EUA e Reino Unido lançam mais de 60 ataques contra Hutis no Iémen: perguntas e respostas sobre a tensão no mar Vermelho
Anadolu
Pelo menos 16 locais no Iémen foram atingidos durante a madrugada por mísseis e jatos de combate. Segundo os EUA e o Reino Unido, os bombardeamentos foram uma resposta às ofensivas dos rebeldes contra a navegação no mar Vermelho: os Hutis lançaram 27 ataques desde novembro, em retaliação pela guerra Israel-Hamas em Gaza, afetando outros navios mercantes e destabilizando o comércio marítimo global
Na madrugada desta sexta-feira, as forças norte-americanas e britânicas bombardearam vários locais usados pelos Hutis no Iémen, usando mísseis Tomahawk e jatos de combate lançados por navios de guerra e submarinos.
O comando da Força Aérea dos EUA no Médio Oriente precisou ter atingido mais de 60 alvos em 16 locais, incluindo “bases de comando e controlo, depósitos de munições, sistemas de lançamento, instalações de produção e sistemas de radar de defesa aérea”.
Os bombardeamentos atingiram a capital do Iémen, Sanaa, e outras cidades controladas pelos rebeldes apoiados pelo Irão, como Hodeida e Saada, informou o canal de televisão Houthi Al-Massirah. Cinco combatentes foram mortos e seis ficaram feridos.
Porquê?
Os Estados Unidos, o Reino Unido e outros oito países justificaram os ataques aéreos com a necessidade de proteger a liberdade de navegação no mar Vermelho, após as recentes ofensivas dos rebeldes neste golfo.
Desde 19 de novembro, os Hutis lançaram 27 ataques com drones e mísseis contra navios comerciais, em retaliação pela guerra de Israel contra o Hamas em Gaza e tendo como alvo navios com ligação a Israel. Alegam que os seus ataques visam parar a agressão de Telavive.
Numa declaração conjunta, os dez países signatários (EUA, Reino Unido, Austrália, Bahrein, Canadá, Países Baixos, Dinamarca, Alemanha, Nova Zelândia e Coreia do Sul) vincaram que o objetivo continua a ser “reduzir as tensões e restaurar a estabilidade no Mar Vermelho”.
“Não hesitaremos em defender vidas e proteger o livre fluxo do comércio numa das rotas marítimas mais críticas do mundo face às ameaças contínuas. As ações de hoje demonstram um compromisso comum com a liberdade de navegação, o comércio internacional e a defesa da vida dos marinheiros face a ataques ilegais e injustificáveis”, acrescentaram.
Como responderam os Hutis?
Os rebeldes tinham garantido, na quinta-feira, que qualquer ataque das forças americanas no Iémen desencadearia uma resposta militar feroz. E, em retaliação, os Hutis lançaram mísseis de cruzeiro e balísticos contra navios de guerra norte-americanos e britânicos no mar Vermelho, adiantou uma fonte à agência de notícias espanhola Efe.
Qual o contexto?
Este ataque militar coordenado ocorre apenas uma semana depois de a Casa Branca e várias nações parceiras terem emitido um aviso final aos Hutis para cessarem os ataques, sob pena de enfrentarem uma potencial ação militar.
O aviso parece ter tido pelo menos algum impacto de curta duração, já que os ataques pararam durante vários dias. No entanto, na terça-feira os insurgentes dispararam a sua maior vaga de drones e mísseis no mar Vermelho, com navios norte-americanos e britânicos e caças norte-americanos a responderem e a abaterem 18 drones, dois mísseis de cruzeiro e um míssil anti-navio.
Quais as consequências?
Perante todos este ataques e retaliações no mar Vermelho, as principais companhias marítimas a nível mundial continuam a ajustar as rotas para evitar transitar por este trajeto, através do qual transita quase 15% do comércio marítimo global, incluindo 8% do comércio mundial de cereais, 12% do comércio petrolífero e 8% do comércio mundial de gás natural liquefeito.
Mais de 20 nações já participam numa missão marítima liderada pelos EUA para aumentar a proteção dos navios no mar Vermelho. Em concreto, a diplomacia saudita recordou que a liberdade de navegação é “uma exigência internacional porque prejudica os interesses do mundo inteiro”.
Que reações houve?
Irão
O Irão alertou que os “ataques arbitrários” desta madrugada podem agravar a instabilidade no Médio Oriente: “Não terão outro resultado senão alimentar a insegurança e a instabilidade na região”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano. Naser Kanani disse tratar-se de “uma clara violação da soberania e integridade territorial do Iémen e uma violação do direito internacional”.
Hamas
Também o Hamas condenou “veementemente a agressão flagrante dos EUA e do Reino Unido ao Iémen”: “Consideramo-los responsáveis pelas repercussões na segurança regional”. Sami Abu Zuhri, um dos dirigentes do grupo, descreveu os bombardeamentos como “uma provocação a toda a nação, que indica a decisão de expandir a área de conflito para fora de Gaza”.
Hezbollah
Da mesma forma, o movimento libanês xiita pró-iraniano Hezbollah acusou os EUA de serem “parceiros de pleno direito” nos “massacres” cometidos por Israel em Gaza e na Cisjordânia e manifestou solidariedade com os rebeldes do Iémen. “Esta agressão não os enfraquecerá, mas aumentará a sua força, determinação e coragem para enfrentá-los, defender-se e continuar o seu caminho em apoio ao povo palestiniano”, assegurou a milícia.
Arábia Saudita
Já Arábia Saudita, um dos principais aliados dos EUA no Médio Oriente, apelou à necessidade de “contenção e evitar a escalada” das tensões. O Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita disse que “acompanha com grande preocupação as operações militares que ocorrem na região do Mar Vermelho e os ataques aéreos contra vários locais da República do Iémen”.
China
A China também já reagiu, mostrando-se “preocupada com a escalada das tensões no mar Vermelho”. O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, instou “as partes envolvidas a manterem a calma e a exercerem contenção, a fim de evitar que o conflito se alastre” no Médio Oriente.
Rússia
Por sua vez, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo salientou que os bombardeamentos “são um novo exemplo da distorção das resoluções do Conselho de Segurança da ONU por parte dos anglo-saxões e do seu total desrespeito pelo direito internacional”. Numa mensagem publicada na plataforma Telegram, Maria Zajarova acusou Washington e Londres de agir “em nome de uma escalada na região para alcançar os seus objetivos destrutivos”.
França
A França anunciou que apoia a ação militar contra os Hutis, sublinhando o seu apoio à resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza uma resposta aos ataques no mar Vermelho. Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês reiterou a sua “condenação aos ataques perpetrados pelos Hutis no mar Vermelho contra navios comerciais” com os quais assumem uma “responsabilidade extremamente forte na escalada regional”.
Turquia
Finalmente, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, acusou os EUA e o Reino Unido de responderem de forma desproporcional. “Estão a usar a mesma força desproporcional contra os palestinianos e os britânicos estão a seguir os passos dos EUA. Estão a tentar criar um banho de sangue no mar Vermelho”, declarou o chefe de Estado turco aos jornalistas, após a oração desta sexta-feira.