Guerra no Médio Oriente

Israel lança maior ataque em 20 anos na Cisjordânia ocupada, ONU alerta para risco de escalada (guerra, dia 327)

As forças israelitas continuaram a avançar em Deir al-Balah, no centro de Gaza (na foto) e realizaram uma grande incursão na Cisjordânia ocupada
As forças israelitas continuaram a avançar em Deir al-Balah, no centro de Gaza (na foto) e realizaram uma grande incursão na Cisjordânia ocupada
MOHAMMED SABER/EPA

As forças israelitas lançaram uma “operação de contraterrorismo” no norte do território palestiniano, que tem sido alvo de crescente violência por parte dos colonos desde o 7 de outubro. Face àquela que foi descrita como a maior incursão militar na Cisjordânia desde a Segunda Intifada, a ONU afirmou que o cenário já difícil “poderá piorar dramaticamente”

Maria Monteiro

Jornalista

Esta quarta-feira, centenas de militares israelitas, apoiados por bulldozers e drones, invadiram três campos de refugiados nas províncias de Jenin, Tulkarem e Tubas, no norte da Cisjordânia ocupada, no âmbito de uma “operação de contraterrorismo” que constituiu o maior ataque àquele território palestiniano desde a Segunda Intifada – revolta palestiniana contra a ocupação israelita –, em 2002, de acordo com a Al Jazeera.

O ataque, que matou pelo menos nove palestinianos, é a face mais visível da escalada da violência que tem sido levada a cabo pelos colonos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental desde o 7 de outubro, e que já terá resultado na morte de cerca de 630 palestinianos, segundo dados da ONU citados pela Lusa.

A operação foi lançada de madrugada e poderá durar vários dias, de acordo com relatos de fontes militares israelitas aos jornais ‘The Times of Israel’ e ‘YNet News’. As movimentações das tropas estarão focadas em Tulkarem, zona a partir da qual os israelitas acreditam que foi planeado e executado o atentado suicida de Telavive que fez um morto a 18 de agosto.

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel disse que a incursão na Cisjordânia ocupada teve como “objetivo destruir as infraestruturas terroristas islamitas-iranianas que aí se estabeleceram”. Numa publicação na rede social X, Israel Kantz argumentou que o Irão, que prometeu retaliar contra Telavive no seguimento da morte do líder político do Hamas no seu território a 29 de junho, “está a trabalhar para estabelecer uma frente terrorista oriental contra Israel na Cisjordânia, segundo o modelo já estabelecido em Gaza e no Líbano, financiando e armando terroristas e contrabandeando armas avançadas da Jordânia".

Ataque “não é incidente isolado”, diz ONU

O chefe da diplomacia israelita sugeriu a “retirada temporária dos residentes palestinianos” do território e comparou a ação de Telavive na Cisjordânia às operações que têm sido realizadas em Gaza. “Devemos enfrentar a ameaça da mesma forma que abordamos a infraestrutura terrorista em Gaza”, defendeu.

A proposta foi criticada pelo Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros. “O paralelo traçado pelo ministro Katz, especialmente sobre a retirada dos residentes palestinianos, ameaça agravar ainda mais a instabilidade”, escreveu Josep Borrell na sua conta da X. O chefe da diplomacia europeia vincou que “a grande operação militar israelita na Cisjordânia não deve ser o ponto de partida de uma extensão da guerra em Gaza, incluindo a destruição em larga escala”.

A ONU condenou as manobras militares de Israel na Cisjordânia, lembrando que estas violam o direito internacional, e manifestou-se preocupada com a “rápida deterioração” da situação naquele território, que “poderá piorar dramaticamente se as forças de segurança de Israel continuarem a usar sistematicamente a força letal e a ignorar a violência perpetrada pelos colonos”, de acordo com um comunicado citado pela Lusa.

O gabinete dos Direitos Humanos da ONU, liderado por Volker Turk, salientou que o último ataque israelita “não é um incidente isolado”, mas “uma consequência direta da política [ilegal] de colonatos de Israel na Cisjordânia ocupada”. A porta-voz do gabinete, Ravina Shamdasani, considerou “alarmante este uso desnecessário ou desproporcional de força e o aumento dos assassínios seletivos e outras execuções sumárias”. A ONU denunciou, ainda, detenções “arbitrárias”, tortura de “milhares de palestinianos”, restrições de movimentos e destruição de propriedades durante os episódios de “implacável” violência dos colonos.

Outras notícias que marcaram o dia:

⇒ Os EUA anunciaram novas sanções contra colonos israelitas, em particular a ONG Hashomer Yosh e seus líderes, acusados de apoiar com material o colonato de Meitarim, e Yitzhak Levi Filant, coordenador de segurança do colonato de Yitzhar. Em comunicado, o porta-voz do Departamento de Estado norte-americano pede “que o governo israelita responsabilize os indivíduos e entidades responsáveis ​​pela violência contra civis na Cisjordânia”. Em reação à medida, o primeiro-ministro de Israel caraterizou como “muito séria a imposição de sanções contra cidadãos israelitas”.

⇒ As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) abateram Faris Qasim, “um terrorista importante da Jihad Islâmica” na fronteira entre a Síria e o Líbano, segundo anunciaram numa publicação na rede social X. De acordo com o Exército israelita, “Qasim era responsável pelo desenvolvimento dos planos operacionais da Jihad Islâmica na Síria e no Líbano” e terá participado no “recrutamento de terroristas palestinianos para a organização terrorista Hezbollah”.

⇒ O Governo de Gaza acusou Israel de atacar as imediações da escola Al Manfaluti, em Deir al Balah, no centro de Gaza, provocando pelo menos oito mortos e vários feridos, escreveu a Lusa. As autoridades locais, encabeçadas pelo Hamas, dizem que os tanques israelitas avançaram sobre uma multidão que estava em frente à escola. O edifício acolhia civis deslocados no contexto das últimas ordens de evacuação, e terá recebido uma destas indicações, mas ninguém saiu por não ter para onde ir.

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