Documentos de guerra com planos secretos dos EUA e da NATO para ajudar contraofensiva ucraniana foram publicados nas redes sociais
As secretas ucranianas têm hesitado em partilhar informação com os EUA
Pierre Crom
Na rede social Twitter e também no Telegram, muito utilizado na Rússia, começaram a surgir documentos classificados que apresentam detalhes sobre a ajuda norte-americana à contraofensiva da Ucrânia. Uma pista faz recair a suspeita sobre Moscovo e as contas que difundem a propaganda do Kremlin têm divulgado os conteúdos online
Documentos de guerra classificados com os planos secretos dos EUA e da NATO para fortalecer as Forças Armadas ucranianas antes da contraofensiva foram publicados esta semana nas redes sociais, apontaram altos funcionários norte-americanos. O Pentágono está a investigar a autoria da publicação dos documentos, que surgiram no Twitter e no Telegram (uma plataforma muito utilizada na Rússia). A notícia foi avançada pelo jornal “The New York Times”.
Alguns analistas militares observam que os documentos deverão ter sido modificados em algumas partes, de forma a sobrestimar os números norte-americanos para as mortes do lado ucraniano e subestimar as baixas russas. Um dos slides aponta que entre 16 mil e 17.500 soldados russos morreram, e que a Ucrânia sofreu até 71.500 baixas, sendo que o Pentágono e os analistas estimam que a Rússia sofreu muito mais baixas e que cerca de 200 mil soldados de cada lado terão morrido ou ficado feridos.Segundo os analistas, as alterações indicam que Moscovo poderá ser responsável pela desinformação. Aliás, as contas pró-russas que veiculam as narrativas do Kremlin têm partilhado os conteúdos.
Entre as revelações passíveis de serem consultadas nos documentos tornados públicos estão gráficos de entregas antecipadas de armas, forças de tropas e batalhões, bem como planos, o que demonstra a capacidade de furar o secretismo dos serviços de informação dos EUA. Por outro lado, os documentos não mostram planos de batalha em específico, nem datas ou locais para a ofensiva ucraniana.
De acordo com os analistas, porém, as informações reveladas são já uma grande ajuda para especialistas em estratégia do lado russo, ao fornecerem a taxa a que estão a ser gastos os HIMARS (sistemas de foguetes de artilharia de alta mobilidade fornecidos pelos Estados Unidos, que podem lançar ataques à distância contra alvos como depósitos de munições, infraestruturas e tropas) e cronogramas para a entrega de armas e tropas. Por exemplo, um documento definido como "ultrassecreto" descreve o “estado do conflito a 1 de março”, um dia em que altos funcionários militares ucranianos se encontravam numa base norte-americana em Weisbaden, na Alemanha, para desenvolver sessões de jogos de guerra. Um dia depois, o general Mark A. Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, e o general Christopher Cavoli, supremo comandante aliado para a Europa, estiveram também de visita ao local.
“A descoberta mais relevante não é um ciberataque específico, mas o que isto nos diz sobre o complexo militar-industrial russo"
Numa das listagens que pormenorizam unidades, equipamentos e treino das tropas ucranianas, com cronogramas de janeiro a abril, é apresentado um resumo das 12 brigadas de combate que estão a ser montadas, nove das quais treinadas e garantidas pelos Estados Unidos e outros aliados da NATO. Dessas nove brigadas, seis estariam prontas até 31 de março e as restantes até 30 de abril, revela um dos documentos. Uma brigada ucraniana tem cerca de quatro mil a cinco mil soldados, segundo os analistas. O equipamento necessário para nove brigadas é apresentado como sendo mais de 250 tanques e mais de 350 veículos mecanizados.
Os altos funcionários norte-americanos estão a desenvolver esforços para eliminar os conteúdos online, mas, até ao momento, a tarefa ainda não foi concluída. A publicação daqueles documentos poderá indicar um grande avanço das secretas russas, ao contrário do que tem vindo a acontecer ao longo do conflito na Ucrânia, durante o qual os EUA têm fornecido a Kiev dados relativos a postos de comando e depósitos de munições.
No início da guerra, as autoridades ucranianas hesitaram em partilhar os seus planos de batalha com os Estados Unidos, por recearem fugas de informação. Por esse motivo, durante o verão, funcionários das secretas norte-americana reconheceram que, muitas vezes, tinham uma compreensão mais ampla dos planos militares da Rússia do que da Ucrânia.
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