Eleições americanas 2024

Serviços Secretos dos Estados Unidos admitem maior falhanço em décadas no atentado contra Trump

Kimberly Cheatle, diretora dos Serviços Secretos dos EUA, depõe durante a audiência do Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes sobre as falhas de segurança que permitiram uma tentativa de assassinato do candidato Donald Trump
Kimberly Cheatle, diretora dos Serviços Secretos dos EUA, depõe durante a audiência do Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes sobre as falhas de segurança que permitiram uma tentativa de assassinato do candidato Donald Trump
Kevin Mohatt

A atual diretora dos Serviços Secretos dos Estados Unidos, Kimberly Cheatle, considera ser “a melhor pessoa para dirigir” a agência, apesar da pressão dos congressistas para se demitir. Ainda com muitas respostas por apurar, Cheatle garante que, se tivesse sido identificada uma ameaça, o evento teria sido de imediato suspenso, mas ainda assim admite que existiu um “falhanço”

A diretora dos Serviços Secretos dos Estados Unidos admitiu esta segunda-feira que a tentativa de assassínio do ex-Presidente Donald Trump foi o "fracasso operacional mais significativo" da agência em décadas.

"No dia 13 de julho, falhámos", afirmou Kimberly Cheatle aos representantes durante uma audição no Congresso dos Estados Unidos sobre o atentado contra o ex-líder da Casa Branca e candidato republicano nas eleições presidenciais de 5 de novembro.

A responsável dos Serviços Secretos assumiu total responsabilidade pelos erros da agência relacionados com o ataque no comício de Trump na Pensilvânia e que deixou o candidato ferido numa orelha.

Um participante no comício foi morto e dois outros ficaram feridos depois de Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, ter subido ao telhado de um edifício próximo e aberto fogo, antes de ser abatido no local.

Cheatle testemunha perante a Comissão de Supervisão da Câmara dos Representantes, enquanto aumentam os apelos para a sua demissão devido a falhas de segurança no comício onde o atentado ocorreu.

Vários congressistas têm expressado indignação pela forma como o atirador conseguiu chegar tão perto do candidato presidencial republicano, quando deveria ser cuidadosamente vigiado, e querem o afastamento de Kimberly Cheatle. "Penso que sou a melhor pessoa para dirigir os Serviços Secretos nesta altura", afirmou a diretora perante a pressão dos congressistas para se demitir.

Diretora dos Serviços Secretos defende que havia agentes em número suficiente para proteger Trump

Os Serviços Secretos tinham aumentado o nível de segurança do antigo Presidente antes da tentativa de assassinato. Uma garantia dada por Cheatle perante as perguntas dos congressistas sobre o número insuficiente de agentes. A diretora da agência responsável de proteger o Presidente e os candidatos a cargos públicos considerou ainda que "havia um número suficiente de agentes destacados" para proteger Trump.

Relativamente à ausência de um agente dos Serviços Secretos no telhado, a diretora respondeu que ainda se estavam a apurar as responsabilidades, mas assegurou que o edifício onde estava o responsável pelo disparo estava "fora do perímetro de segurança".

No domingo, os jornais Washington Post e New York Times informaram que altos funcionários dos Serviços Secretos norte-americanos negaram repetidamente pedidos de mais recursos e pessoal para a segurança do ex-Presidente Donald Trump nos dois anos anteriores à sua tentativa de assassínio.

Os agentes encarregados de proteger o político republicano solicitaram magnetómetros, mais agentes para analisar os participantes dos grandes eventos em que Trump esteve presente, bem como atiradores adicionais e equipamento especializado, disseram quatro fontes ao Washington Post.

Os pedidos foram frequentemente rejeitados por altos funcionários dos Serviços Secretos, que indicaram várias razões, incluindo a falta de recursos.

O New York Times afirmou por seu lado que duas fontes, que falaram sob anonimato, confirmaram que a campanha de Trump tinha pedido recursos adicionais durante a maior parte do tempo em que o político republicano esteve fora do cargo na Casa Branca.

Após a publicação desta informação, o porta-voz dos serviços secretos, Anthony Guglielmi, disse ao jornal que novas informações indicam que alguns pedidos podem ter sido negados e que a documentação estava a ser analisada. “Executámos uma estratégia abrangente e por níveis para equilibrar pessoal, tecnologia e necessidades operacionais especializadas”, disse.

Atirador foi identificado como suspeito

Cheatle informou ainda o Congresso que o atirador foi identificado como suspeito antes de Trump começar a discursar no comício através de um sistema de rastreio da espingarda que transportava. O Crooks também foi visto pelos agentes a transportar um telémetro, um objetivo que mede as distâncias e não integrava a lista de objetos proibidos no Comício.

Mais tarde, testemunhas viram-no a subir a lateral de um edifício industrial a 135 metros do palco. Questionada sobre o motivo pelo qual os Serviços Secretos não suspenderam o Comício após este avistamento, a diretora da agência disse que as comunicações entre os agentes ainda estavam a ser analisadas. Garantiu ainda que se tivesse havido uma suspeita de ameaça, o evento teria sido imediatamente interrompido.

A diretora garantiu ainda que os serviços secretos estão a "colaborar plenamente com as investigações em curso". "Temos de saber o que aconteceu e eu vou mover o céu e a terra para garantir que um incidente como o de 13 de julho não volte a acontecer”, declarou ao acrescentar que num prazo de 60 dias teria o relatório da investigação inicial concluído. Um prazo contestado pela democrata Alexandria Ocasio-Cortez que disse ser inaceitável para o público.

Sobre o tempo que demorou a retirar Trump do palco, a diretora dos Serviços Secretos não deu uma resposta exata, mas destacou a coragem dos agentes que rodearam o antigo presidente, que “em menos de três segundos” formaram um escudo corporal em redor do antigo Presidente. O deputado democrata Stephen Lynch contestou a afirmação ao argumentar que Trump teve durante “mais de um minuto de exposição naquele pódio”.

Como "Donald Trump está vivo, e graças a Deus que está, vocês parecem incompetentes” afirmou o deputado Mike Turner, republicano do Ohio. “Se Donald Trump tivesse sido morto, vocês pareceriam culpados”, alertou.

O ataque a Trump foi a tentativa mais grave de assassinar um Presidente ou candidato presidencial desde que Ronald Reagan foi atingido a tiro em 1981.

Foi também a mais recente de uma série de falhas de segurança por parte da agência que suscitaram investigações e escrutínio público ao longo dos anos.

As autoridades têm procurado pistas sobre o que motivou Crooks, que estava registado como eleitor do Partido Republicano, mas até agora não encontraram nenhuma tendência ideológica que pudesse ajudar a explicar as suas ações.

Os investigadores que revistaram o seu telefone encontraram fotografias de Trump, Biden e outros altos funcionários do Governo, e descobriram também que ele tinha consultado as datas da Convenção Nacional Democrata, bem como as aparições de Trump.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: eparreira@expresso.impresa.pt

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