EUA

Bill Clinton, Príncipe André e Donald Trump entre os nomes referidos em documentos desclassificados no caso Epstein

Foto de Jeffrey Epstein no registo de agressores sexuais dos serviços de justiça de Nova Iorque
Foto de Jeffrey Epstein no registo de agressores sexuais dos serviços de justiça de Nova Iorque
Reuters

Um dos documentos divulgados pela justiça americana inclui um depoimento que revela que o milionário e abusador de menores “disse uma vez que Clinton gostava delas novas”. Também os nomes de Michael Jackson e David Copperfield são referidos, mas sem os artistas estarem implicados em atos impróprios. Jeffrey Epstein foi acusado de abuso sexual e tráfico de menores, tendo sido encontrado enforcado na cela um mês após a detenção, em 2019

Bill Clinton, Príncipe André e Donald Trump entre os nomes referidos em documentos desclassificados no caso Epstein

Hélder Gomes

Jornalista

O ex-Presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, o músico Michael Jackson, o mágico David Copperfield, o príncipe André (irmão do rei britânico Carlos III) e o físico Stephen Hawking são alguns dos nomes que constam de documentos judiciais revelados esta quarta-feira e que identificam figuras públicas alegadamente associadas a Jeffrey Epstein. O milionário americano foi detido a 6 de julho de 2019, acusado de abuso sexual e tráfico de menores, tendo sido encontrado morto na cela a 10 de agosto do mesmo ano. A causa da morte foi enforcamento.

São mais de 900 páginas de documentos relacionados com uma ação judicial intentada em 2015 contra a britânica Ghislaine Maxwell, amante, cúmplice e parceira de negócios de Epstein, condenada em 2022 a 20 anos de prisão por ter coagido e angariado vítimas para ele. O processo foi movido contra Maxwell por Virginia Giuffre, uma das vítimas do abuso sexual de Epstein. Giuffre afirmou que Maxwell a atraiu para a “órbita perversa” de Epstein sob o falso pretexto de trabalhar como massagista profissional. Em vez disso, garante ter sido treinada “como escrava sexual”.

A referência aos nomes de celebridades que frequentavam a casa e a ilha privada de Epstein não se traduz necessariamente numa imputação de crimes. No caso do príncipe André, uma acusação separada de Giuffre resolveu-se com um acordo extrajudicial, tendo o membro da família real pago milhões de libras à queixosa.

“Clinton gostava delas jovens”

Um dos documentos agora revelados inclui um depoimento de Johanna Sjöberg, que Maxwell terá contratado. No depoimento, citado na imprensa internacional, Sjöberg revela que Epstein “disse uma vez que Clinton gostava delas novas, referindo-se a raparigas”.

Em 2019, o porta-voz de Clinton, Angel Ureña, negou as alegações de envolvimento do antigo chefe de Estado americano com Epstein e declarou que “o Presidente Clinton não sabe nada sobre os crimes terríveis de que Jeffrey Epstein se declarou culpado na Florida há alguns anos ou aqueles de que foi recentemente acusado em Nova Iorque”.

Clinton, que não foi acusado neste processo, consta nas listas de passageiros dos voos de Epstein para diferentes países, mas a possível presença numa das ilhas do milionário não é clara e foi negada pelo político – que Giuffre tentou, em vão, intimar a depor.

A ida a um casino de Trump

Trump também é mencionado nos documentos, sem que sobre ele recaiam suspeitas de crime. No seu depoimento, Sjöberg disse que, em 2001, foram a um dos casinos do antigo Presidente dos Estados Unidos, em Atlantic City, quando uma tempestade impediu o avião de Epstein de aterrar em Nova Iorque.

O jornal “The Telegraph” lembra que Trump e Epstein frequentaram os mesmos círculos sociais nos anos 80 e 90 e que, em 2002, Trump disse à “New York Magazine”: “Conheço Jeff há 15 anos. É um tipo fantástico. Diz-se até que gosta tanto de mulheres bonitas quanto eu, e muitas são mais jovens”. No julgamento de Maxwell, em 2021, uma das acusadoras anónimas de Epstein referiu que foi apresentada por este a Trump quando tinha 14 anos.

Uma fotografia tirada em 2000, um ano antes da viagem de Sjöberg a Atlantic City, mostra Trump, a sua então namorada Melania (hoje sua mulher), Epstein e Maxwell na estância de Mar-a-Lago, na Florida, onde o antigo Presidente mora atualmente. Trump diria mais tarde que só conhecia Epstein “como toda a gente em Palm Beach”, acrescentando que o “expulsou” de Mar-a-Lago e que os dois tiveram uma “desavença”.

Após a prisão de Epstein, em 2019, o então Presidente disse que “não era seu fã”. Questionado sobre o motivo da “desavença”, limitou-se a responder: “A razão não faz qualquer diferença, francamente”. Sjöberg disse de forma explícita que nunca foi abordada de forma imprópria por Trump.

As chamadas do príncipe

Em 2021, Giuffre processou o príncipe André, outro nome referido várias vezes nos documentos, por abuso sexual. Mas o filho de Isabel II e Duque de Iorque chegou a acordo com a acusadora no início do ano seguinte, negando ter cometido qualquer crime. Ainda assim, perdeu honras militares e foi afastado de funções oficiais na família real devido à sua relação com Epstein e ao alegado envolvimento em abusos sexuais.

Segundo os documentos revelados, Maxwell manifestou-se preocupada com a possibilidade de os seus problemas jurídicos suscitarem questões sobre a sua relação com o duque de Iorque. Num email enviado aos seus advogados, em janeiro de 2015, escreveu: “Nem consigo imaginar como será a vida depois do inferno da imprensa. Declarações que não abordam tudo só levam a mais perguntas... Qual é a minha relação com Clinton? Com André, etc.”

Segundo outro documento, o caseiro de Epstein disse que André telefonava para casa do magnata cerca de uma vez por semana, embora sem referir em que período. Conhecidas as acusações contra o amigo, André continuou a frequentá-lo e passou dias em sua casa, em Nova Iorque, que numa desastrosa entrevista à BBC explicou terem servido para pôr fim à amizade.

Os nomes de Michael Jackson, que morreu em 2009, e David Copperfield também surgem nos documentos, sem os artistas estarem implicados em atos impróprios. Foram ambos vistos por testemunhas em propriedades de Epstein.

Os documentos revelam que Epstein disse a Maxwell que esta podia oferecer dinheiro aos amigos de Giuffre se contrariassem as afirmações desta última. Num email de janeiro de 2015, o magnata escreveu que esperava sobretudo anular as alegações de que Clinton tinha jantado na sua ilha e que o físico Stephen Hawking tinha “participado numa orgia de menores”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hgomes@expresso.impresa.pt

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