Guerra no Médio Oriente

Cessar-fogo em Gaza pode dissuadir Irão, Ocidente condena entrada de israelitas ultraortodoxos em Al-Aqsa: guerra, dia 312

Funeral de Ismail Haniyeh em Teerão, no Irão
Funeral de Ismail Haniyeh em Teerão, no Irão
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Centenas de nacionalistas, liderados pelo ministro Itamar Ben-Gvir, entraram esta terça-feira na histórica mesquita em Jerusalém para rezar, violando a lei internacional em torno de um dos espaços mais sagrados para o mundo muçulmano

Cessar-fogo em Gaza pode dissuadir Irão, Ocidente condena entrada de israelitas ultraortodoxos em Al-Aqsa: guerra, dia 312

Hélio Carvalho

Jornalista

As autoridades iranianas, que têm ameaçado uma retaliação contra Israel pelo assassinato do líder do Hamas na capital iraniana, poderão ser dissuadidas se um cessar-fogo na Faixa de Gaza for conseguido, segundo avançaram três fontes do Governo do Irão à Reuters.

A morte de Ismail Haniyeh, o líder político do Hamas que estava a liderar as negociações por um cessar-fogo em Gaza, foi considerada por Teerão como uma forte provocação e invasão da sua soberania por Israel. Os receios da comunidade internacional por uma escalada da situação humanitária nos territórios palestinianos ocupados, para uma guerra aberta no Médio Oriente, têm crescido nos últimos dias.

Vários líderes mundiais apelaram a que as autoridades de Gaza e israelitas acordassem uma pausa no enclave e a libertação de reféns, pausa essa negociada por países como o Catar e o Egito. Entretanto, os Estados Unidos mobilizaram navios de guerra e um submarino, prometendo manter a defesa incontestada a Israel.

Uma das fontes, citada pela agência britânica como um oficial do Governo, explicou que o Irão e o grupo radical Hezbollah, do Líbano, vão considerar um ataque a Israel, caso não seja possível chegar a um acordo ou se entenderem que Telavive está a arrastar as negociações.

Ao mesmo tempo, as forças iranianas estão também em diálogo com os países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, de modo a evitar uma resposta que provoque uma escalada da tensão geopolítica no Médio Oriente.

Duas das fontes disseram ainda à Reuters que o Irão está até a avaliar a hipótese de enviar um representante para as negociações entre o Hamas e Israel, que devem começar na quinta-feira, no Egito ou no Catar. Esta seria a primeira vez que a República Islâmica do Irão, que se tem mantido sempre do lado dos grupos radicais que suporta na região, entraria nas negociações de paz desde o início da operação israelita em Gaza. Esta presença diplomática seria fora de canais oficiais, com vista apenas a “manter uma linha de comunicação”.

Por outro lado, outros dois oficiais próximos do Hezbollah avisaram que, embora o Irão dê sinais de abertura diplomática, continua a não deixar de parte uma retaliação contra Israel pelos ataques no seu território.

Um cessar-fogo, acrescentou um dos citados pela Reuters, permitiria também que o Irão optasse por uma resposta mais “simbólica”.

EUA e UE condenam entrada de centenas de israelitas em Mesquita de Al-Aqsa

O ministro israelita da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, obrigou esta terça-feira ao encerramento da histórica Mesquita de Al-Aqsa a palestinianos, e encaminhou centenas de israelitas ultraortodoxos para rezar no complexo, que constitui um dos locais mais sagrados do Islão.

A medida não é nova e Ben Gvir tem recorrentemente visitado Al-Aqsa, apesar de as autoridades jordanas, a comunidade internacional e grupos de direitos humanos criticarem estas ‘visitas’ como uma violação das regras sobre a Esplanada das Mesquitas. Em Jerusalém Oriental ocupada, judeus e não-muçulmanos podem visitar a Mesquita de Al-Aqsa, mas não devem mostrar símbolos de outras religiões ou rezar.

O mesmo é aplicado no Muro das Lamentações, muito perto da mesquita, embora essa parte seja controlada plenamente por Israel, que não permite a entrada de palestinianos.

Os Estados Unidos criticaram Ben Gvir pela intrusão, considerando que as ações do ministro prejudicam os esforços internacionais por um cessar-fogo na Faixa de Gaza.

“Os EUA apoiam firmemente a preservação do status quo histórico no que diz respeito aos locais sagrados de Jerusalém, e qualquer ação unilateral que prejudique esse status quo é inaceitável”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, em conferência de imprensa citada pela Al Jazeera.

E acrescentou que a iniciativa do Governo israelita “não só é inaceitável, como distrai do que achamos ser uma altura crucial, quando estamos a trabalhar para que este acordo chegue a bom porto”.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, também lamentou a entrada de militantes de extrema-direita ultraortodoxos em Al-Aqsa. Borrell, através da rede social X (antigo Twitter), afirmou que “a União Europeia condena as provocações” do ministro da Segurança Nacional e apelou para que “o status quo seja mantido, relativamente ao papel especial da Jordânia”, que assegura a segurança e a manutenção da Esplanada das Mesquitas.

Itamar Ben-Gvir já foi várias vezes condenado pelos EUA e pela NATO. O ministro, da extrema-direita israelita mais radical, defende uma expansão dos colonatos ilegais na Cisjordânia ocupada (o próprio vive num colonato) e um aumento da ofensiva militar na Faixa de Gaza. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu precisa do apoio da extrema-direita para segurar o Governo, e esta insistência de ministros como Ben-Gvir e Bezalel Smotrich têm sido obstáculos constantes nas negociações.

Outras notícias:

> Pela primeira vez em vários meses, o Hamas voltou a atacar a cidade de Telavive com dois ‘rockets’. O grupo palestiniano reivindicou o ataque, avançou a AFP, que não resultou em quaisquer baixas civis ou militares;

> O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se esta terça-feira numa sessão aberta de emergência, depois de um pedido feito pela representação da Argélia, para discutir o ataque israelita do passado dia 10 de agosto contra a escola de al-Tabin. O bombardeamento atingiu a escola convertida em abrigo para palestinianos deslocados pela ofensiva israelita, matando mais de 100 pessoas;

> O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza anunciou que pelo menos 115 bebés, nascidos desde o início da ofensiva no passado dia 7 de outubro, foram mortos por ataques israelitas. A partir do enclave, têm surgido vários casos de partos que resultaram em mortes, tanto para as mães como para as crianças, tanto pelos bombardeamentos como pelas condições de saúde extremamente deficitárias na região.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hcarvalho@expresso.impresa.pt

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