Europa

Investigação conclui que guarda costeira grega pode ter causado naufrágio que matou perto de 600 migrantes no Mediterrâneo

Uma imagem do barco que naufragou na costa da Grécia, provocando pelo menos 78 mortos
Uma imagem do barco que naufragou na costa da Grécia, provocando pelo menos 78 mortos
Guarda Costeira Grega

Testemunho de sobreviventes e reconstrução 3D mostram que terá sido a tentativa de rebocar embarcação que provocou o naufrágio, contrariando versão oficial das autoridades gregas

As tentativas da guarda costeira grega para rebocar o barco de pesca com 700 pessoas a bordo pode ter provocado o afundamento. A conclusão é de uma investigação de “alta tecnologia” feita pelo jornal “The Guardian”, ARD/NDR/Funk (emissora pública alemã) e Solomon (plataforma de investigação jornalística grega), publicada esta segunda-feira.

Em causa está o naufrágio ao largo da Grécia que causou pelo menos 600 mortos (incluindo 500 desaparecidos) no passado dia 14 de junho. A embarcação tinha partido da Líbia em direção a Itália.

De acordo com a publicação britânica, os jornalistas realizaram mais de 20 entrevistas com sobreviventes e consultaram documentos do tribunal, assim como fontes da guarda costeira. A investigação concluiu que as autoridades gregas ignoraram várias oportunidades para resgatar os migrantes e ignoraram vários ofertas de auxílio da Frontex (Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira). Vários sobreviventes indicaram que por fim, foi a tentativa da guarda costeira de rebocar o barco - alegadamente para o encaminhar para Itália - que causou o naufrágio.

Esta conclusão contraria a versão oficial das autoridades gregas, que desde o início têm negado que tentaram rebocar a embarcação. A investigação desvendou várias inconsistências - nomeadamente quanto à direção e velocidade - que não corroboram esta narrativa.

Para auxiliar a investigação, a equipa recorreu a uma recriação 3D do naufrágio criada pela Forensis (uma ONG sediada em Berlim que "trabalha para e em colaboração com indivíduos e comunidades afetadas pela violência estatal e corporativa, para apoiar suas demandas por justiça, reparações e responsabilidade).

A equipa da Forensis conclui que a análise “sugere fortemente” que a guarda costeira grega “tem responsabilidade crucial no naufrágio”, nomeadamente por “sugerirem ao barco migrante que viajasse para oeste em direção a Itália e para longe da zona SAR da Grécia [Região de Busca e Salvamento], apesar do facto de o barco estar em perigo claro e quando deveria ter tido a oportunidade de atracar no porto seguro mais próximo, que seria na Grécia”.

Mais, os investigadores acrescentam que “negligenciaram a resposta às repetidas ofertas da Frontex para o envio de aeronaves de vigilância aérea para o local” e “não mobilizaram os recursos próximos e libertaram navios comerciais para o resgate, apesar de não haver espaço suficiente no navio da guarda costeira para todos os migrantes em caso de naufrágio do barco”.

Depois de “rebocar o barco migrante superlotado, resultando no seu naufrágio”, a guarda costeira “retirou-se de cena” quando o barco com os migrantes virou. Este movimento de recuo “criou ondas, o que por sua vez dificultou a sobrevivência em mar aberto” e “deixou os sobreviventes à própria sorte no mar por um período de 20 a 30 minutos, sem motivo aparente”.

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