal, um dos 1.700 bancos mundiais que fazem entregas regulares na caixa forte do Ártico, uma a três vezes por ano. O objetivo, explica, “é ter lá todas as coleções replicadas”, mas “o que temos no Ártico é cerca de ⅓ das variedades de milho existentes no banco português, em Braga”, uma das maiores infraestruturas de conservação de recursos genéticos do mundo, com uma coleção de mais de 47 mil amostras de 150 espécies e 90 géneros de cereais, plantas aromáticas e medicinais, fibras, forragens, pastagens e culturas hortícolas.
No caso do milho, Portugal preserva uma das maiores coleções do planeta, com três mil variedades. Mas no feijão e no trigo, “também somos uma referência” e, no que respeita às couves “somos centro de diversidade”, sublinha a coordenadora.
E Portugal já enviou material para outro país depois de uma guerra ou catástrofe? “A ideia é cada país ter as suas espécies preservadas para o caso de vir a precisar delas”, responde Ana Maria Barata. Mas do Banco Mundial de sementes já saiu material para a Síria, depois da guerra civil ter destruído o banco de germoplasma de Allepo, refere.
Numa altura em que a FAO - Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura estima a perda da diversidade das colheitas no século XX em 75% e o World´s Plants and Fungi 2020, da organização britânica Kew Royal Botanical Gardens, diz que duas em cada cinco plantas estão em risco de extinção, Ana Maria Barata está certa de que o banco de germoplasma de Braga, onde trabalha com duas dezenas de pessoas, tal como o Banco Mundial de Sementes e todos os bancos dos diferentes países “são estratégicos para o nosso futuro”.
Para quem tem dúvidas, deixa um exemplo concreto: “Uma das espécies que desapareceu em primeiro lugar em Portugal foi a cenoura. O que comemos hoje já é um híbrido”.
Cláudia Pascoal reforça: “Atualmente, cerca de 30 culturas fornecem 95% das necessidades alimentares humanas. Na China, apenas 10% das variedades de arroz existentes nos anos 50 continuam a ser usadas. Nos EUA, mais de 90% das variedades de frutas e vegetais foram perdidas desde 1900”, diz.
E a escalada de tensão mundial vem reforçar a importância estratégica dos bancos de sementes. A prova é o facto da vasta coleção da Ucrânia ter sido deslocalizada para local desconhecido depois da invasão da Rússia, há dois anos. “A nova localização não foi divulgada por razões de segurança” e, sublinha a coordenadora do Banco Português de Germoplasma Vegetal, a coleção pode até estar dispersa por vários países”.
Talvez o mundo esteja a aprender com as falhas do passado: “Os bancos genéticos no Afeganistão e no Iraque foram destruídos, juntamente com todo o material cuja cópia não foi guardada em Svalbard, e o banco genético das Filipinas foi danificado pelas cheias na sequência de um tufão e, posteriormente, por um incêndio”, recorda Cláudia Pascoal. Mas “a maior ameaça que estas estruturas enfrentam é mesmo a falta de recursos financeiros”, garante a investigadora antes de recuar até à II Guerra Mundial para explicar que esta não é apenas uma preocupação dos dias de hoje: Um dos depósitos de sementes mais significativos em Svalbard é proveniente de uma coleção do Vavilov Research Institute of Plant Industry, em São Petersburgo. No cerco a Leningrado, “uma dúzia de cientistas barricaram-se lá dentro para protegerem as sementes dos cidadãos famintos e do exército alemão”. “Alguns morreram de fome, tal era a sua convicção sobre a importância das sementes para a Rússia no pós-guerra. Diz-se até que Dmitri Ivanov, um desses cientistas, morreu no meio de sacos de arroz”.
OUTRAS NOTÍCIAS
Campanha Entre alheiras, peixeiras e bombos, arrancou oficialmente a campanha eleitoral para as legislativas de 10 de março com metade dos líderes partidários a norte. As inscrições para o voto antecipado em mobilidade decorrem até quinta-feira. Como pode acompanhar em direto no Expresso, Pedro Nuno Santos, do PS, começou por defender a regionalização: “Sabemos que o país é melhor governado quando estamos mais próximos das pessoas”, disse em Matosinhos. Na AD, Luís Montenegro, começou pela saúde: “Entre 2011 e 2015, nos tempos em que tivemos de salvar Portugal da bancarrota, inaugurámos 7 hospitais no SNS. Desde que o PS foi Governo, sabem quantos hospitais foram inaugurados?". Na Maia, a sala gritou “zero”.
O Chega distribuiu guarda-chuvas numa arruada, no Porto, e fez saber que André Ventura não participa, esta segunda-feira, no debate das rádios que junta todos os líderes com assento parlamentar. Em Setúbal, o presidente do IL, Rui Rocha deu negativa à educação, atribuindo-lhe a nota seis numa escala de 0 a 20, e pediu “uma escola pública forte”. Paulo Raimundo, secretário-geral do PCP, criticou os temas “da bolha” dos debates e os comentadores para sublinhar que “é abismal a diferença” entre eles e “a vida das pessoas”.
No BE, Mariana Mortágua também falou de saúde, para dizer que “há dois caminhos que não funcionam. Não funciona o sistema do cheques para ir ao privado, mas também não funciona a resposta que a maioria absoluta deu que foi reorganizar serviços sem ir à raiz dos problemas”. A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, arrancou a campanha oficial numa ‘cãominhada’ no Parque das Nações, em Lisboa, defendendo mais apoios às famílias que têm animais de estimação e a aposta na ferrovia. Também em Lisboa, Rui Tavares, porta-voz do Livre, destacou a importância deste ato eleitoral, “inteiramente decisivo para o nosso país”.
Guerra Israel Hamas O Egito, um dos principais mediadores no conflito que já fez quase 30 mil mortos em Gaza, diz que as negociações em Paris para um cessar-fogo “tiveram resultado positivo”. Os EUA confirmam ter sido alcançado “um meio-termo”.
EUA O ex-presidente norte-americano Donald Trump venceu as primárias do Partido Republicano na Carolina do Sul, batendo Nikki Haley, governadora deste estado durante seis anos.
Ucrânia Em dois anos de guerra morreram 31 mil soldados ucranianos e, diz o ministro da Defesa, Roustem Umerov, metade das armas prometidas pelos aliados ocidentais estão a ser entregues com atraso. Entre os refugiados em Portugal, há quem diga que este é “um bom país”.
Agricultura Em Bruxelas, os ministros da Agricultura da União Europeia (UE) reúnem-se esta segunda-feira para discutir respostas à crise que os agricultores enfrentam. E há um novo protesto do setor no mesmo local.
Sindicatos Tiago Oliveira sucedeu a Isabel Camarinha na liderança da CGTP.
Economia Já validou as suas faturas no Portal das Finanças? O prazo termina esta segunda-feira.
FRASES
No dia 24 de fevereiro recordamos com dor o segundo aniversário do início da guerra em grande escala na Ucrânia. Tantas vítimas, feridos, destruição, angústia, lágrimas, num período que se torna terrivelmente longo e cujo fim ainda não está próximo
Papa Francisco, no Angelus
Quem doa também está a ser afetado pelas dificuldades da economia, quer pelo aumento do custo de vida, quer pelas taxas de juro, e isso vai, naturalmente, influenciar os donativos
Rita Valadas, presidente da Cáritas, no arranque da Semana Nacional da Cáritas Portuguesa
Tinha 13 anos quando fui viajar sozinho com 300 escudos nos bolsos. Dava para 15 dias
Pedro Abrunhosa, músico, no Posto Emissor
PODCASTS A NÃO PERDER
A história de uma cidade que passou do colonialismo britânico de novo para a alçada da China, e onde o direito a liberdades fundamentais ficou aquém do prometido. É o primeiro episódio do novo podcast Liberdade em Hong Kong
A Inteligência Artificial já faz parte dos hábitos de estudo dos estudantes. Goreti Marreiros, presidente da Associação Portuguesa para a Inteligência Artificial (APPIA), e Ana Paiva, professora catedrática de IA, falam da Educação na era da Inteligência Artificial no podcast A Próxima Vaga, moderado por Francisco Pinto Balsemão
O QUE ANDO A LER E A VER
Num ano em que quase metade da população mundial vai a votos e alguns portugueses vão quatro vezes às urnas, o reencontro com o Ensaio sobre a Lucidez, de José Saramago, pareceu-me inevitável. “É, ao mesmo tempo, uma fábula, uma sátira e uma tragédia. Quis que a fábula fosse uma sátira, mas não pude evitar que fosse também uma tragédia. Como a vida”, escreveu o vencedor do Nobel da Literatura sobre este livro e o país indeterminado onde os eleitores decidem votar massivamente em branco. Vale a pena ler ou reler nestes dias de campanha eleitoral e incerteza.
Em agenda, guardo a sugestão da Salomé Fernandes, minha colega na Delegação Norte do Expresso, para descobrir o que há de novo em Serralves: “Já era possível visitar a nova Ala Álvaro Siza, mas para além da descoberta dos caminhos a seguir entre as várias salas e dos ângulos que integram o espaço, o edifício acolhe agora duas exposições. Anagramas Improváveis e C.A.S.A foram inauguradas na última sexta-feira: a primeira criada a partir das coleções do museu e a segunda construída a partir do arquivo Álvaro Siza da Fundação de Serralves. Anagramas Improváveis procura relacionar obras de artistas de diferentes gerações e nacionalidades, com o museu a referir que um dos objetivos passa por “avançar novas perspetivas sobre peças consideradas históricas”. C.A.S.A centra-se nas primeiras casas projetadas pelo arquiteto, a par de projetos como a habitação social do pós-Revolução e na inacabada Avenida da Ponte”.
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