Novos ataques em Gaza obrigam milhares a fugir, negociações sobre cessar-fogo dividem Governo (guerra, dia 278)
O rasto de destruição deixado por um ataque aéreo israelita ao campo de refugiados de Al- Nusairat, na Faixa de Gaza, a 6 de julho
MOHAMMED SABER/EPA
Israel lançou, esta segunda-feira, uma nova incursão na cidade de Gaza, levando à deslocação forçada de centenas de famílias que permaneciam na área. A escalada da violência surge numa altura em que Telavive e o Hamas pareciam mais próximos de avançar nas negociações de cessar-fogo, tema que tem evidenciado as fraturas no Executivo de Netanyahu
As tropas israelitas intensificaram, esta segunda-feira, as operações militares em vários pontos da cidade de Gaza com o objetivo de localizar e combater os membros do Hamas e de outras milícias palestinianas, que Telavive diz estarem escondidos entre os civis naquele território, nomeadamente em estruturas como a sede da UNRWA (agência da ONU para os refugiados palestinianos) ou o Hospital al-Ahli.
Segundo a Lusa, os militares invadiram e destruíram escolas e uma clínica do bairro de Shijaiyah – cenário de acesos combates há semanas – que alegaram terem sido transformados em complexos do movimento islamita.
O Exército israelita emitiu várias ordens de evacuação em bairros como Sabra, Remal, Tal al-Hawa e Daraj, obrigando os residentes a dirigir-se para uma “zona humanitária” em al-Mawasi, no extremo sul da Faixa de Gaza, que já foi anteriormente atacada por Israel, de acordo com a Al Jazeera.
Paralelamente, centenas de famílias saíram das suas casas nos bairros de Tuffah, Daraj e na Cidade Velha da Cidade de Gaza em direção ao mar, depois dos alertas de Israel. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 40 pessoas morreram no seguimento da última investida israelita.
Os palestinianos vêem-se cada vez mais encurralados, já que nenhum lugar é considerado seguro, e a maioria da população de 2,3 milhões de pessoas está, atualmente, deslocada, recorda a Lusa.
“Fugimos na escuridão no meio de fortes ataques”, contou Sayeda Abdel-Baki, mãe de três filhos que se abrigou junto de familiares no bairro de Daraj, à Associated Press (AP). “Esta é a quinta vez que sou deslocada”, acrescentou.
A mais recente incursão em Gaza acontece numa altura em que Israel e o Hamas pareciam mais perto de chegar a um acordo para avançar com as negociações de cessar-fogo. No domingo, o movimento palestiniano tinha aceitado negociar a libertação de reféns israelitas e de prisioneiros palestinianos mesmo sem Israel se comprometer com um cessar-fogo permanente, como havia exigido previamente.
Em declarações à AFP, um alto responsável do Hamas disse que o primeiro-ministro israelita terá ordenado a escalada dos combates em Gaza de forma a inviabilizar o último esforço de tréguas entre as partes. Benjamin Netanyahu tinha divulgado, também no domingo, uma lista de condições para o cessar-fogo em Gaza, que incluía a possibilidade das tropas israelitas regressarem ao enclave palestiniano “e lutar até que todos os objetivos da guerra sejam alcançados”.
As negociações para o cessar-fogo em Gaza têm sido um tema fraturante na classe política israelita, designadamente no Governo de Netanyahu. Segundo a Al Jazeera, várias figuras têm acusado o primeiro-ministro de sabotar as conversações para tentar garantir a sua sobrevivência política, numa altura em que o descontentamento dos israelitas com o Executivo é cada vez mais notório.
O ministro das Finanças manifestou, esta segunda-feira, a sua discordância em relação a um futuro cessar-fogo em Gaza, classificando-o como uma “derrota e humilhação para Israel”. “Não faremos parte de um acordo para nos rendermos ao Hamas”, declarou Bezalel Smotrich, do partido de extrema-direita Tkuma.
Reagindo às condições publicadas por Netanyahu no domingo, o líder da oposição interrogou, numa publicação na rede social X: “Estamos num momento crítico das negociações, as vidas dos reféns dependem disso, porquê transmitir mensagens tão provocatórias?”.
Já esta segunda-feira, Yair Lapid assegurou que o primeiro-ministro israelita não ficaria sem uma “rede de segurança” caso assinasse o acordo de cessar-fogo e perdesse o apoio dos dois ministros de extrema-direita, Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, cujos partidos dão a maioria à sua coligação governamental.
Veículos militares israelitas em Jenin, na Cisjordânia
⇒ A guerra entre Israel e o Hamas pode ter originado até 186 mil mortes em Gaza, um número bem superior às 38 mil reportadas pelas autoridades locais, de acordo com uma investigação publicada na revista científica ‘The Lancet’. A estimativa inclui as mortes diretas do conflito e as mortes indiretas, relacionadas com causas como doenças, fome ou falta de cuidados médicos.
⇒ As famílias de reféns israelitas que se encontram na Faixa de Gaza apelaram a Benjamin Netanyahu que adie o seu discurso no Congresso dos EUA até que seja assinado um acordo para a sua libertação, noticiou a Al Jazeera. O primeiro-ministro israelita deverá falar numa sessão conjunta do parlamento norte-americano agendada para 24 de julho.