Retaliação de Israel contra o Irão? O que se sabe sobre o ataque que não foi reivindicado por Telavive nem assumido por Teerão
Televisão oficial iraniana confirmou "fortes explosões" na província de Isfahan, no centro do país. Fontes norte-americanas confirmam que Israel realizou um ataque no interior do Irão
HOSSEIN BERIS
Três drones foram abatidos pelo sistema de defesa aérea iraniano em Isfahan. Mas Teerão não fala num ataque israelita, aliás, diz que os drones vieram do interior do país. Do outro lado, Telavive mantém-se em silêncio: “De momento não temos comentários a fazer”. A notícia do ataque retaliatório foi avançada por fontes citadas na imprensa dos EUA
Israel lançou um ataque em solo iraniano na madrugada desta sexta-feira, segundo a informação avançada por fontes norte-americanas citadas na imprensa. A província de Isfahan, no centro do Irão, foi alvo de várias explosões, no que será a retaliação israelita ao ataque iraniano com mísseis e drones do último sábado.
Pelo menos três veículos aéreos não tripulados foram abatidos em Isfahan: “Pouco depois da meia-noite, três drones foram observados no céu sobre Isfahan. O sistema de defesa aérea entrou em ação e destruiu esses drones”, informou a televisão oficial do país, precisando que os drones vieram do interior do país, como já aconteceu no passado.
“A origem estrangeira do incidente não foi confirmada; não recebemos nenhum ataque externo e a discussão inclina-se mais para a infiltração do que para o ataque”, disse um alto funcionário iraniano à agência Reuters, sob a condição de anonimato.
Também o Presidente do Irão, Ebrahim Raisi, falou esta sexta-feira sobre a situação no Médio Oriente diante de centenas de pessoas na cidade de Damghan, no nordeste, mas sem nunca referir as explosões registadas horas antes. O líder iraniano tinha prometido uma “resposta severa” caso Israel chegasse a retaliar.
Não há, por isso, planos de um contra-ataque imediato. O comandante-chefe do Exército iraniano, o major-general Abdul Rahim Mousavi, disse apenas que a resposta de Teerão “já foi vista”, numa aparente referência ao ataque que levaram a cabo no sábado.
Israel em silêncio
O alegado ataque israelita ocorre no dia do 85.º aniversário do líder supremo iraniano, Ayatollah Ali Khamenei.
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, Israel atacou também uma posição militar no sul da Síria. “Os ataques israelitas visaram uma posição de radar do exército sírio entre as províncias de Sueida e Dera”, avançou o diretor desta organização não-governamental, Rami Abdel Rahman.
O Iraque, por sua vez, detetou “a passagem de objetos no seu espaço aéreo às primeiras horas de hoje em direção ao Irão”, revelou um coronel do Ministério do Interior do Iraque. O mesmo oficial, que pediu para não ser identificado, acrescentou que “não foi registado nenhum ataque dentro do território iraquiano”.
Telavive ainda não se pronunciou sobre a retaliação: “De momento não temos comentários a fazer”, disse um porta-voz do exército israelita à agência de notícias AFP. A cadeia de televisão ABC News foi um dos primeiros órgãos de informação norte-americanos a dar conta do ataque. Também o jornal “New York Times” cita funcionários israelitas não identificados que reivindicam a agressão.
Os Estados Unidos já descartaram qualquer envolvimento numa “operação ofensiva”. Recusando-se a falar sobre “os acontecimentos relatados pelos meios de comunicação social”, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou: “Tudo o que posso dizer, da nossa parte e da parte de todos os membros do G7, é que o nosso objetivo é o desanuviamento”.
Irão abre investigação à dimensão do ataque
O Irão ativou logo a defesa aérea em várias províncias, de acordo com a agência de notícias estatal iraniana IRNA. Inicialmente, foram suspensos todos os voos comerciais a partir e com destino a vários aeroportos, incluindo Teerão, Isfahan e Shiraz. As ligações aéreas foram entretanto retomadas.
“Na sequência da ativação da defesa aérea em certas regiões, não foram registados danos nem explosões significativas (...) Não foi recebida qualquer informação sobre o disparo de sistemas de defesa antimíssil”, relatou a agência de notícias iraniana IRNA. O comandante do Exército em Isfahan, Siavosh Mihan-Dust, confirmou que não houve estragos nem acidentes.
Já foi aberta uma investigação à suposta retaliação israelita contra a cidade de Isfahan, como anunciou o major-general Abdul Rahim Mousavi. “Especialistas estão a investigar a extensão do ataque e apresentarão um relatório assim que tiverem resultados”, assegurou o comandante-chefe do Exército.
Apesar das explosões, a Agência Internacional de Energia Atómica adianta que não se registaram “quaisquer danos” nas suas instalações nucleares. Também a agência Tasnim — ligada à Guarda Revolucionária, órgão responsável pela segurança dos centros atómicos do país — confirma que as infraestruturas nucleares em Isfahan estão “completamente seguras”.
