Guerra na Ucrânia

Um vídeo cruel, o teatro com crianças que foi palco de um “crime de guerra”, e um nome para Putin: “criminoso”

Um vídeo cruel, o teatro com crianças que foi palco de um “crime de guerra”, e um nome para Putin: “criminoso”
Anadolu Agency

Guerra na Ucrânia, dia 21. As tropas russas continuam a agredir território ucraniano: a cidade de Odessa foi bombardeada pela primeira vez esta quarta-feira, enquanto o teatro de Mariupol foi destruído com cerca de mil civis lá dentro - incluindo crianças. Joe Biden anunciou que os EUA vão enviar mais apoios humanitários e militares para a Ucrânia, e prometeu que Putin “vai pagar” pelos crimes que está a cometer. O Tribunal Internacional da Justiça também se pronunciou: a Rússia “deve suspender imediatamente” as operações militares

Um vídeo cruel, o teatro com crianças que foi palco de um “crime de guerra”, e um nome para Putin: “criminoso”

Tiago Soares

Jornalista

O dia começou com mais um discurso internacional de Volodymyr Zelensky, Presidente ucraniano: “Precisamos de vós agora”, pediu ao Congresso dos Estados Unidos, antes de evocar as tragédias de Pearl Harbor e do 11 de setembro - “quando o mal tentou transformar as vossas cidades e territórios independentes em campos de batalha, quando pessoas inocentes foram atacadas, atacadas pelo ar.”

Bastaram estes dois exemplos para Zelensky repetir o apelo que está há vários dias a fazer às potências ocidentais da NATO: “É pedir muito criar uma zona de exclusão aérea, uma zona sobre a Ucrânia para salvar pessoas? É pedir demasiado?”, perguntou, munindo-se de um vídeo cru e cruel que mostra sem artifícios as atrocidades que a Rússia está a cometer em território ucraniano há 21 dias.

Poucas horas depois, a cidade de Mariupol foi atacada pelo ar - outra vez. O teatro da cidade foi totalmente destruído pelo exército russo, numa altura em que cerca de mil civis estavam dentro do espaço: ainda não se sabe quantas pessoas morreram, mas já se sabe que muitas crianças estavam lá abrigadas.

Uma palavra simples estava escrita em letras brancas na fachada e nas traseiras do edifício: “Crianças”. A palavra estava em russo, mas os russos ignoraram-na - e agora dizem que não bombardearam o local. “É um crime de guerra”, disseram várias vozes ucranianas e internacionais. Mais de 11 mil pessoas fugiram de Mariupol só nesta quarta-feira.

Quase ao mesmo tempo, a cidade portuária de Odessa, terceira maior do país, foi atacada pela primeira vez: os russos lançaram bombas e estão a movimentar-se em direção ao Mar Negro, segundo informações partilhadas pelo Departamento de Defesa dos EUA. Em contrapartida, a mesma fonte garante: as tropas russas não fizeram "nenhum avanço significativo" em direção a Kiev, a capital do país.

No dia em que o autarca de Melitopol foi libertado depois de ter sido raptado pelo exército russo, mais mortes: cinco cadáveres foram encontrados entre os destroços de um dormitório em Chernihiv. Três das vítimas eram crianças, e a elas juntam-se 13 pessoas que ontem foram assassinadas enquanto esperavam por pão. Kharkiv também continua debaixo de fogo: pelo menos seis rondas de bombardeamentos foram registadas durante o dia de hoje. As autoridades locais garantem que desde o início da invasão já morreram pelo menos 500 pessoas na cidade, a que se junta a destruição de 600 edifícios.

Ao mesmo tempo que o horror acontecia nestas cidades, Biden subia a um palanque para garantir que os Estados Unidos vão enviar mais apoio humanitário e militar para a Ucrânia - incluindo 800 mísseis e 100 drones armados usados pelas forças especiais norte-americanas. Mas hoje a notícia principal vinda de Washington é esta: pela primeira vez desde que tudo isto começou, Biden afirmou que Putin era um “criminoso de guerra” e prometeu que o ditador russo iria “pagar pelos seus crimes” perante o mundo. Em Moscovo, Putin levou a mal. Trata-se de uma "retórica inaceitável e imperdoável" por parte de Biden, fez saber o Kremlin.

Imperdoável ou não, o Tribunal Internacional de Justiça deu hoje resposta à queixa feita pela Ucrânia a 26 de fevereiro: “A Federação Russa deve suspender imediatamente as operações militares que começaram a 24 de fevereiro de 2022 no território da Ucrânia”, ordenou a instituição. No entanto, o tribunal não tem quaisquer meios para impor esta medida.

As metáforas de Putin e os bombardeamentos a cidades da Bielorrússia

Putin desqualificou a “retórica” de Biden, e a retórica usada pelo ditador russo esta quarta-feira também é difícil de qualificar: "Não condeno as pessoas que têm uma casa em Miami ou na Riviera Francesa, que não conseguem viver sem 'foie gras', ostras ou as chamadas liberdades de género. Isso não é de todo o problema”, começou por dizer Putin, antes de se referir aos cidadãos russos que diz serem uma “quinta coluna” do Ocidente.

“O problema é que muitas dessas pessoas estão mentalmente lá: não estão aqui, não estão com o nosso povo, não estão com a Rússia. Dessa forma, acham que pertencem a uma casta superior, a uma raça superior", afirmou durante uma videochamada transmitida para todo o país.

Assim, o ditador atacou estes "traidores nacionais" por pensarem como ocidentais e não como russos, garantiu que são pessoas “preparadas para vender as suas mães”, e pediu (ordenou?) ao povo que os “cuspisse” esta “escumalha” como se fossem “insetos”. "Estou convencido que esta limpeza natural da sociedade vai fortalecer o nosso país", concluiu.

No final do dia, uma outra informação preocupante: pessoas residentes em cinco cidades da Bielorrussia - Baranavichy, Luninets, Stolin, Hantsavichy, Slutsk, Kletsk - ouviram barulhos semelhantes a explosões, reportou a jornalista bielorrussa Hanna Liubakova. Além disso, Pavel Latushka, ativista e político da oposição ao regime, garantiu que “seis mísseis foram lançados perto da cidade de Kalinkovichi”. O dia de amanhã deverá trazer mais contexto sobre estas informações - bem como as consequências que terão na atual guerra contra a Ucrânia.

Também esta quinta-feira, convocada pelos Estados Unidos, Reino Unido, Albânia, França, Noruega e Irlanda, acontecerá uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU. O encontro foi justificado pela deterioração da situação humanitária na Ucrânia.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: tsoares@expresso.impresa.pt / tiago.g.soares24@gmail.com

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