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Uma vez por mês, à terça-feira, o SER traz-lhe um tema-chave sobre o meio ambiente, com contexto, notícias relevantes e dicas práticas para facilitar a sua jornada “verde”. Hoje, falamos sobre greenwashing - do que se trata, quais as suas consequências, o que está a ser feito e como pode identificá-lo.
Quando a sustentabilidade é apenas uma ilusão
A crescente preocupação ambiental tem levado empresas de diversos setores a quererem associar-se à sustentabilidade. O princípio é bom, mas se os fins não forem genuínos, consumidores e investidores podem ser induzidos em erro e os esforços reais para um futuro mais “verde” podem ser comprometidos.
Greenwashing é o nome dado a esta estratégia em que empresas alegam que os seus produtos ou serviços são ecológicos sem que isso corresponda à verdade.
De acordo com os dados mais recentes da Comissão Europeia (CE), 53% das alegações “verdes” dão informações vagas, enganosas ou infundadas, 40% das alegações não têm evidências, metade de todos os rótulos verdes oferece uma verificação fraca ou inexistente e existem 230 rótulos de sustentabilidade e 100 rótulos de energia verde na União Europeia com níveis de transparência muito diferentes.
Um estudo encomendado pela CE em 2020, que avaliou 1305 produtos e 1616 anúncios em 15 Estados-membros, entre os quais o nosso, concluiu que 80% das páginas de produtos e serviços continham pelo menos uma alegação ambiental, no entanto, 23% foram identificadas como potencialmente enganosas. Relevante é também o facto de algumas empresas utilizarem termos vagos como "eco" ou “sustentável" sem fornecerem qualquer explicação ou certificação adequada.
Foi precisamente pelo uso de expressões como “neutralidade carbónica”, “redução da pegada ambiental”, “voar de forma mais sustentável” que 17 companhias aéreas, entre as quais a TAP, foram acusadas de greenwashing por 45 associações de defesa do consumidor de 31 países.
A Organização Europeia de Consumidores (BEUC) também promoveu um inquérito em 16 países, incluindo Portugal, através da Deco Proteste. Neste caso, mais virado para os consumidores. Chegou à conclusão de que o estado do planeta é uma preocupação para a maioria dos portugueses e que oito em cada dez se esforçam para adotar comportamentos mais sustentáveis no seu dia a dia. Verificou, contudo, a existência de desconfiança em relação às alegações ambientais.
Os motivos são vários, mas o mais preocupante é o facto de 65% dos inquiridos terem testemunhado casos de greenwashing pelo menos uma vez na compra de um produto. Termos como “reciclado”, “reciclável” e “biológico/orgânico” são amplamente conhecidos, mas a confiança em relação à sua veracidade é baixa. Mais de metade também consideram que há logotipos ambientais em excesso.
Diante deste cenário, quase 90% das pessoas que participaram no estudo da BEUC defendem penalizações severas para empresas que recorrem a práticas de greenwashing e 74% acreditam que empresas poluentes deveriam mesmo ser banidas do mercado.
O que está a ser feito para combater o greenwashing?
Vários reguladores têm vindo a adotar medidas para evitar práticas enganosas que escondem a verdadeira pegada ambiental de produtos e serviços. E os ambientalistas agradecem.
Em 2023, a Comissão Europeia adotou uma proposta de Diretiva sobre Alegações Verdes, que exige às empresas não só uma maior transparência e fundamentação, como também uma verificação por parte de entidades independentes e acreditadas. Introduz também novas regras de rotulagem. Por outro lado, há um Regulamento sobre Divulgação de Informações Relativas à Sustentabilidade no Setor dos Serviços Financeiros (SFDR) para combater o greenwashing no setor financeiro.
Em Portugal, a Autoridade da Concorrência (AdC) tem alertado para a necessidade de as empresas equilibrarem os objetivos de sustentabilidade e concorrência, a fim de evitarem infrações à Lei da Concorrência. De acordo com a AdC, certos acordos podem restringir a concorrência e ser proibidos. Para orientar as empresas, lançou um Guia de Boas Práticas sobre Acordos de Sustentabilidade que esclarece isenções e compatibilidades.
Como podemos ser consumidores mais atentos?
Embora a regulamentação tenha um papel crucial, o próprio consumidor também pode ajudar a combater o greenwashing através de escolhas mais informadas.
Deixo-lhe quatro dicas:
- Pesquise antes de comprar: verifique se a empresa fornece informações detalhadas e verificáveis sobre os seus esforços de sustentabilidade;
- Desconfie de termos vagos: desconfie sempre de alegações genéricas, como “eco”, por exemplo, e procure selos de certificação reconhecidos, como o EU Ecolabel, FSC ou Fair Trade. Este guia da Deco Proteste poderá ajudar nessa tarefa;
- Tenha em conta a cadeia de produção: um produto pode ser rotulado como ecológico, mas se a empresa não adotar práticas sustentáveis na sua cadeia de abastecimento, o impacto pode ser negativo;
- Prefira marcas transparentes: empresas que publicam relatórios de sustentabilidade auditados por terceiros demonstram maior compromisso ambiental;
EXCLUSIVO EXPRESSO: Fundos de investimento supostamente verdes investem em empresas poluentes
Uma investigação da rede European Investigative Collaboration (de que o Expresso faz parte) e do Voxeurop revelou que mais de 4300 fundos europeus classificados como “verdes” acumulavam €81 mil milhões em investimentos no final de 2023 nas 200 empresas que mais emitem dióxido de carbono no mundo, incluindo em multinacionais de petróleo e gás. Fique a par desta investigação.
Também em Portugal vários fundos de sustentabilidade têm investido em indústrias com elevadas emissões, mantendo em carteira ações de multinacionais petrolíferas e de outros setores poluentes. É o que nos conta o jornalista do Expresso Micael Pereira
Cada gesto, por mais pequeno que seja, conta para criar um futuro mais “verde”. A newsletter Expresso SER volta à sua caixa de correio no próximo mês, com mais dicas e informação. Para sugestões ou comentários, contacte-me através de: mcdias@expresso.impresa.pt
Até lá, boas leituras e práticas sustentáveis!
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