Russos roubam património da Antiguidade à Ucrânia. Escala do saque é “inimaginável”, garante o Instituto de Arqueologia
Imagem de arquivo de um conjunto de peças de ouro, na exposição "Descoberta do Século" do Museu de Tesouros Históricos da Ucrânia, em Kiev, dedicada ao 50º aniversário da descoberta do Peitoral Dourado do Tovsta Mohyla (século IV aC)
Future Publishing
A invasão da Ucrânia pela Rússia fez estragos no património deste país. O legado do povo Cita, que dominou a estepe euroasiática na Antiguidade, foi roubado pelo exército de Putin. A maior parte das peças era em ouro. O levantamento foi feito pelo Instituto de Arqueologia de Kiev
A Ucrânia era, até à invasão da Rússia, um importante repositório dos artefactos usados pelo povo iraniano de pastores nómadas equestres, que Heródoto descreveu na sua História, como os Citas.
Os Citas dominaram, durante a Antiguidade Clássica, toda a estepe eurasiática, e muitas das suas armas, instrumentos e ornamentos foram encontrados na Ucrânia e no sul da Rússia. Grande parte dos achados estava guardada e podia ser vista em museus ucranianos. Com a invasão da Ucrânia pela Rússia essas coleções desapareceram de vários museus.
Segundo informações recolhidas pelo jornal inglês “The Guardian”, junto do Instituto Nacional de Arqueologia de Kiev, organismo que está a fazer o levantamento das perdas provocadas pela guerra, a escala do saque é muito maior do que se esperava. “Inimaginável”, nas palavras do responsável que falou com o jornal inglês. Isto apesar de alguns museus terem conseguido transferir as suas coleções a tempo de as manter seguras. Foi o caso do Museu Arqueológico de Odessa, cidade que protegeu o seu património antes do ataque, e do Museu de Melitopol, no qual estava guardada a maior coleção de obras dos Citas.
A diretora do Museu Arqueológico de Kharkiv, Irina Shramko, e os seus funcionários passaram as noites junto das coleções. Algo que aconteceu um pouco por toda a Ucrânia, em vários museus. No entanto, e devido a rápida ocupação da parte oriental do país, muitos museus desta região não conseguiram criar um plano que pudesse retirar as obras e assim protegê-las. Museus como os de Lyman, na região de Donetsk, e Rubizhne, em Luhansk, foram destruídos. Não se sabe que destino exato que teve o património roubado.
Legado Cita levado para a Crimeia, russos num complexo de túmulos
O Museu local de Mariupol, na qual estava uma importante coleção Cita, foi atingido na primavera passada, e a própria comunicação social russa informou que 2000 objetos foram removidos da cidade. Os serviços secretos ucranianos reclamam que grande parte das obras estão na Crimeia, segundo um relatório de outubro.
Muito do que foi roubado e do que foi destruído está documentado, e as fotos estão a ser publicadas pelo governo ucraniano. Mas os estragos são também de outra ordem. O exército russo construiu uma estrutura de defesa numa área onde existia um complexo de túmulos da Idade do Bronze, junto a uma vila de Luhansk, colocando em causa a integridade do lugar que tinha mais de cinco mil anos. Uma situação que se repetiu em muitos outros locais, já que os russos acabaram por escolher os mesmos lugares de defesa que muitos outros povos tinham anteriormente usado.
As escavações feitas pelos russos em lugares arqueológicos, apesar do estrago incalculável que causou, também revelaram novas edificações. Aconteceu num dos casos, na qual foram descobertos novos vestígios de uma civilização anterior, uma das últimas do período Neolítico, a Trypillia, na qual já há arqueólogos a trabalhar.
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