Eleições no Brasil

Protestos, confrontos com polícia, uma nega a Bolsonaro, um ministro que pressiona e um silêncio que perdura: Brasil está a ferro e fogo

Protestos, confrontos com polícia, uma nega a Bolsonaro, um ministro que pressiona e um silêncio que perdura: Brasil está a ferro e fogo
CAIO GUATELLI

Ministro de Bolsonaro disse que o Presidente não iria contestar resultados, mas anunciou uma reunião com os juízes do Supremo que não aconteceu. Os protestos dos camionistas contra Lula estão a parar fábricas e ameaçam oxigénio dos hospitais. O tribunal deu ordem à polícia para travar protestos, mas esta está sob suspeita. E Bolsonaro continua em silêncio

O ainda Presidente do Brasil não deverá contestar o resultado das eleições, disse à agência Reuters, Fábio Faria, o ministro das Comunicações do Brasil. Fábio Faria disse ainda que o Presidente vai mesmo falar durante o dia desta terça-feira à nação, mas só depois de reunir com os juízes do Supremo Tribunal. Só que os juízes acabaram por recusar uma audiência com o Presidente - o que volta a deixar em suspense o timing da declaração de Bolsonaro e o seu teor. Recorde-se que Bolsonaro está em silêncio há quase dois dias sobre a sua derrota eleitoral.

Apesar de vários dos seus apoiantes, incluindo o líder do seu partido no Senado e de vários dos governadores eleitos com o seu apoio, terem aceite formalmente a vitória de Lula da Silva no domingo, a verdade é que o silêncio do Presidente tem dado gás a vários protestos de camionistas pelo país, com a tensão a subir bastante nas últimas horas.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), já há fábricas de automóveis cuja produção teve de ser interrompida, seja por falta de matérias-primas e componentes, seja pela impossibilidade de os trabalhadores seguirem caminho até às fábricas. Há também alerta para a possibilidade de o oxigénio poder faltar em unidades de saúde em todo o país, deixado esta terça-feira pela Associação Brasileira da Indústria Química:

“As manifestações colocam em risco o transporte de oxigénio líquido medicinal, destinado a clínicas e hospitais, onde é utilizado para a manutenção e preservação da vida de pacientes em Unidades de Cuidados Intensivos e Unidades de Terapia Intensiva em estado crítico, ou que estejam sofrendo de crise respiratória”.

Por tudo isto, os sindicatos de polícias brasileiros consideram que o silêncio do Presidente, Jair Bolsonaro, estimula atos dos camionistas que bloqueiam estradas em todo o país como forma de protesto.

"A postura do atual Presidente da República, Jair Bolsonaro, em manter o silêncio e não reconhecer o resultado das urnas acaba dificultando a pacificação do país, estimulando uma parte de seus seguidores a adotarem ações de bloqueios nas estradas brasileiras", refere um comunicado divulgado nesta terça-feira pela Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF) e os Sindicatos dos Policiais Rodoviários Federais de todo o Brasil.

As organizações que representam polícias do país também reafirmaram "o compromisso com o Estado Democrático de Direito. O resultado das eleições de 2022 expressa a vontade da maioria da população e deve ser respeitado". Segundo o mesmo documento, os polícias estão a trabalhar para o restabelecimento do direito de circulação da população que, desde domingo à noite, tem sido colocado em causa por apoiantes do Presidente brasileiro.

Os camionistas que apoiam o governante brasileiro alegam não reconhecer o resultado das urnas, que deram a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva, e segundo os 'media' locais mantém bloqueadas 267 vias em todo o país.

Os sindicatos frisaram que “compete exclusivamente à gestão do Departamento de Polícia Rodoviária Federal providenciar e disponibilizar os meios e a organização do efetivo necessários para dar cumprimento à desobstrução das rodovias federais.” Acontece que a própria Polícia Rodoviária Federal está sob suspeita de ter tentado beneficiar o Presidente no dia da eleição, realizando uma operação Stop nos estados onde mais apoio havia para Lula da Silva.

O Supremo Tribunal de Justiça acabou por dar ordem esta noite para que a Polícia Rodoviária Federal acabasse com os protestos, ameaçando até prender os responsáveis que não desencadeassem meios para esse efeito.

Entretanto, as tropas de Choque da Polícia Militar de São Paulo estão a ser mobilizadas para por cobro aos protestos que continuam a obstruir dezenas de estradas no estado, avançou já o Estado de São Paulo. As imagens televisivas mostram já confrontos entre os manifestantes e as polícias.

A presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, responsabilizou o chefe de Estado brasileiro e acusou Bolsonaro de orientar "o caos no país".

O chefe de Estado e candidato derrotado, Jair Bolsonaro, ainda não telefonou a Lula da Silva para o felicitar e está há mais de 24 horas sem fazer qualquer declaração pública desde o anúncio do resultado das presidenciais de domingo. Bolsonaro esteve reunido, na segunda-feira, no Palácio do Planalto, com vários ministros, mas até agora ainda não lançou qualquer informação sobre quando falará sobre as eleições presidenciais.

Com 100% dos votos contados, Luiz Inácio Lula da Silva venceu as presidenciais de domingo por uma margem estreita, recebendo 50,9% dos votos, contra 49,1% para Jair Bolsonaro, que procurava obter um novo mandato de quatro anos.

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