Quem controla as imagens controla quase tudo. A emoção facilita a desinformação e o maniqueísmo que está a permitir uma aberrante criminalização de uma causa que tem o direito internacional do seu lado. O papel do jornalismo é acrescentar contexto e razão ao que é paixão e emoção. Porque nada é mais fácil de manipular do que a dor
Um vídeo com mais de 230 mil visualizações, no próprio dia em que foi publicado no Twitter, mostra um membro do Hamas a abater um helicóptero israelita. Outro, com mais de 3 milhões, exibe um edifício a ruir em Israel depois de um ataque do Hamas. Têm em comum serem falsos. O primeiro é retirado de um jogo de computador, Arma 3, o segundo mostra o resultado do ataque aéreo israelita à Torre Palestina, em Gaza. Não são casos isolados. Shayan Sardarizadeh, o jornalista do programa de verificação de conteúdos falsos da BBC, garante nunca ter visto tanto conteúdo falso a circular no Twitter ou no Tik Tok.
Nunca tivemos acesso a tantas imagens dos conflitos que mais ocupam o espaço público como na última década e meia – Síria, Ucrânia e Israel e Gaza. Com a viralidade das redes sociais, o seu alcance é instantâneo e quanto mais brutal mais longe e depressa chega. As partes beligerantes sabem-no. A Ucrânia revelou-se exímia no aproveitamento mediático das redes sociais, com uma gestão hiperprofissional da atenção e simpatia das opiniões públicas. O Hamas filmou e divulgou a barbárie do dia 7 de outubro como ponto central da campanha de choque e terror para forçar uma violentíssima reação israelita.
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