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Guerra na Ucrânia

Ele é o maestro pessoal de Putin: cancelado no Ocidente, tem o património sob investigação

Ele é o maestro pessoal de Putin: cancelado no Ocidente, tem o património sob investigação
Hiroyuki Ito/Getty Images

Valery Gergiev foi regente titular em Londres, Munique e Roterdão. Há décadas é diretor-geral do grande Teatro Mariinsky de São Petersburgo. Amigo do Presidente russo, apoiou-o sempre sem consequências para a sua carreira. Agora, não ter condenado a invasão da Ucrânia baniu-o dos palcos dos EUA, da Europa e do Japão. Além disso, o seu património, digno de um oligarca, está a ser investigado

Ele estava lá quando, em 2008, Vladimir Putin invadiu a Geórgia. E lá estava também em 2014, aquando da anexação da Crimeia. O seu nunca foi um apoio discreto. Há anos que todas as ações e decisões do Presidente russo têm como música de fundo aquela que é dirigida por Valery Gergiev. Conhecido como o “maestro de Putin”, o diretor-geral do Teatro Mariisnky de São Petersburgo e regente de craveira internacional navega dentro do aparelho de poder do seu país como peixe na água, alimentando-se dele e fornecendo-lhe em troca o prestígio da sua carreira fora de fronteiras, ao modo de um embaixador cultural. Amigo de Putin desde o início do percurso profissional de ambos, nos anos 1990, tem-se mantido firme e publicamente ao seu lado ao longo das controvérsias internas e externas que aquele semeou. E se foi criticado por isso, conseguiu sempre manter o seu trabalho à frente das mais importantes orquestras do mundo. Até hoje.

A 24 de fevereiro de 2022, o dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia, começou o crepúsculo deste outrora deus da música. Nesse dia, as instituições norte-americanas e europeias com as quais colaborava exigiram-lhe, uma após outra, que condenasse a ‘operação militar especial’. O Carnegie Hall, onde o maestro se preparava para dirigir a Filarmónica de Viena numa série de concertos, apressou-se a substituí-lo e a cancelar outros eventos já agendados com a Orquestra do Mariinsky. Seguiu-se o presidente da câmara de Munique, Dieter Reiter, com quem Gergiev tinha uma relação especial enquanto maestro titular da Filarmónica da cidade desde 2015. Citado pelo “New York Times”, Reiter instou o russo a denunciar “a brutal agressão que Putin está a conduzir contra a Ucrânia” enquanto condição sine qua non para se manter no cargo. Perante o silêncio do regente, no primeiro dia de março a orquestra rescindiu-lhe o contrato, que estaria vigente por mais três temporadas. De imediato, a Filarmónica de Roterdão, da qual Gergiev era maestro honorário, fez o mesmo, interrompendo mesmo a realização do Festival com o seu nome que tinha lugar todas as primaveras desde 1996.

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