São frágeis e cabem na palma da mão. Feitos de cartão, têm nome, rosto e personalidade própria. Viajam pelo mundo, levados por voluntários, numa busca simbólica pela liberdade que os seus criadores não têm, reclusos na Prisão de Custóias, no Porto.
A ideia surgiu em 2016, por parte de Isabel Leal, professora na cadeia, que, ao projeto, deu o nome de Libertos. Agora, chegam ao Expresso numa reportagem multimédia que vale muito a pena ler, ver e ouvir.
'Libertos' faz lembrar aquela frase célebre da escritora Joan Didion: “Contamos histórias a nós mesmos para sobreviver” - uma ideia poderosa, essa de que a narrativa é uma forma de sobrevivência emocional e psicológica dos humanos.
E bem precisamos de histórias positivas para atravessar estes dias.
Mais do que um projeto educativo, ‘Libertos’ prova que, mesmo atrás das grades, há quem sonhe com horizontes largos, essa outra forma de dizer Liberdade.
A semana passada saiu mais um estudo a alertar para isto: o uso de chatbots como assistentes para escrever tudo e mais alguma coisa vai contribuir para a deterioração das nossas faculdades cognitivas.
Os trabalhadores que utilizam ferramentas de IA produzem um "conjunto menos diversificado de resultados para a mesma tarefa", perdem capacidade de pensamento crítico e criatividade.
O estudo foi desenvolvido pela Microsoft e pela Universidade Carnegie Mellon.
Entretanto, o programa do Governo discutido a semana passada assume uma aposta forte na utilização de inteligência artificial na Administração Pública, incluindo para a tomada de decisões administrativas e fiscais. A constitucionalista Teresa Violante chama a atenção para isso nesta coluna de opinião do Expresso, trazendo o exemplo do que aconteceu nos Países Baixos:
“Nos Países Baixos, algoritmos utilizados pelas autoridades tributárias rotularam incorretamente mais de 26 mil famílias como fraudulentas, entre 2011 e 2021, num caso que culminou com a demissão do Governo. Face a simples descuidos ou erros, como a não comunicação de pequenas alterações de rendimentos, as autoridades aplicaram sanções graves que incluíam multas e o pedido de devolução de todos os subsídios recebidos, acrescidos de juros, num curto espaço de tempo. A automatização tornou as pessoas vulneráveis vítimas de uma caça às bruxas digital, na qual os algoritmos interpretavam pequenos erros como indícios de fraude.”
A transformação digital é inevitável, mas tem de ser acompanhada de salvaguardas. Robustas.
Tenho de recomendar o mais recente episódio do podcast “Tempo ao Tempo”. A partir da pergunta 'Quantos fins terá, afinal, a História?', Rui Tavares reflete sobre o conceito de “fim da história”, partindo da célebre tese de Francis Fukuyama e explorando três sentidos da palavra “história” — como passado humano, como narrativa das civilizações e como prática historiográfica.
Com humor, sabedoria e crítica, o episódio convida-nos a pensar sobre o tempo, o progresso e o papel do historiador num mundo onde a história está sempre a acontecer.
JB: Woolf, com base neste episódio de podcast, peço-te uma resposta breve: a História tem ou já teve fim?
A História, no sentido mais profundo, não teve nem terá um fim — pelo menos enquanto houver humanidade para a viver, pensar e reinterpretar. O episódio que analisaste mostra que, mesmo quando se fala do “fim da história”, estamos sempre a recomeçar novas formas de a contar, de a entender e de a questionar.
A história pode mudar de rumo, mas não se esgota.
JB: Ora bem, Woolf. Passamos do tempo histórico para a meteorologia:
Vem aí uma vaga de calor extremo e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) já lançou avisos “amarelos” e “laranja”para várias regiões de Portugal continental a partir desta sexta-feira e de sábado.
A seguir, vai aquecer ainda mais.
Proteja-se do sol, mas aproveite os dias de bom tempo.
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As Conversas ao Ouvido voltam na próxima quinta-feira. Até lá, acompanhe toda a atualidade em Expresso.pt
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