Guerra na Ucrânia

Rússia “deve suspender imediatamente” as operações militares, diz Tribunal Internacional de Justiça

Cidade de Mariupol, na Ucrânia
Cidade de Mariupol, na Ucrânia
REUTERS

Suspender a invasão, evitar que grupos armados lhe deem seguimento e não tomar ações que agravem a disputa. Foi este o pacote de medidas provisórias que o Tribunal Internacional de Justiça decretou, no âmbito do processo instaurado por Kiev contra a Rússia. A instituição não deixou de expressar preocupação com a “tragédia humana” na Ucrânia

Rússia “deve suspender imediatamente” as operações militares, diz Tribunal Internacional de Justiça

Salomé Fernandes

Jornalista da secção internacional

“A Federação Russa deve suspender imediatamente as operações militares que começou a 24 de fevereiro de 2022 no território da Ucrânia”, anunciou esta quarta-feira à tarde o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ).

A 26 de fevereiro a Ucrânia avançou com um caso contra a Rússia no TIJ, em que pedia para serem adotadas “medidas provisórias”. Na base da litigância está uma disputa relacionada com a interpretação e aplicação da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio. O processo foi apresentado dias depois de a Rússia anunciar a decisão de lançar uma “operação militar especial” contra a Ucrânia.

Além da suspensão das operações, o tribunal decretou que a Rússia deve assegurar que grupos militares ou armados que possa apoiar não tomem passos no sentido de desenvolver tais ações militares. Estas duas medidas contaram com 13 votos a favor e dois contra (de juízes da Rússia e da China). A única que reuniu unanimidade dirige-se tanto à Rússia como à Ucrânia: ambas devem evitar ações que possam agravar o litígio ou dificultar a sua resolução. Apesar de as decisões do Tribunal serem vinculativas e sem recurso, a instituição não tem meios para as impor.

O contexto da guerra não foi ignorado, tendo o TIJ descrito o que aconteceu depois da operação lançada pela Rússia. “Houve combates intensos em território ucraniano, que custaram muitas vidas, causando deslocamentos extensivos e resultando em danos generalizados. O Tribunal está perfeitamente ciente da extensão da tragédia humana que está a ocorrer na Ucrânia e profundamente preocupado com a perda contínua de vidas e sofrimento humano”, leu a juíza presidente da instituição, Joan Donoghue.

A decisão foi bem recebida por parte de Kiev. “A Ucrânia obteve uma vitória total no seu caso contra a Rússia no TIJ”, publicou Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, na rede social Twitter. “O TIJ ordenou que a Rússia pare imediatamente a invasão. A ordem é vinculativa ao abrigo do direito internacional. A Rússia deve cumpri-la imediatamente. Ignorar a decisão levará a Rússia a um isolamento ainda maior”, avisou.

Poder para julgar

No caso apresentado ao TIJ, Kiev acusou Moscovo de recorrer a “falsas alegações” quanto a atos de genocídio nas regiões de Luhansk e Donetsk para invadir a Ucrânia, e de “planear atos de genocídio” no país. Por sua vez, a Rússia argumentou que o tribunal não tem jurisdição sobre o caso, apelando a que não fossem aplicadas medidas provisórias.

O tribunal ressalvou nesta fase que não precisa de verificar se houve violação das obrigações dos países, antes perceber se as queixas da Ucrânia podem recair no âmbito da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio. E aponta que as declarações de órgãos estatais e oficiais das duas partes revelam divergência de opinião sobre se as ações alegadamente cometidas pela Ucrânia em Luhansk e Donetsk constituem genocídio e se a Rússia podia recorrer ao uso de força no âmbito da Convenção.

Na deliberação lida por Donoghue, explica-se que o TIJ considerou que qualquer operação militar, em particular à escala da que está a ser levada a cabo pela Rússia, “inevitavelmente causa perdas de vida, danos físicos e mentais, e danos à propriedade e ao ambiente”. Além disso, entendeu-se que “a população civil afetada pelo presente conflito é extremamente vulnerável”.

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