Bom dia,
Antes de lhe dar a conhecer o que se passou no agitado dia de ontem, abro um parêntesis ou, como carinhosamente (ou burocraticamente) se chama, um “período antes da ordem do dia”. Parece que passou despercebido, mas um comunicado na página da Presidência da República pôs o Presidente da República a falar de justiça como ainda não tinha feito.
Enquanto decorre uma campanha que só existe porque houve um caso judicial que levou à queda do governo, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu abrir as hostilidades e antecipar em 19 dias o que tinha anunciado que só faria a 21 de março: escreveu sobre justiça numa mensagem (que é mais um recado) forte para o Ministério Público. A exigência é tripla: quer “máximo rigor”, “máxima prontidão” e “resultados”. Tudo o que tem sido apontado ao Ministério Público sobretudo no que às últimas investigações, que fizeram cair dois governos, o nacional e o da Madeira.
Agora, sim. Entremos na ordem do dia.
Era António Costa candidato às eleições legislativas em 2015 e andava à volta com a palavra “confiança” e nas mais variadas formas de a pedir. As sondagens mostravam-lhe que apesar do desgaste e insatisfação com as políticas da troika, o eleitorado parecia dar notas de ser pouco móvel e resistir a confiar de novo no PS. E a verdade é que não conseguiu, mas fez a ‘geringonça’ que lhe daria duas vitórias em legislativas de seguida. Com os anos, conseguiu que a palavra “confiança” se entranhasse e que ficasse associada ao seu slogan das “contas certas”.
Agora, a palavra mais importante para o eleitorado parece ter deixado de ser “confiança” para ser “mudança”. Diz a sondagem para a SIC e para o Expresso feita pelo ICS/ISCTE, que há uma maioria (71%) que acha que o país não tem ido pelo caminho certo. Mas o verbo “mudar” não significa o mesmo para toda a gente e nas nuances da mesma sondagem é possível que o PS ache que nem tudo está perdido (uma parte dos eleitores que querem uma mudança de rumo são de centro ou de esquerda).
Assim como assim, além daqueles que ainda preferem a “confiança”, o novo líder socialista vai deixando um pé no legado e outro na ruptura. Pedro Nuno Santos tem ajustado o discurso e ora faz a defesa do legado de Costa, mas dizendo que nem tudo está bem, ora põe o acento tónico na necessidade da tal “mudança” na continuidade, o “novo impulso” que quer imprimir se for eleito. Para tal, já pede a confiança, como Costa pedia em 2015: “Confiem em mim. Não vos vou desiludir”, disse Pedro Nuno Santos. E pede a mudança: “A vida é uma continuidade, o que se fez [mas] com mudança”.
Ao virar do tempo de jogo nesta campanha, Costa entrou em campo para fazer as pazes com os zangados com a sua maioria absoluta e que agora estão indecisos sobre o voto. Num registo leve, solto, com tempo (diz que agora tem muito), o primeiro-ministro fez uma pergunta a quem ainda não decidiu: “Será que vale a pena fazer uma mudança sem segurança, em vez de dar oportunidade a Pedro Nuno Santos para continuar, com energia, novas ideias, mas sem mudarmos de rumo?”
Costa sabe que o resultado de 10 de Março terá uma leitura dupla: a derrota ou vitória do PS será do novo líder, mas também do anterior e foi galvanizar o PS numa campanha que sai agora do interior para se plantar à beira-mar.
O verbo é mais fácil de conjugar à direita. Na AD, continuou o desfile dos ex-líderes, e depois de Durão Barroso foi a vez de Cavaco Silva escrever um artigo no Correio da Manhã. Ao contrário de outros líderes do PSD que têm puxado o partido para a direita, muitas vezes falando de temas caros ao Chega, o antigo Presidente da República afinou a mira ao PS e fez um dramático apelo ao voto útil na AD, para secar o Chega através do voto tático, escrevendo que votar no Chega é o mesmo que votar no PS.
À tarde foi a vez de Luís Filipe Menezes que aproveitou a ida de Costa à campanha para lhe perguntar o porquê de achar que Pedro Nuno serve para primeiro-ministro “se não servia para ministro”.
O líder teve um dia louco que meteu três comícios, num deles teve o apoio de Rui Moreira, presidente da câmara municipal do Porto. Com tanta chuva de estrelas e ex-estrelas, Luís Montenegro pôde dedicar-se à arte do karaoke, conta o nosso repórter João Diogo Correia, e fazer um comício mais virado para os jovens em que explanou algumas das suas propostas.
Mais à direita, André Ventura jogou a cartada mais dramática para chamar a atenção de uma campanha que não lhe tem ligado. Ao fim de uma semana a discursar em comícios em ambientes fechados, junto dos seus e sem sair praticamente à rua, Ventura não tem marcado a agenda mediática. Vai daí, decidiu imitar Trump e Bolsonaro e pôr em causa o processo eleitoral.
A campanha não lhe está a correr bem. Primeiro, a notícia que a Entidade das Contas e Financiamento dos Partidos tem as contas do Chega sob suspeita uma vez que não consegue identificar centenas de donativos e depois a sua explicação pelo presidente do partido. Para desviar as atenções, Ventura carregou nas tintas. Resta saber se hoje os restantes líderes (e a comunicação social) lhe vão fazer a vontade.
Do lado da direita que se entende, Rui Rocha (IL) começou o dia a jogar em casa. O líder da IL anotou um recado para Luís Montenegro sobre pensões. Depois, seguiu para o Porto e num grande comício de campanha, com a ajuda do ex-líder e candidato a deputado Carlos Guimarães Pinto piscou o olho aos indecisos.
Ainda sobre Braga, mas com o foco no mercado por onde passaram várias caravanas, deixe-me sugerir-lhe esta reportagem da nossa jornalista Joana Ascensão. “Entre frutas e legumes, está um retrato do país que vai a votos: muitos pessimistas, alguns indecisos e a maioria aposta nos de sempre”.
Mariana Mortágua vestiu a capa do protesto e esteve com as populações de Argemela que lhe pedem que trave a exploração de lítio. “O nosso pulmão vai passar a ser o nosso cemitério”: BE amplia “grito de revolta” das populações contra o lítio e desafia Pedro Nuno Santos a recusar as explorações de lítio.
No PCP, o dia foi de regresso à ribalta de Bernardino Soares que espera ser eleito por Santarém - distrito por onde a CDU não conseguiu eleger nas últimas legislativas - já tem sete temas para tratar com o futuro governo (se for PS), apesar de os comunistas dizerem que são para tratar no Parlamento. O caderno de encargos está aqui descrito pela Margarida Coutinho.
Ainda no PCP, a Margarida Coutinho entrevistou a candidata que tem a difícil tarefa de conseguir ser eleita por Évora, voltando o partido a ter representação pelo distrito. Alma Rivera defende propostas para o distrito e critica o partido mais à direita: “O Chega é a equipa B do PSD”.
Inês Sousa Real clarificou que o partido “não está disponível para dar a mão à AD”e considera que valores da coligação "não fazem jus às necessidades da população a este tempo”.
Já na campanha de Rui Tavares, o coordenador do Livre vê uma dose de “ingenuidade” em Luís Montenegro porque, diz, “as lideranças da direita tradicional em Portugal estão a cometer os mesmos erros que as lideranças do centro-direita cometeram noutros países europeus” sobre a relação com partidos de extrema-direita.
Domingo volta a ser um dia agitado para o PS, que aposta em banhos de multidão em três sítios fortes para o partido. Montenegro, depois da agitação deste sábado, tem uma agenda mais contida. Vá acompanhado em expresso.pt as nossas reportagens. Obrigada por ter estado por aí
Por onde vão andar os candidatos?
PS - Pedro Nuno Santos
11h00 - Arruada em Caxinas, Vila do Conde
14:30 - Arruada em Guimarães
16h00 - Arruada em Vizela
18h30 - Comício em Braga
21h30 - Comício em Viana do Castelo
AD - Luís Montenegro
11h00 - Arruada na Figueira da Foz
13h00 - Almoço-Comício em Coimbra
17h00 - Comício em Viseu
CH - André Ventura
13h00 - Comício em Castelo Branco
20h00 - Comício em Leiria
IL - Rui Rocha
11h00 - Domingo Libera, Praia de Matosinhos.
16h30 - Visita a uma exploração vinícola em Viseu
BE - Mariana Mortágua
15h00 - Comício em Lisboa
PCP - Paulo Raimundo
10h00 - Sessão com Micro, Pequenos e Médios Empresários (MPME) em Alcácer do Sal
12h30 - Almoço-Comício em Alcácer do Sal
15h00 - Desfile CDU em Lisboa
PAN - Inês Sousa-Real
10h00 - Ação no Passeio Marítimo de Oeiras;
12h00 - Visita ao mercado de Algés.
14h30 - Jogo do Estrela da Amadora (equipa feminina).
Livre - Rui Tavares
10h00 - Visita à Associação Kriativu "atelier de criação para a comunidade" em Lisboa
14h00 - Visita ao Newsmuseum, em Sintra
17h00 - Visita à Associação "A Comunidade Islâmica da Tapada das Mercês e Mem Martins" em Sintra
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