Boa tarde,
Começo esta newsletter recordando uma crónica que escrevi há meses sobre o livro de Pedro Boucherie, a história dos anos 80.
Boucherie “apresenta uma visão iconoclasta do país, ou seja, uma visão luminosa e otimista de Portugal e isso choca com a preguiça neoqueirosiana da nossa elite cultural. O símbolo máximo desta preguiça foi talvez Vasco Pulido Valente, que vendeu durante décadas a mesma crónica apocalíptica: Portugal é uma choldra, é impossível reformar este país, nada melhora neste país (...) Há uma patine snobe entre os portugueses e a elite, que se comporta muitas vezes como uma elite estrangeira que tem de tutelar estes indígenas, os tugas (...) o Portugal democrático tem sido um sucesso. Não há comparação possível entre o país onde eu nasci, que tinha saído há segundos do terceiro mundo, e o país onde as minhas filhas nasceram, que está por direito no primeiro mundo”.
Contudo, “devido à hegemonia sufocante da choldrite subqueirosiana, nós somos o único país do mundo que não tem uma narrativa nacional para encaixar os factos positivos sobre nós próprios. Nem a esquerda nem a direita conseguiram criar uma narrativa luminosa sobre os 50 anos de democracia, porque ambas adoravam a soberba neoqueirosiana (...) E isso agora deixa-nos numa posição delicada: quando vem dizer que isto nunca muda, que é preciso uma limpeza, que a democracia tem sido uma desilusão, o Chega está só a prosseguir a narrativa mais apreciada pelas elites. O que soa estranho ao ouvido dos portugueses não é a narrativa pessimista e reacionária do Chega, que foi a narrativa do Pulido Valente durante décadas; o que soa estranho é a ideia aqui expressa por Boucherie: Portugal é uma história de sucesso sob qualquer ponto de vista”.
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