Independentista William Lai vence presidenciais em Taiwan e saúda “novo capítulo na democracia”
William Lai
Annabelle Chih/Getty Images
“Entre a democracia e o autoritarismo, estaremos do lado da democracia”, disse no discurso de vitória. E acrescentou: “O povo de Taiwan resistiu com sucesso aos esforços de forças externas para influenciar estas eleições”. Presidente eleito é considerado pela China um “sério perigo” devido às suas posições pró-independência
O candidato pró-independência do Partido Democrático Progressista (DPP) ganhou as eleições presidenciais deste sábado em Taiwan.
William Lai, que é o atual vice-presidente e é considerado pela China um “sério perigo” devido às suas posições pró-independência, substituirá assim a Presidente Tsai Ing-wen, que já cumpriu o limite de dois mandatos.
Segundo os resultados oficiais provisórios correspondentes a 98% do apuramento, Lai obteve 40,2% dos votos.
Comício do vice-presidente William Lai, que encabeça as sondagens para as eleições de 13 de janeiro
No discurso de vitória, Lai agradeceu aos eleitores por “terem escrito um novo capítulo na democracia” de Taiwan. “Estamos a dizer à comunidade internacional que, entre a democracia e o autoritarismo, estaremos do lado da democracia”, acrescentou. E, numa referência velada à China, atirou: “O povo de Taiwan resistiu com sucesso aos esforços de forças externas para influenciar estas eleições”.
Apenas a população do território “tem o direito de escolher o seu Presidente”, insistiu, prometendo – agora diretamente – “proteger Taiwan das contínuas ameaças e intimidações da China”, mas também “manter o intercâmbio e a cooperação” com Pequim.
O seu principal adversário, Hou Yu-ih, candidato do Kuomintang (KMT), que defende a aproximação com Pequim, obteve 33% dos votos e já admitiu a derrota, pedindo “desculpa” por ter “desiludido” os seus apoiantes. “Felicito Lai e Hsiao, mas espero que não desiludam os eleitores”, disse, referindo-se ao novo Presidente e à candidata do DPP à vice-presidência, Hsiao Bi-khim.
O terceiro candidato, Ko Wen-je, do pequeno Partido Popular de Taiwan (TPP) e que se apresenta como antissistema, surge em terceiro lugar, com 26% e também já reconheceu a derrota.
Partido do Presidente eleito perde maioria no Parlamento
Os taiwaneses também votaram para a renovação dos 113 assentos no Parlamento, onde o DPP perdeu a maioria de que dispunha. Numa altura em que ainda decorre a contagem dos votos, o partido no poder não deverá ir além dos 51 assentos, o KMT conseguirá 52 e o TPP oito.
O Presidente eleito reconhece que os resultados para o órgão legislativo não são os ideias para o seu partido, sinalizando a necessidade de um maior diálogo com a oposição.
Diplomata Chang Tsu-che, representante de Taiwan em Portugal
Durante toda a semana, Pequim aumentou a sua pressão diplomática e militar. Na quinta-feira, cinco balões chineses cruzaram a linha mediana que separa a ilha autónoma da China, segundo o Ministério da Defesa de Taiwan, que também avistou dez aviões e seis navios de guerra.
No sábado, jornalistas da agência France-Presse observaram um avião de combate chinês sobre a cidade de Pingtan, a mais próxima de Taiwan, e na rede social chinesa Weibo, a hashtag “Eleições em Taiwan” foi bloqueada pela manhã.
Pequim apelou para que os eleitores fizessem “a escolha certa” e o Exército chinês prometeu “esmagar” qualquer desejo de independência.
O estatuto de Taiwan é um dos assuntos mais tensos na rivalidade entre a China e os Estados Unidos, o principal aliado militar do território, e Washington planeia enviar uma “delegação informal” à ilha após a votação.
Taiwan age já como uma entidade política soberana, com Exército e diplomacia próprios, apesar de não ser formalmente independente.
A China considera Taiwan uma das suas províncias, que ainda não conseguiu reunificar com o resto do seu território desde o fim da guerra civil chinesa, em 1949.
Pequim diz ser a favor de uma reunificação pacífica com a ilha, onde os cerca de 23 milhões de habitantes são governados por um sistema democrático, mas nunca renunciou ao uso da força militar.