Washington desperta esta terça-feira com lojas entaipadas. Já as havia há meses, mas nos últimos dias aceleraram as operações de proteção de montras, como quem espera ou pelo menos admite que possa vir a haver violência. É uma imagem que se repete dos quarteirões próximos da residência presidencial, e demais edifícios governamentais, a Chinatown ou ao bairro universitário de Georgetown. Não estando prognosticado um furacão, é estranho assistir a tais preparativos para um ato que se tornou ritual nas democracias amadurecidas, como é caso dos Estados Unidos da América.
À volta da Casa Branca, de segunda para terça-feira, funcionários erguiam uma milha (1,6 quilómetros) de “cerca não-escalável” a somar às barreiras que já ali estão há meses. Na véspera, uma ativista antirracista, uma de muitas pessoas que ali se acumulam diariamente, antevia isso mesmo. “Já os vi trazer blocos de betão para aqui. Se não pusessem outra cerca, amanhã escalávamos esta sem dificuldade.” A cerca existente está pejada de cartazes anti-Trump e fotos de negros mortos pela polícia. A União Americana pelas Liberdades Cívicas protestou pelas restrições impostas em cima do dia da votação.
Acontece que as eleições de 2020 se realizam no contexto mais singular das últimas décadas. O ambiente escalda, com o recrudescer da pandemia a alterar a forma de votar, um chefe de Estado a ameaçar não reconhecer os resultados, as milícias supremacistas brancas dispostas a intervir e um passado recente de manifestações antirracistas que incluíram (embora não a maioria) atos de vandalismo.
Eis o guia do Expresso para seguir as eleições: saiba como se vota, como se conta os votos, quando esperar as revelações da noite de terça-feira e ainda tudo quanto torna esta ida às urnas diferente de todas as anteriores.
E atenção: se todos os olhos estão postos na escolha do Presidente, mais de 200 milhões de cidadãos são chamados a decidir mais do que a recondução do republicano Donald Trump ou a sua substituição pelo democrata Joe Biden, vice-presidente entre 2009 e 2017. Esse eleitorado renova também os 435 membros da Câmara dos Representantes, 35 dos 100 senadores, 13 governadores de estados e territórios, 86 das 99 assembleias legislativas estaduais, cargos locais e juízes - para além dos referendos estaduais e municipais. O destino da América depende, mais do que nunca, de todos estes resultados.
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