Não será exagerado asseverar que a vinda da Rainha Isabel II a Portugal em 1957 teve essencialmente dois objetivos: um maior, político, e um outro protocolar e menor, o de cimentar a Aliança Inglesa, de algum modo posta à prova durante a 2.ª Guerra Mundial, retribuindo a visita do Marechal Francisco Higino Craveiro Lopes ao Reino Unido pouco mais de um ano antes, em Outubro de 1955. A visita estava agendada e preparada havia já muito tempo.
O contexto da época ajuda a explicar a ânsia recíproca quanto a um estreitar de relações. Durante o conflito, Portugal acabara por assumir uma “neutralidade colaborante”, favorável aos Aliados, e particularmente apostada em responder às solicitações de Albion, com a qual mantínhamos a nossa mais vetusta aliança. No pós-guerra novas questões se levantaram; umas de segurança e defesa, em que partilhávamos preocupações com o manter e reforçar de laços transatlânticos e desconfianças em relação a quaisquer processos políticos de integração continental; e outras, em que também convergíamos, relativas à necessidade urgente, que ambos os Estados sentiam, de uma reconstrução/reabilitação económica. Pelo seu lado, o Império Britânico estava enfraquecido pelo esforço da guerra e Londres via o seu Império multicontinental a desagregar-se. A Índia separara-se em 1947 e dividira-se rápida e dolorosamente entre a União Indiana e o Paquistão; outras colónias, em África e na Ásia, ameaçavam seguir o mesmo caminho. Em Portugal a situação não era, a esse nível, muito diferente, como iremos ver. Por todas estas razões, urgia reforçar laços e concertar posições.
Divido esta minha interpretação em duas partes. Num primeiro momento da minha comunicação, descrevo o périplo da Rainha, o ritmo e os pontos altos da viagem, se se quiser. Encaro o processo como uma sequência de actos simbólicos que visavam, por um lado, reafirmar, de maneira condensada, as então mais fortes linhas de força históricas de um relacionamento bilateral que se queria reforçar; mas também se tratou de uma sequência de acções que, por outro lado, escondia a vontade de nos embrenharmos em negociações futuras mais aprofundadas sobre posturas comuns a assumir em frentes mais acesas e menos polémicas, num quadro internacional no qual nenhuma das partes tinha a agência que esperava ter. Num segundo passo da minha comunicação, mais analítico, aponto as baterias para um esmiuçar destas últimas: as dimensões mais explicitamente políticas e (então) presentistas, da vinda a Portugal da soberana inglesa. Tentando perceber o que se passou.
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