Guerra no Médio Oriente

O telefonema tenso entre Biden e Netanyahu e a exigência da justiça israelita às suas autoridades: Gaza, dia 181

Estados Unidos e de Israel associados a morte, numa manifestação pró-palestiniana, na cidade colombiana de Medellín
Estados Unidos e de Israel associados a morte, numa manifestação pró-palestiniana, na cidade colombiana de Medellín
Fredy Builes / Getty Images

Pela primeira vez desde o início da guerra, o presidente dos EUA ameaçou passar das palavras aos atos se Israel não começar a respeitar o direito humanitário em Gaza. Supremo Tribunal israelita obriga autoridades a justificar restrições na entrada de alimentos

Poucos dias depois de um ataque israelita ter matado sete voluntários em Gaza, Joe Biden e Benjamin Netanyahu tiveram um telefonema tenso que durou menos de 30 minutos: "O Presidente deixou clara a necessidade de Israel anunciar e aplicar uma série de medidas específicas, concretas e mensuráveis para lidar com o problema dos danos a civis, do sofrimento humanitário e da segurança dos trabalhadores humanitários", afirmou a Casa Branca em comunicado.

Esta parte do discurso norte-americano não é nova, mas esta é: "Ele deixou claro que a política dos Estados Unidos em relação a Gaza será determinada pela nossa avaliação da ação imediata de Israel em relação a tais medidas", acrescenta Washington – frisando que um alcançar um acordo para um "cessar-fogo imediato é essencial".

Ao mesmo tempo, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse à imprensa em Bruxelas que o apoio dos Estados será reduzido se Israel não fizer ajustes significativos na forma como está a conduzir a guerra na Faixa de Gaza. “Se não virmos as mudanças que precisamos de ver, haverá mudanças na nossa política", declarou.

A Casa Branca afirmou que os EUA não tencionam realizar a sua própria investigação à morte dos trabalhadores, mas sublinhou que Israel tem de fazer mais para impedir a morte de civis e trabalhadores humanitários inocentes.

Supremo Tribunal obriga autoridades israelitas a justificar falta de alimentos em Gaza

Enquanto outras organizações de direitos humanos alertaram que a morte de funcionários é uma situação recorrente, cinco ONG israelitas de Israel pediram hoje ao Supremo Tribunal que exija ao Estado a distribuição de mais ajuda humanitária a Gaza.

"Durante a audiência pedida pelas associações, o tribunal reconheceu que a ajuda que chega à faixa de Gaza é insuficiente. Esperamos que os juízes ordenem às autoridades israelitas que removam os obstáculos à entrada e distribuição de ajuda", disse à France-Presse Miriam Marmur, líder da ONG Gisha.

O tribunal ouviu os depoimentos das associações e deu às autoridades israelitas até ao dia 10 de abril para apresentarem documentos adicionais sobre as suas operações – nomeadamente a quantidade de ajuda necessária, horários dos pontos de passagem, número de camiões, número de pedidos e recusas e processo de entrada.

As ONG terão, depois, cinco dias para reagir às respostas que o Estado de Israel fornecer.

Israel garante que não representa um obstáculo à chegada de ajuda ao território palestiniano, mas as organizações humanitárias internacionais e as Nações Unidas denunciam regularmente as restrições, assim como a carga administrativa imposta à entrada e distribuição de produtos alimentares e outros bens essenciais.

Outras notícias

> O ataque de Israel contra os voluntários também matou três cidadãos britânicos. Hoje, o governo do Reino Unido foi pressionado por mais de 600 ex-juízes, advogados e académicos britânicos a suspender a venda de armas a Israel para evitar "o risco plausível de genocídio" contra palestinianos em Gaza. Segundo estes especialistas, Rushi Sunak “deve tomar medidas imediatas para pôr termo aos atos que dão origem a um risco grave de genocídio" – incluindo ponderar sanções comerciais contra Israel.

> As autoridades palestinas dizem que Israel matou 400 pessoas durante as duas semanas de cerco ao Hospital Al-Shifa, o maior de Gaza, e prendeu outras 350 – incluindo pacientes e profissionais de saúde. No relatório publicado após o fim da operação, Israel diz que matou 200 militantes do Hamas, e que prendeu mais de 900 suspeitos de estarem ligados ao grupo.

> O exército israelita diz que operou de forma "precisa" para eliminar membros do Hamas nos arredores do hospital, e tentou prevenir danos a "civis, pacientes e equipas médicas". Estas garantias não correspondem à realidade reportada no terreno: "Confirmamos que foram alvejados médicos perto ou à volta do hospital", diz à Lusa Mohammad Abu Mughaiseb, dos Médicos Sem Fronteiras. Pelo menos 21 doentes foram mortos, segundo a ONU.

> Em nível de alerta militar elevado, a população de Israel teme um ataque do Irão a qualquer momento, após Telavive ter assassinado três altos comandantes militares de Teerão. Segundo o El País, a população já está a armazenar alimentos, água e geradores, reagindo às palavras de hoje de Netanyahu: “Há anos que o Irão trabalha contra nós”, mas “saberemos defender-nos”, afirmou o primeiro-ministro.

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