Guerra na Ucrânia

A troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente foi um “feito” após “negociações difíceis e complexas”: o dia 900.º de guerra na Ucrânia

O Presidente russo Vladimir Putin recebe no aeroporto de Moscovo os prisioneiros libertados pelo Ocidente, após a troca
O Presidente russo Vladimir Putin recebe no aeroporto de Moscovo os prisioneiros libertados pelo Ocidente, após a troca
Sputnik/Mikhail Voskresensky/Pool

A Rússia libertou 16 prisioneiros, desde jornalistas a cidadãos russos com ligações a Aleksei Navalny, enquanto o Ocidente soltou oito presos, entre os quais Vadim Krasikov, acusado do assassinato de um separatista checheno em Berlim

O 900.º dia de guerra na Ucrânia ficou marcado por uma das maiores trocas de prisioneiros entre os Estados Unidos e a Rússia desde a Guerra Fria. O jornalista do ‘Wall Street Journal’, Evan Gershkovich, foi um dos libertados, assim como Ilya Yashin, uma das figuras mais proeminentes da oposição russa. Gershkovich e Yashin são dois dos 24 libertados numa operação coordenada pela Turquia, em conjunto com a Alemanha, a Polónia, a Eslovénia e a Noruega.

Entre os russos detidos no Ocidente encontram-se alegados agentes 'adormecidos' que tinham uma vida dupla. Outros foram condenados por pirataria informática. Um foi preso pelo assassínio, a tiro, de um homem durante o dia num parque de Berlim.

Relaticamente aos libertados do Ocidente, além de Evan Gershkovich e Ilya Yashim, estão o ex-fuzileiro norte-americano Paul Whelan, preso na Rússia desde o final de 2018; Vadim Krassikov, um alegado agente russo preso na Alemanha pelo assassinato de um ex-comandante separatista checheno em Berlim em 2019; Rico Krieger, um alemão condenado na Bielorrússia por terrorismo. Também Vladimir Kara-Murza, ativista e político da oposição, condenado a 25 anos por condenar a guerra na Ucrânia, e Alsu Kurmasheva, jornalista russo-americana foi sentenciada a seis anos e meios por espalhar desinformação sobre o exército russo.

No total, foram libertados pela Rússia: três cidadãos com nacionalidade norte-americana, seis prisioneiros com nacionalidade britânica e alemã, quatro presos políticos e defensores dos direitos humanos e três cidadãos russos com ligações a Aleksei Navalny. O Ocidente soltou oito prisioneiros.

“O MIT (serviços de informação turcos) realizou em Ancara a maior operação de troca de prisioneiros dos últimos tempos”, anunciou a presidência turca em comunicado.

"Os prisioneiros foram transportados para a Turquia em sete aviões, incluindo dois dos Estados Unidos, um da Alemanha, um da Polónia, um da Eslovénia, um da Noruega e um da Rússia, no âmbito da operação de troca de prisioneiros", acrescentou o comunicado.

Estados Unidos considera troca de prisioneiros um “feito diplomático”

O Presidente dos Estados Unidos da América, Joe Biden, saudou a libertação de três cidadãos norte-americanos, Paul Whelan, Evan Gershkovich, Alsu Kurmasheva e outro com o visto de residência norte-americano, Vladimir Kara-Murza.

“O acordo que lhes garantiu a liberdade foi um feito diplomático”, disse Biden, num comunicado publicado nas redes sociais, ao mostrar estar “grato aos aliados”, que colaboraram nas “negociações difíceis e complexas para alcançar este resultado”.

Biden recordou ainda que o seu Governo conseguiu a libertação de mais de 70 norte-americanos, que estavam em cativeiro. “Deixem-me ser claro: não vou parar de trabalhar até que todos os americanos detidos injustamente ou mantidos como reféns em todo o mundo se reúnam com a sua família”, prometeu.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, também saudou a libertação dos 16 prisioneiros “injustamente detidos pelo regime russo”. “A UE continuará a apoiar e a defender todas as pessoas detidas ilegalmente na Rússia e noutros países”, declarou numa mensagem publicada nas redes sociais.

Também o alto comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse nas redes sociais estar “aliviado” e reiterou que “todos os jornalistas e defensores dos direitos detidos apenas por fazerem o seu trabalho devem ser libertados”. Enquanto a porta-voz da NATO, Farah Dakhlallah, disse na rede social X que “a liberdade dos meios de comunicação social e o direito a uma oposição pacífica são vitais para qualquer sociedade funcional”.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ A Rússia ameaçou esta quinta-feira que os caças F-16 prometidos à Ucrânia pelo Ocidente serão abatidos, argumentando que estes aparelhos terão pouco efeito no campo de batalha. “Não existe um remédio mágico ou uma panaceia e a força aérea do regime de Kiev não terá essa panaceia”, defendeu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

⇒ A Rússia excluiu possíveis concessões territoriais em caso de negociações de paz com a Ucrânia, depois de o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter defendido a presença de Moscovo na cimeira de novembro. A presidente do Senado russo, Valentina Matviyenko, declarou que “não pode haver e não haverá quaisquer concessões territoriais” em relação às regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, anexadas por Moscovo em 2022. "Estamos abertos a negociações se tivermos a garantia de que não se trata de mais uma manobra de diversão", afirmou numa conferência de imprensa.

⇒ Zelensky admite que as eleições presidenciais nos EUA são um “desafio” para a Ucrânia. “Não podemos influenciar nenhuma eleição”, disse numa entrevista aos meios de comunicação social franceses, citado pelo jornal ‘The Guardian’. “Como presidente da Ucrânia, tenho de manter um diálogo entre a minha equipa e as equipas de Biden, Trump e agora de Harris... Temos de manter todos estes contactos e falar sobre o nosso futuro se um ou outro lado ganhar as eleições”, explicou.

⇒ Os atletas ucranianos Anastasiia Kozhenkova e Oleksii Sereda receberam medalhas da Cidade de Paris, a mais alta distinção que foi concedida pela presidente da Câmara Municipal da capital francesa, onde decorrem os Jogos Olímpicos. "Vocês estão a lutar pela honra da Ucrânia. Este é um sinal de reconhecimento e amizade", afirmou Anne Hidalgo, durante uma receção que contou com cerca de trinta atletas ucranianos de diferentes modalidades. Além disso, a política garantiu que os ucranianos "não estão sozinhos" e prestou homenagem aos 489 atletas ucranianos que morreram desde o início da ofensiva russa em 2022.

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