A Polícia Rodoviária Federal (PFR) está a ser acusada por eleitores e membros do Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula da Silva, de ter dificultado o voto em zonas tendencialmente pró-Lula, através de ações de fiscalização rodoviária que não estavam previstas, tinham aliás sido proibidas pelo Tribunal Superior Eleitoral precisamente para não atrasar o voto.
As ligações da PRF, e também da Polícia Federal, a Jair Bolsonaro estão documentadas, nomeadamente pelas investigações de Allan de Abreu, jornalista da revista “Piauí” que hoje voltou a publicar provas de que vários membros da PRF já estavam a planear há alguns duas estas ações de inspeção rodoviária em zonas consideradas próximas do PT. Allan de Abreu teve acesso a mensagens de Whatsapp trocadas entre agentes de vários destacamentos nacionais e o que neles se lê é a intenção declarada de não seguir a odem do Tribunal Superior Eleitoral.
Por volta das 12h30, já depois das 16h30 em Portugal, a “Folha de S.Paulo” revelou que, até essa hora, a PRF havia conduzido 514 ações de fiscalização pelo Brasil, 70% a mais do que na primeira volta das eleições, a 2 de outubro. Dessas, 49.5% foram realizadas na região do Nordeste, um reduto de Lula da Silva.
A “Folha” escreveu ainda que o documento interno da corporação no estado do Paraná orientou os polícias a abordarem especificamente os veículos de transporte público. “A fiscalização deverá ser focada nos veículos de transporte de passageiros, com o intuito de prevenir acidentes de trânsito nesse período em que há um incremento de movimentação de passageiros, e de verificar possíveis crimes eleitorais, especialmente transporte irregular de passageiros ou dinheiro”, diz o documento. O intuito de “prevenir acidentes de trânsito” não ocorreu na primeira volta, lê-se na notícia da Folha.
Já perto do fecho das urnas, o “Globo” escreveu que a ação da PRF tinha começado a ser desenhada na noite de 19 de outubro, numa reunião no Palácio da Alvorada, em Brasília. Nesse encontro, de acordo com o “Globo”, esteve presente o núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro e os chefes dos órgãos que auxiliam a Justiça Eleitoral, como Forças Armadas, Polícia Federal e PRF, combinaram em instruir os seus agentes a ficarem atentos para o “transporte irregular de eleitores”, sobretudo no Nordeste. Isto quando o Tribunal Superior Eleitoral emitiu uma ordem específica para que estas fiscalizações rotineiras não acontecessem este domingo.
As ligações entre a PRF e as cúpulas bolsonaristas, caso não fossem óbvias ainda, assim se tornaram depois de o próprio diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, ter apelado ao voto em Jair Bolsonaro numa publicação colocada na rede social Instagram dia 29, ontem. Menos de 24 horas depois, já este domingo, a fotografia, uma bandeira do Brasil, acompanhada do texto "Vote 22. Bolsonaro Presidente", desapareceu. Este apoio público seguiu-se ao pedido do PT para que o Tribunal Superior Eleitoral adotasse providências para impedir uma possível atuação da PRF em favor da campanha de Bolsonaro - coisa que, como acima referido, de facto fez.
Já depois do fecho das urnas, o “Estadão” escreveu que Silvinei Vasques tinha cehgado ao Palácio da Alvorada para um encontro com Jair Bolsonaro num carro descaracterizado.
Vasques fez-se acompanhar do ministro da Justiça, Anderson Torres, e do diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes de Oliveira.
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