Jack Smith: a figura “apolítica” que já supervisionou casos de crimes de guerra e lidera acusação contra Trump
EPA / MICHAEL REYNOLDS
Esteve do lado da acusação em casos de corrupção pública, violência policial e crimes de guerra. Jack Smith, que "não gosta de perder" e é visto como uma figura isenta a nível político, é o procurador especial que assume duas investigações criminais que envolvem Trump
“O ataque ao Capitólio da nossa nação a 6 de janeiro de 2021 foi um ataque sem precedentes à sede da democracia americana. Conforme descrito na acusação, foi alimentada por mentiras, mentiras do réu destinadas a obstruir uma função fundamental do Governo dos EUA, o processo da nação de recolha, contagem e certificação dos resultados da eleição presidencial”, disse o procurador especial Jack Smith na terça-feira, referindo-se à atuação de Donald Trump.
Jack Smith apresentou uma acusação criminal contra o ex-Presidente dos Estados Unidos, por suspeitas de “conspirar para defraudar os Estados Unidos” e “tentar obstruir um ato oficial”. Foi nomeado em novembro para assumir duas investigações: se alguém interferiu ilegalmente com a passagem de poder no seguimento das eleições presidenciais de 2020, e uma segunda a envolver documentos confidenciais e uma possível obstrução a essa investigação.
Em antecipação do anúncio da acusação, Donald Trump acusou Jack Smith de ser “desequilibrado” e de avançar com uma “acusação falsa”, depois de ter sugerido anteriormente ser vítima de um processo com motivações políticas, sem sustentar essas afirmações.
Quando anunciou a escolha de Smith para supervisionar os processos, o procurador geral Merrick Garland disse que era “a escolha certa para concluir estes assuntos de forma imparcial e urgente”.
De acordo com a Reuters, Smith licenciou-se na Faculdade de Direito de Harvard e não está registado junto de nenhum partido político. A sua carreira começou em 1994, como procurador em Manhattan. Cinco anos depois, Smith começou a trabalhar na procuradoria-geral dos Estados Unidos em Brooklyn. Participou, por exemplo, na acusação de Charles Schwarz, um polícia de Nova Iorque envolvido num caso de brutalidade policial.
Manifestante contra Trump diante de um tribunal em Washington
A BBC descreve que Smith participou em mais de 100 triatlos desde 2002. A persistência também serviu casos judiciais: chegou a dormir num corredor de um prédio durante um fim de semana para convencer uma mulher a testemunhar num caso de violência doméstica.
Uma experiência “vasta” e uma figura “apolítica”
Segundo o Tribunal Especial para o Kosovo e o Gabinete do Procurador Especial, Jack Smith supervisionou cerca de uma centena de procuradores públicos em áreas como corrupção, terrorismo, crimes violentos e gangues, bem como crimes de colarinho branco, em Nova Iorque. Daqui seguiu para o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, onde ficou entre 2008 e 2010 a supervisionar investigações de membros de governos estrangeiros e milícias por crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio. Seguiram-se cinco anos a liderar a unidade de integridade pública do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, onde lidou com casos de corrupção pública.
No entanto, alguns dos casos do tempo em que chefiou a unidade foram usados por Trump para argumentar que “destruiu muitas vidas”, escreve a BBC. Em causa estão casos como alegações de corrupção contra o governador Bob McDonnell, que foi rejeitado de forma unânime pelo Supremo Tribunal, em 2016.
Mais recentemente, indica a Reuters, voltou a Haia, onde conseguiu a condenação de Salih Mustafa, um antigo comandante do Exército da Libertação do Kosovo que geriu uma prisão onde se registou tortura durante o conflito com a Sérvia. No arranque do julgamento frisou que o seu trabalhado como procurador é a responsabilização individual de crimes. Já aí falou sobre o peso da verdade: “sei que nunca prejudica uma causa que é justa”.
“Tem um currículo inacreditavelmente panorâmico, começando por estar no sistema estatal em Manhattan, até ao sistema internacional”, descreveu o advogado Harry Litman em declarações à MSNBC. Litman destacou a experiência de Jack Smith como líder da unidade de integridade pública, que lidava com casos contra figuras políticas, e o facto de ter “um perfil discreto”. “Não se consegue uma pessoa que combine uma experiência mais vasta e respeitada sem um perfil anterior para atacar”, comentou.
Por sua vez, o antigo procurador federal James McGovern, que foi colega de Smith, considera que “ele foi selecionado especificamente porque representa uma posição apolítica”. Também deu pistas à CBS News sobre a personalidade do procurador especial, dizendo que Smith não gosta de perder e que quando avança com uma acusação é porque está “bastante convencido” de que vai ganhar.