Guerra no Médio Oriente

Estudo da revista The Lancet estima mais de 186 mil palestinianos mortos por Israel na Faixa de Gaza

Estudo da revista The Lancet estima mais de 186 mil palestinianos mortos por Israel na Faixa de Gaza
Abed Rahim Khatib/Anadolu via Getty Images

A revista médica fixou o total com base nos milhares de mortos ainda por retirar debaixo dos escombros e as vítimas de causas indiretas, como a falta de acesso a condições de saúde, comida, água ou abrigo. O valor traduz-se em cerca de 8% da população do território palestiniano ocupado

Estudo da revista The Lancet estima mais de 186 mil palestinianos mortos por Israel na Faixa de Gaza

Hélio Carvalho

Jornalista

Há largos meses que as autoridades de saúde na Faixa de Gaza, e várias organizações não-governamentais, têm alertado que o número real de pessoas mortas por Israel na Faixa de Gaza será muito mais elevado do que os cerca de 38 mil palestinianos até agora registados. Segundo a estimativa avançada pela revista The Lancet na sexta-feira, o total real pode mesmo exceder os 186 mil mortos no pequeno enclave.

No estudo, a The Lancet, uma das revistas médicas mais conceituadas do mundo, explica que o número oficial não tem em conta as milhares de pessoas que foram ficando presas nos escombros de edifícios, derrubados e destruídos por bombardeamentos israelitas. Também não considera as mortes que resultaram das consequências indiretas da ofensiva israelita, por causa de fatores como a falta de infraestruturas médicas, serviços públicos ou acesso a comida e bens de primeira necessidade.

“Os conflitos armados têm implicações de saúde indiretas para além do mal direto da violência. Mesmo que o conflito termine imediatamente, continuarão a ocorrer mortes indiretas nos próximos meses e anos por vários tipos de doenças. É expectável que o número de mortos total seja grande devido à intensidade do conflito; infraestruturas de saúde destruídas; grave escassez de água, comida e abrigo; impossibilidade de a população fugir para espaços seguros; e à perda de financiamento da UNRWA, uma das poucas organizações humanitárias ainda ativas na Faixa de Gaza”, explica a revista.

Tendo em conta estes fatores, e avaliando outras situações de guerra ou de ofensivas contra civis, os especialistas aplicaram “uma estimativa conservadora de quatro mortes indiretas por cada morte direta”, e concluíram que “não é implausível” que Israel tenha matado mais de 186 mil palestinianos - o que se significaria que entre 7% e 9% de toda a população da Faixa de Gaza foi morta desde o dia 7 de outubro.

Contabilizar os mortos em Gaza tem sido difícil para os trabalhadores humanitários, cujas próprias vidas estão também em risco. Aliás, a Organização das Nações Unidas alertou que a ofensiva israelita já provocou o maior número de mortes de trabalhadores humanitários em qualquer conflito no espaço de menos de um ano, com mais de 200 mortos.

Em maio, quando foram contados 196 trabalhadores da ONU mortos, e após um ataque israelita a funcionários da World Central Kitchen, o secretário-geral da instituição, António Guterres, criticou a operação militar de Israel e pediu um aumento da entrada de ajuda humanitária na região palestiniana.

“Recolher dados tornou-se cada vez mais difícil para o ministério de Saúde de Gaza devido à destruição de tanta da sua infraestrutura. O ministério tem complementado o seu trabalho habitual, com base em pessoas mortas em hospitais ou trazidas já sem vida, com informações de fontes credíveis e dos paramédicos. Esta mudança inevitavelmente degradou os dados detalhados recolhidos anteriormente. Consequentemente, o ministério de Saúde de Gaza agora divulga separadamente o número de corpos não identificados, além do número de mortos”, esclareceu ainda a revista médica, acrescentando que até ao dia 10 de maio, estavam por identificar 35.091 corpos.

Os números avançados pelas autoridades de saúde de Gaza, que são geridas pelo Hamas, têm sido muito contestados por Telavive, que acusa o grupo fundamentalista palestiniano de inflacionar o número de civis mortos por Israel. O Governo israelita argumenta que matou mais de 10 mil “combatentes do Hamas”, mas não oferece qualquer indicação sobre os civis.

Contudo, em dezembro, a The Lancet publicou duas avaliações do processo de vigilância israelita, realizadas por especialistas em duas das instituições médicas internacionais mais aclamadas do mundo, a universidade Johns Hopkins e a London School of Hygiene and Tropical Medicine. Ambas concluíram que os valores do governo de Gaza são plausíveis e credíveis, segundo a revista norte-americana TIME.

Até esta terça-feira, os valores oficiais apontavam para38.193 pessoas mortas pela ofensiva israelita, incluindo mais de 15.000 crianças. Segundo os dados das autoridades de saúde de Gaza, foram registados mais de 87 mil feridos e mais de 10 mil desaparecidos.

A ofensiva israelita foi espoletada pelos ataques do dia 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, pelo Hamas, com o grupo extremista a matar mais de 1.100 pessoas e a raptar mais de 200. Atualmente, ainda cerca de 130 reféns continuam retidos na Faixa de Gaza.

Entretanto, na Cisjordânia ocupada, as operações israelitas na região, que se intensificaram em resposta ao ataque do Hamas, já resultaram em 571 palestinianos mortos pelas forças de segurança, incluindo mais de 130 crianças.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hcarvalho@expresso.impresa.pt

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