Bolsonaro voltou ao Brasil: que vão fazer os seus seguidores e a justiça?
Jair Bolsonaro
STRINGER
Saiu do Brasil como Presidente da República e regressa três meses depois como cidadão comum e sem imunidade. O caso das joias oferecidas pela Arábia Saudita e pelo Catar quando era chefe de Estado pode ser o gatilho para a condenação, mas as acusações contra Jair Bolsonaro são muitas, bem como as perguntas sobre o que os bolsonaristas irão fazer. À volta do aeroporto de Brasília montou-se um grande dispositivo de segurança para evitar uma aglomeração de apoiantes
Saiu do Brasil do Brasil num avião pago pelo Estado brasileiro, a 30 de dezembro do ano passado, para evitar cumprir o cerimonial que lhe competia na posse do seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Voltou esta quinta-feira como cidadão comum — sem imunidade judicial —, no voo 7601 da Gol, que partiu de Orlando (no estado norte-americano da Florida).
O regresso do ex-Presidente Jair Bolsonaro obrigou as autoridades a montarem um grande dispositivo de segurança nos acessos ao aeroporto de Brasília, para evitar uma grande aglomeração de apoiantes e possíveis desacatos. Havia centenas de apoiantes à espera, mas não se tratou de um banho de multidão.
Segundo o site Poder 360, Bolsonaro saiu do aeroporto “direto para a sede do Partido Liberal, no Complexo Brasil 21, na região central de Brasília”. A sua mulher, Michelle, chegou ao Brasil em fevereiro para alugar a nova casa da família, no “condomínio Solar 2, no Jardim Botânico”.
Bolsonaro passou três meses nos Estados Unidos (parte deles com visto de turista) e restam dúvidas sobre a sua participação direta ou indireta no ataque que vandalizou as sedes dos três órgãos do poder (executivo, legislativo e judiciário) a 8 de janeiro, em Brasília.
Militar com carreira parlamentar, representante do ‘baixo clero’ da política brasileira, demagógica e negacionista da covid-19, foi um dos presidentes mais polémicos da República brasileira. A faceta populista garantiu-lhe 49,1% dos votos na segunda volta das eleições presidenciais, em outubro de 2022, às quais se recandidatou pelo Partido Liberal.
Jair Bolsonaro num encontro de apoiantes de Donald Trump em Miami, Florida
Se Lula da Silva não tivesse adoecido com uma pneumonia, estaria esta quinta-feira em visita de Estado à China. A doença adiou a viagem, o que pode condicionar a reação dos apoiantes do Bolsonaro. A Polícia Rodoviária Federal informou esta quarta-feira que detetou uma “movimentação” de veículos e autocarros em direção a Brasília.
Para evitar desacatos, a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal bloqueou o acesso à praça que foi palco do ataque de 8 de janeiro.
Quando aterrou em Brasília, o ex-chefe de Estado não foi simpático com a imprensa e outros órgãos de comunicação. “Antes de passar pelo raio-X, Bolsonaro já havia dito à ‘Folha’ [de São Paulo] que não queria conversa, tampouco com um repórter do jornal ‘O Globo’ que também o aguardava. ‘Vocês falaram muito de mim, agora, nas eleições’, justificou.”
O vídeo na rede social Twitter, que pode ver acima, informa sobre as queixas do ex-Presidente em matéria de segurança. Bolsonaro afirma que tinha direito a dois veículos blindados e que lhe deram dois carros comuns quando aterrou em Brasília, 89 dias depois de ter abandonado o país de forma inusitada.
Discurso anti-Lula
Na sede do Partido Liberal, para onde se deslocou depois de sair do aeroporto, elogiou o atual Parlamento e criticou Lula da Silva: “Eu lembro lá atrás quando alguém criticava o Parlamento, Ulysses Guimarães dizia: ‘Espera o próximo’. Dessa vez, o próximo melhorou e muito. O Parlamento nos orgulhando pelas medidas, pela forma de se comportar, agir lá dentro, fazendo o que tem que ser feito e mostrando para esse pessoal que, por ora, pouco tempo, está no poder, eles não vão fazer o que bem querem com o destino da nossa nação”, disse Bolsonaro.
O ex-Presidente recorreu ao elogio do Congresso brasileiro para criticar o atual chefe de Estado: “Não vão permitir que o Governo Lula faça o que bem entender com o destino da nossa nação”.
O Executivo não reagiu publicamente ao regresso de Bolsonaro. Mais ou menos à mesma hora que este aterrava em Brasília, Lula da Silva dava conta, no Twitter, da reunião de trabalho que estava a ter com a ministra Simone Tebet.
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