Ministro israelita quer sinagoga na Esplanada das Mesquitas, Hamas pede escalada da violência como resposta (guerra, dia 325)
Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional de Israel
Amir Levy/Getty Images
Ben-Gvir, líder extremista que tem a pasta da Segurança Nacional de Israel, voltou a causar polémica ao sugerir que judeus e muçulmanos têm o mesmo direito a rezar naquele que é um dos locais mais sagrados do Islão. As declarações foram amplamente criticadas por figuras do Governo e da oposição e pelo Hamas, que condenou o “anúncio perigoso” do “ministro terrorista”
Depois de, há duas semanas, irromper pela Esplanada das Mesquitas acompanhado por centenas de apoiantes, desafiando a tradição instituída desde 1967 de que só os muçulmanos podem rezar naquele local, Itamar Ben-Gvir voltou a fazer declarações incendiárias em relação ao direito dos judeus a usar o espaço como local de culto. “As políticas no Monte do Templo [designação utilizada pelos judeus] permitem orações, ponto final”, afirmou, esta segunda-feira, o ministro da Segurança Nacional numa entrevista à rádio do Exército, reproduzida pela Reuters.
Ben-Gvir foi mais longe e admitiu que, se dependesse da sua vontade, construiria uma sinagoga no complexo de 14 hectares, um dos locais mais delicados do Médio Oriente, considerado sagrado por judeus e muçulmanos, e motivo de muitos conflitos na região ao longo dos anos. O ministro israelita tem realizado diversas incursões à Esplanada das Mesquitas desde que assumiu o cargo em 2022, e tem insistido repetidamente na legitimidade da presença dos fiéis judaicos no local.
Os comentários do governante suscitaram um coro de críticas dentro e fora de Israel, uma vez que surgem numa altura em que os mediadores internacionais tentam a todo o custo desbloquear as negociações para alcançar um acordo para o cessar-fogo em Gaza. Face às afirmações de Ben-Gvir, o gabinete de Benjamin Netanyahu emitiu um comunicado a sublinhar que “não há alterações no que diz respeito à posição do Governo sobre a Esplanada das Mesquitas”.
Desespero após um bombardeamento israelita a um hospital, em Deir al-Bael-Balah
Outros membros da coligação de sete partidos condenaram as palavras do líder ultraortodoxo. “Desafiar o status quo no Monte do Templo é uma ação perigosa, desnecessária e irresponsável”, escreveu o ministro da Defesa israelita numa publicação na rede social X. Yoav Gallant, que tem protagonizado acesas e públicas disputas com o colega de Governo, disse ainda que “as ações de Ben-Gvir põem em perigo a segurança nacional do Estado de Israel e o seu estatuto internacional”. Já o ministro do Interior, Moshe Arbel, do partido religioso ultraortodoxo Shas, apelou à exoneração de Ben-Gvir enquanto autoridade máxima sobre a polícia. “A sua falta de sabedoria pode custar vidas”, alertou, citado pelo ‘The Guardian’.
Também as vozes da oposição se fizeram ouvir. Benny Gantz, líder da aliança centrista Unidade Nacional, criticou a “retórica provocadora e irresponsável de alguns” e reiterou que “Israel está empenhado em preservar este estatuto histórico”. “A liberdade de culto será sempre garantida neste local sagrado”, vincou numa publicação no X. Já Yair Lapid, líder da oposição no Knesset (Parlamento israelita) criticou Netanyahu por manter o ministro da Segurança Nacional no Executivo. “Toda a região vê a fraqueza de Netanyahu contra Ben-Gvir”, acusou Lapid na sua conta do X, acrescentando que o primeiro-ministro “não consegue controlar o Governo mesmo quando há uma tentativa clara de minar a segurança nacional”.
Uma família em fuga à destruição, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina também censurou as declarações do ministro israelita, que na sua perspetiva está a empurrar a região para um estado de “conflito perpétuo” e a comprometer os esforços nacionais e internacionais para acabar com as hostilidades em Gaza, segundo a Al Jazeera.
O Hamas, por sua vez, lamentou o “anúncio perigoso” do “ministro terrorista Ben-Gvir” e convocou o povo palestiniano “na Cisjordânia e no interior ocupado [território israelita] para que se mobiliza e marche pelos pátios de Al-Aqsa e confronte os planos da ocupação”, de acordo com um comunicado citado pela Lusa. O grupo paramilitar palestiniano impeliu a população a escalar a violência contra o “inimigo criminoso e os bandos de colonos” e salientou que ações como esta só “adicionam mais combustível ao fogo”.
Destruição provocada por bombardeamentos israelitas, em Deir al-Balah, na Faixa de Gaza
⇒ Benjamin Netanyahu está a ser alvo de duras críticas devido à natureza restrita dos ataques aéreos preventivos levados a cabo no domingo contra o Hezbollah, que lançou 320 rockets contra Israel naquela que foi a “primeira fase” da retaliação pela morte do alto comandante Fuad Shukr. As investidas israelitas conseguiram travar, em grande medida, a incursão do Hezbollah, mas não permitiram que os 80 mil deslocados do norte de Israel voltassem a casa, escreveu o ‘The Guardian’. Representantes dos israelitas deslocados acusaram a coligação governativa de dar prioridade à defesa do centro do país e negligenciar o norte. Também figuras políticas de diferentes quadrantes políticos, como Benny Gantz e Itamar Ben-Gvir, lamentaram a insuficiência dos ataques. O ministro da Segurança Nacional defendeu mesmo a necessidade de uma “guerra decisiva contra o Hezbollah”.
⇒ O Hamas e Israel rejeitaram as propostas de compromisso abordadas nas conversações que decorreram no domingo, no Cairo, noticiou a Reuters, citando duas fontes egípcias. Os mediadores apresentaram alternativas à presença israelita no Corredor de Filadélfia e na junção de Netzarim, mas nenhuma foi aceite. Além disso, Israel mostrou reservas quanto a vários prisioneiros palestinianos cuja libertação é reclamada pelo Hamas e exigiu a sua saída de Gaza se forem efetivamente libertados. O Egito também frisou que não quer tropas israelitas estacionadas na passagem de Rafah ou no Corredor de Filadélfia, segundo a emissora estatal Al Qahera News TV. Face ao impasse, as negociações para o cessar-fogo continuam na capital egípcia, mas com grupos de trabalho em vez dos altos responsáveis que já estiveram presentes, relatou um funcionário norte-americano à Associated Press (AP).